PARIS, Jan 5, 2022 / 15:00 pm
Fiéis ligados à missa tradicional estão se mobilizando para convencer o papa Francisco a moderar as restrições ao uso da liturgia romana pré-Vaticano II decorrentes do motu proprio Traditionis custodes, de julho passado.
Considerando que o documento papal resulta de uma percepção errada sobre as comunidades tradicionais pela hierarquia da Igreja, fiéis franceses formaram a associação La Voie Romaine (A via romana), para recolher cartas nas quais fiéis de toda a França e de outros países expressem sua preocupação e deem testemunho das razões de seu apego aos ritos tradicionais.
As petições serão então levadas à Santa Sé numa marcha que sairá de Paris no dia 6 de março. A chegada a Roma está prevista para o dia 1º de maio, primeiro dia do mês mariano.
A procissão será liderada por um grupo de mães de sacerdotes preocupadas com o futuro de seus filhos ordenados para celebrar a missa segundo o rito antigo.
"Essas mães estavam dispostas a agir e ir a Roma, então propusemos que levassem as cartas ao Vaticano", disse Benoît Sévillia, fundador de La Voie Romaine, ao jornal National Catholic Register, do grupo EWTN a que pertence ACI Digital. "Elas levarão nossos testemunhos com a sensibilidade muito direta que o coração de uma mãe pode ter", acrescentou.
A determinação da associação em fazer ouvir a sua voz foi reforçada pela recente publicação de um documento da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, que aumenta as restrições do papa à missa tradicional, tornando-a uma exceção na vida da Igreja.
Em um comunicado de 19 de dezembro, os membros da associação católica alegaram que os "termos de aplicação muito estritos" de Traditionis custodes adotados pela congregação deixaram-nos "sem palavras". "As muitas cartas que já estávamos recebendo de católicos que se sentem magoados com a decisão do papa Francisco de restringir drasticamente a celebração da missa e, a partir de agora, proibir a celebração dos sacramentos segundo o rito tridentino, devem se multiplicar", dizia o comunicado.
Os organizadores informaram ao Register que o prazo para envio de cartas, originalmente previsto para 31 de dezembro, será estendido até a véspera do início da marcha. Eles também enfatizaram que qualquer pessoa que queira defender a missa tridentina, mesmo quem não a assiste regularmente, pode enviar uma carta ao papa através do site em francês de La Voie Romaine, que em breve estará disponível em inglês e italiano. As cartas também podem ser enviadas pelo correio ou através de padres das paróquias. A marcha é aberta a todos. Até o momento, já chegaram cartas e inscrições para a marcha de vários países, como EUA, Portugal e México.
"O objetivo é que o Papa perceba que o coração da Igreja também bate por meio desses cristãos, especialmente em países como a França", disse Sévillia. Para ele, se o papa continuar com restrições à liturgia tradicional, "ele arrisca mergulhar milhares de cristãos em grande desespero e confusão, porque um certo número deles teria o acesso à Igreja negado de um dia para o outro".
"Esperamos que Roma se dê conta disso, pois talvez não meçam a magnitude do terremoto que isso gera, principalmente entre os jovens, que estão muito apegados a todo esse mundo tradicional", disse.
Para Sévillia, o atual impasse se deve, em parte, à falta de conhecimento dentro da Cùria Romana sobre as comunidades tradicionais. Esse desconhecimento foi agravado pelo feedback negativo dado por alguns bispos na pesquisa de 2020 sobre a aplicação da carta apostólica Summorum pontificum do Papa Bento XVI que liberou o uso da liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II. Assim, disse ele, a iniciativa representa uma ocasião para fazer com que os fiéis possam relatar diretamente sua experiência pessoal.
Sobre o possível apoio público de líderes católicos, Sévillia disse que, embora nenhum bispo tenha ainda expressado apoio oficial, à associação, ele recebeu muitas expressões privadas de simpatia do clero. Ele informou que está sendo produzido um documentário que inclui testemunhos de padres, mas também o apoio inesperado de bispos, padres e líderes de associações católicas.
"Surpreendentemente, a maioria das cartas que recebemos em nossa marcha não é de cristãos tradicionais, mas de outros cristãos que desejam testemunhar seu apego a esse rito", continuou ele.
"Somos censurados por sermos militantes ou por sermos uma Igreja paralela, mas pelas cartas que recebemos fica bem claro que é a fé que anima todas essas pessoas. Eles dizem: 'Devemos tudo a esta missa', 'eu me reconectei com o Senhor', 'chorei quando redescobri minha fé aos 45 anos de idade durante uma missa tridentina', e assim por diante".
"Todos esses cristãos estão totalmente comprometidos com sua missão", concluiu. "Não estão de forma alguma no seu cantinho, eles são as veias da Igreja, contribuem para fazer a Igreja viver e é esta realidade que queremos levar a Roma".
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