18 de dezembro de 2024 Doar
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Apesar do perigo, padre atende refugiados perseguidos por muçulmanos na Nigéria

Charles, pai de família refugiada em Pulka, Nigéria. Crédito: Ajuda à Igreja que Sofre

O padre católico da diocese de Maiduguri, Nigéria, padre Christopher, leva ajuda aos refugiados de Pulka no estado de Borno, apesar dos perigos de viajar para a pequena cidade.

O padre Christopher disse à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) que as pessoas deslocadas pelo Boko Haram no norte da Nigéria são forçadas a viver como refugiadas em tendas espalhadas em Pulka, onde ainda enfrentam o perigo de ataques.

Na entrevista de segunda-feira, 13 de dezembro, o padre destacou que corre riscos sempre que vai ao pequeno povoado para servir as pessoas que precisam de ajuda.

"Os ataques são contínuos e algumas pessoas morrem. Não é nada fácil e também não é fácil chegar lá. Ir e vir é sempre um risco, mas para mim é importante fazer o possível para ajudar essas pessoas", destacou.

ACN informou que o padre está tentando superar as dificuldades no atendimento aos refugiados que vivem na cidade, perto da fronteira com Camarões. O padre Christopher "mora em uma casa abandonada, já que o Boko Haram destruiu a igreja e a casa paroquial em Pulka em 2014".

Segundo a fundação, muitas das vítimas do Boko Haram vivem como refugiadas em seu próprio país, e que, embora "o perigo não tenha passado", a Igreja continua "oferecendo consolo e esperança" aos refugiados.

Naomi, uma nigeriana que viu o assassinato de sua mãe há alguns anos, contou sua história à ACN. A imagem da brutalidade do Boko Haram ainda está fresca em sua mente e faz com que tenha pesadelos.

"Eu não quero que haja noite. Gostaria que sempre fosse dia. Minhas noites estão cheias de medo, ansiedade, pesadelos", disse a mulher.

Naomi disse que os terroristas invadiram sua cidade, forçando-a a "se casar" com um membro do Boko Haram ou testemunhar um dos insurgentes extremistas assassinando alguém de sua família.

Segundo a fundação, Naomi é apenas uma entre os mais de 30 mil nigerianos deslocados em Pulka, como é o caso de Charles, um homem de 33 anos e pai de quatro filhos, que também afirma ter pesadelos recorrentes.

O refugiado disse à ACN que muitas vezes revive o tempo em que estiveram escondidos. "Como os terroristas costumavam atacar à noite, saíamos da aldeia assim que a noite começava e nos escondíamos no matagal. Muitas noites ainda sonho que estou escondido".

A ACN informou que Charles e Naomi vivem agora em um dos 20 campos de refugiados no Estado nigeriano de Borno. O padre Christopher disse que os ataques do Boko Haram mudaram suas vidas completamente.

Os muçulmanos são maioria no estado de Borno, mas Naomi e Charles são cristãos. "Sem a fé, muitas pessoas não teriam sido capazes de suportar tanto sofrimento", disse.

O padre explicou que os terroristas primeiro tentam assustar e ameaçar os cristãos, tentando forçá-los a se converter. Quando fracassam, se tornam mais violentos.

"Os padres tiveram que se esconder nas montanhas, mas os insurgentes do Boko Haram continuaram assediando e perseguindo o povo", lamentou. "Com o tempo, a situação ficou tão difícil que entre 2015 e 2016 muitas pessoas decidiram arrumar suas coisas e sair do país, atravessando a fronteira em busca de refúgio em Camarões".

Naomi contou que fugiu para Camarões e deixou tudo para trás, uma decisão que não foi fácil.

"Nossos pés estavam inchados e com bolhas, e isso foi muito difícil para nós. Minha irmã foi capturada pelo Boko Haram, mas ela tinha um bebê nos braços e essa foi a única razão pela qual a deixaram ir. Acontece que não era seu bebê, ela estava apenas segurando-o em seus braços no momento, mas salvou sua vida. Muitas outras pessoas, como minha mãe, foram mortas", lamentou.

Charles disse que a situação na Nigéria ainda é muito precária e explicou que "fomos refugiados em Camarões, depois retornamos e estamos morando aqui há dois anos, mas a situação ainda é insegura".

"Estamos de novo morando no nosso próprio país, na nossa própria área, no nosso querido Pulka, mas vivemos como refugiados. Estamos mais perto de casa do que quando vivíamos em Camarões, mas de novo vivemos no perigo", destacou.

Por sua vez, Naomi disse que o padre Christopher estava trabalhando abnegadamente para restaurar a esperança entre os refugiados que perderam tudo por causa dos ataques do Boko Haram.

"A vida em Camarões era tão difícil que pensamos que nunca mais teríamos esperança", lamentou. "O padre Christopher é uma fonte de inspiração para nós. Quando estamos deprimidos, ele nos dá coragem. Ele é um verdadeiro pai para todos nós e está tentando preencher os vazios nas nossas vidas que deixaram nossos familiares desaparecidos, porque muitos deles foram assassinados. Cuida-nos como se fôssemos de sua própria família", acrescentou.

Naomi disse que Deus os ajuda e agradeceu "a tantas pessoas em todo o mundo que não esqueceram de nós. Rezamos para que Deus possa dar força a todos os benfeitores".

A refugiada acrescentou que o Natal é um momento particularmente difícil para a comunidade católica em Pulka.

"Antes da crise, o Natal era uma época de grande alegria, porque nossos parentes costumavam vir de muito longe para celebrar junto conosco. Quando começaram os ataques, o Natal deixou de ser o que era antes; não podíamos cantar músicas natalinas na comunidade nem visitar as casas de outras pessoas; nem mesmo podíamos sair de nossas casas à noite. A situação era tão perigosa que o Natal deixou de ser uma festa e não podíamos o celebrar", lamentou.

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Charles acrescentou que "celebrar o Natal é difícil em nossa situação. A maioria de nós que vivemos em Pulka perdeu tudo".

"O Evangelho me dá forças para enfrentar todo esse sofrimento e suportar tudo o que enfrentamos todos os dias. Jesus Cristo previu o sofrimento pelo qual estamos passando. O sofrimento faz parte de ser cristão. Nossas vidas estão em suas mãos. Enche-me de esperança quando me lembro das palavras de Jesus, de que ele nos recompensará no final de nossas vidas. Jesus Cristo é a minha salvação e é isso que eu celebro no Natal", comentou.

Naomi disse que neste Natal o que os refugiados mais precisam são produtos básicos como alimentos e remédios.

"O que mais precisamos aqui é comida, barracas e roupas. Estamos até vendo alguns casos de cólera agora e não temos para onde ir para tratamento médico. Também seria um presente receber ajuda em nossos estudos acadêmicos; alguns de nós éramos estudantes antes dos ataques extremistas e tivemos que renunciar porque não tínhamos dinheiro para continuar", comentou.

O padre Christopher diz que a situação dos refugiados em Pulka "é bela e dolorosa ao mesmo tempo".

"Eles perderam suas casas; perderam muitos entes queridos, mas vivem a virtude da esperança e celebram a vida. Eles confiam na Igreja, porque é ela quem escuta as suas súplicas e sempre se esforça por secar as suas lágrimas", acrescentou.

O padre espera que até o Natal muitas pessoas sintam o desejo de ajudar os refugiados de Pulka e que estes recuperem a saúde física, espiritual e mental.

"Anseiam a paz em suas vidas, que a paz volte para suas casas. Nosso desejo é muito simples; queremos apenas ter uma vida normal e voltar à vida que tínhamos antes", destacou.

ACN informou que estão buscando doações para apoiar uma variedade de projetos em favor dos refugiados de Pulka, que inclui cerca de 14 mil católicos.

Os projetos previstos da ACN consistem num poço de abastecimento de água aos refugiados, na reconstrução da casa paroquial de St. Paul em Pulka para que o padre Christopher possa voltar a morar lá, e ajuda a 23 catequistas que trabalham entre os refugiados de Pulka, tanto na Nigéria como nos Camarões.

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