16 de dezembro de 2024 Doar
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Cardeal Mahony ataca seus irmãos bispos dos EUA em entrevista a Vatican News

Cardeal Roger Mahony | Flickr Arquidiocese de Boston (CC BY-ND 2.0)

Em uma entrevista publicada pelo Vatican News, antes da votação na assembleia do episcopado dos EUA sobre o documento "O Mistério da Eucaristia na Vida da Igreja", o cardeal Roger Mahony, arcebispo emérito de Los Angeles, disse que o texto é "totalmente desnecessário" porque em sua opinião "sua intenção é perseguir e punir os legisladores católicos". Em junho, os bispos votaram majoritariamente a favor da redação do documento por 174 votos a 55. Ainda não está claro se o documento vai fazer recomendações diretas sobre a atitude a ser tomada em relação a políticos católicos, como o presidente Joe Biden, que trabalham em favor do aborto.

Na entrevista ao meio de comunicação oficial do Vaticano, o cardeal Mahony diz que não é possível exigir que os políticos católicos sejam coerentes com sua fé católica. "Em primeiro lugar, somos uma república democrática. O caminho do nosso país é o da separação entre Igreja e Estado. Portanto, é uma posição muito difícil para os políticos católicos, que são pressionados por alguns na Igreja a tomar todas as suas decisões com base na Doutrina Social da Igreja".

A entrevista é assinada pela freira americana irmã Bernadette M. Reis, que passou alguns anos pesquisando "vários temas de mulheres". O título dado à entrevista é: "O cardeal Mahony exorta os bispos dos EUA a seguir o 'caminho do diálogo construtivo'". O que Mahoney faz é uma forte crítica a seus irmãos bispos, a quem acusa por não terem uma atitude de "diálogo construtivo".

"Se realmente tivesse havido um diálogo honesto entre nós e se tivéssemos entendido as posições uns dos outros para depois agir como uma comunhão de bispos com a nossa unidade, poderíamos ter encontrado um caminho a seguir. Acho que teríamos decidido que não precisamos deste documento", disse o cardeal de 85 anos na entrevista.

"Acho que o documento que temos vai ser aprovado justamente quando chegamos às festas de fim de ano. Ninguém vai lê-lo, não é algo que possa ser colocado na forma de um panfleto de documento de ensino. Nunca terá nenhum impacto porque, justo depois das festas, vamos entrar no renascimento eucarístico, que é o que deveríamos estar fazendo em primeiro lugar".

Na entrevista, o cardeal também elogiou a carta de 60 democratas católicos pró-aborto de junho deste ano, na qual pedem o direito de receber a comunhão, apesar de sua oposição a uma doutrina católica essencial.

A carta tinha como líder a representante por Connecticut Rosa DeLauro, quem apoiou o financiamento do aborto com impostos e que foi uma férrea defensora da "Lei de proteção da saúde das mulheres", que foi aprovada pela Câmara dos Representantes com os votos dos assinantes da carta.

A lei, que enfraquece no Senado, eliminaria algumas das limitações ao aborto nos Estados Unidos.

A carta dos democratas foi criticada por vários bispos e líderes católicos. "Estamos dispostos a nos aproximar. Mas se proteger a vida de um bebê que luta para respirar, depois de sobreviver a um ataque brutal, é uma ponte longe demais para os políticos pró-aborto, então eu pergunto novamente, sobre o que estamos dialogando?", escreveu dom Robert Barron, bispo auxiliar de Los Angeles.

O arcebispo de Denver, dom Samuel Aquila, disse que "em vez de aceitar sua própria responsabilidade para entender e seguir os ensinamentos da Igreja, são esses políticos que estão 'usando a Eucaristia como arma', insistindo que estão bem, apesar do fato de que cometem publicamente pecados graves e continuam recebendo a comunhão".

Na entrevista, o cardeal Mahony afirma que ficou "fascinado" pela carta dos democratas.

"Eu li duas ou três vezes e disse: 'Isso somos nós! Esta é a igreja!'. Eles querem colaborar conosco de muitas formas e nos deram uma lista completa de maneiras como isso pode ser feito, começando por reduzir todo o possível a necessidade do aborto e a ocorrência do aborto. Quando li isso, disse, 'este é o caminho para o diálogo construtivo. Eles querem nos ajudar em sua regra a fazer o que queremos fazer. E isso é ótimo!'. E assim, isso me levou a querer fazer uma declaração aberta aos meus irmãos bispos, porque ninguém ouviu isso e é precisamente no diálogo construtivo que o papa Francisco insiste".

Apesar da manchete da entrevista, o cardeal Mahony não faz um chamado ao "diálogo" com seus irmãos bispos. Em vez disso, ele termina dizendo: "Para ser honesto com você, não vejo que vá acontecer nada com este documento ou na próxima semana em Washington, D.C., que gere esta unidade. Acho que isso é o que vai acontecer se aprovarmos isso. Espero que aceitemos o oferecimento dos membros católicos do congresso e sigamos adiante com eles depois das festas, com este novo renascimento eucarístico. E esses elementos trarão a unidade e comunhão que tanto queremos".

O cardeal Mahony não tem um bom histórico nos assuntos relacionados com a Eucaristia. Em setembro de 1997, o então arcebispo de Los Angeles publicou uma carta pastoral intitulada "Reunir-se fielmente juntos: Um guia para a missa dominical, carta pastoral sobre a liturgia".

O documento de 31 páginas em inglês imediatamente gerou polêmica nos Estados Unidos, basicamente por sua linguagem confusa e sua incapacidade de transmitir uma mensagem clara sobre o papel do povo de Deus, o celebrante, e a presença real de Jesus na Eucaristia.

A carta provocou um vaivém de defesas e críticas ao cardeal Mahony nos meios católicos. O servo de Deus, padre John Hardon SJ, resumiu a essência da carta pastoral escrevendo:

"De fato, o foco central da carta pastoral está no corpo de Cristo, mas no Corpo Místico de Cristo, que é a Igreja. Profeticamente, o falecido papa Pio XII antecipou os mal-entendidos ao associar, a ponto de identificá-los, a Sagrada Eucaristia com o Corpo Místico de Cristo. Dada a repercussão de 'Reunir-se fielmente juntos', é impossível dar aqui uma análise completa de sua orientação teológica. No entanto, uma coisa é possível dizer: esta carta pastoral é confusa".

Ao chegar à idade de aposentadoria de 75 anos em 2011, o cardeal Mahony renunciou e foi substituído pelo primeiro hispânico a se tornar arcebispo de Los Angeles, dom José Gomez, que atualmente é o presidente da Conferência dos Bispos Católicos dos EUA (USCCB na sigla em inglês).

Em 1988, o cardeal Mahony adotou uma política de tolerância zero para o abuso sexual e temporariamente se tornou um herói para as vítimas de abuso quando fez com que uma dúzia de padres do sul da Califórnia deixassem a Igreja devido ao abuso sexual, cumprindo as promessas da Igreja em um acordo de 2001.

No entanto, uma investigação publicada por Los Angeles Times revelou que o ex-arcebispo de Los Angeles e seu então vigário para o clero conspiraram sistematicamente para encobrir da polícia o abuso sexual cometido por padres contra crianças.

Segundo a investigação, "em memorandos escritos para Mahony em 1986 e 1987 que continham informações pessoais de 14 padres e que foram apresentados neste mês como prova em um julgamento, seu principal advogado em casos de abusos sexuais propunha estratégias para evitar que a polícia investigasse três padres que haviam admitido diante de oficiais da Igreja que haviam abusado de jovens".

Como consequência do escândalo e dos protestos em massa na St. Charles Borromeo Catholic Church em North Hollywood, onde o cardeal morava, o arcebispo de Los Angeles, dom José Gomez, o exonerou das funções que tinha até então.

"Hoje precisamos reconhecer essa falha terrível. Precisamos rezar por todos os feridos por membros da Igreja", disse o arcebispo em um comunicado em 31 de janeiro de 2013.

"E precisamos continuar apoiando o longo e doloroso processo de cura de suas feridas e restaurar a confiança que foi quebrada". O arcebispo Gomez destacou que "imediatamente informei ao cardeal Mahony", que serviu à arquidiocese entre 1985 e 2011, "que já não terá qualquer função administrativa ou pública".

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"A conduta descrita nesses arquivos (publicados pelo LA Times) é terrivelmente triste e má. Não há desculpa, não há explicação para o que aconteceu a esses menores. Os padres envolvidos tinham o dever de ser seus pais espirituais e eles falharam".

"Ler estes arquivos, refletir sobre as feridas que foram causadas, foi a experiência mais triste que tive desde que me tornei seu arcebispo em 2011", escreveu dom Gomez.

A reputação de ter um papel principal no encobrimento do abuso sexual de crianças acompanhou o cardeal Mahony desde então.

Em 2013, um grupo de católicos de Los Angeles coletou milhares de assinaturas pedindo que o cardeal Mahony não participasse do conclave que elegeu o papa Francisco. O cardeal Mahony acabou participando da eleição.

Em fevereiro de 2018, o papa Francisco nomeou o cardeal Mahony como seu enviado especial para as celebrações do 150º aniversário da diocese de Scranton, no estado da Pensilvânia. O protesto local contra sua visita obrigou o cardeal a cancelar sua participação.

Em agosto do mesmo ano, o cardeal Mahony também foi forçado a se retirar como orador principal em um jantar anual para arrecadação de fundos em Utah, depois que centenas de católicos locais protestaram contra sua presença.

Entre os deveres públicos dos quais o cardeal Mahony deve se abster estão as entrevistas, como a publicada por Vatican News.

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