5 de dezembro de 2024 Doar
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Velhos têm a responsabilidade de denunciar a corrupção humana, diz o papa

Papa Francisco na Audiência Geral | Daniel Ibáñez (ACI)

"Lanço um apelo, hoje, a todas as pessoas que têm uma certa idade, para não dizer velhos. Estejam atentos: vocês têm a responsabilidade de denunciar a corrupção humana na qual se vive e na qual vai em frente este modo de viver de relativismo, totalmente relativo, como se tudo fosse lícito", disse o papa Francisco na Audiência Geral de hoje (16). "O mundo precisa, tem necessidade de jovens fortes, que vão em frente, e de idosos sábios. Peçamos ao Senhor a graça da sabedoria", disse o papa.

Em sua catequese dedicada à "ancianidade, como recurso para a juventude despreocupada", o papa falou sobre o perigo do "otimismo de uma juventude eterna" e de viver na nossa imaginação que "parece cada vez mais centrada na representação de uma catástrofe final que nos extinguirá" como o que acontece com "uma eventual guerra atômica".

"Estamos sob pressão, expostos a tensões opostas que nos deixam confusos. Por um lado, temos o otimismo de uma juventude eterna, aceso pelo extraordinário progresso da tecnologia, que pinta um futuro cheio de máquinas mais eficientes e inteligentes do que nós, que curarão os nossos males e pensarão nas melhores soluções para não morrermos, o mundo dos robôs", destacou.

"A nossa imaginação parece cada vez mais centrada na representação de uma catástrofe final que nos extinguirá", disse o papa. "O que acontece como uma eventual guerra atômica! No dia seguinte, se ainda houver dias e seres humanos, teremos de começar do zero. Destruir tudo para começar do zero".

Refletindo sobre a passagem bíblica do dilúvio universal em que o Senhor pede a Noé que construa uma arca, o papa advertiu para o perigo de ver tudo de modo negativo: Não acontece por vezes também a nós – esmagados por um sentimento de impotência contra o mal ou desmoralizado pelos 'profetas de desventura' - pensar que era melhor não ter nascido? Devemos dar crédito a certas teorias recentes que denunciam a espécie humana como um dano evolutivo para a vida no nosso planeta? Tudo negativo? Não".

"Não quero banalizar o tema do progresso, é claro. Mas, parece que o símbolo do dilúvio está ganhando terreno no nosso inconsciente. De resto, a atual pandemia coloca uma não insignificante hipoteca sobre a nossa representação despreocupada das coisas que importam, para a vida e o seu destino", disse o papa.

Francisco descreveu que "na passagem bíblica, quando se trata de salvar a vida da terra da corrupção e do dilúvio, Deus confia a tarefa à fidelidade do mais velho de todos, o 'justo" Noé'" e perguntou: "A velhice salvará o mundo? Em que sentido? E como a velhice salvará o mundo? E qual é o horizonte? Vida após a morte ou apenas sobrevivência até o dilúvio?"

O papa Francisco também disse que "Jesus destaca o fato de que quando os seres humanos se limitam a desfrutar da vida, perdem até a percepção da corrupção, que mata a sua dignidade e envenena o seu significado".

"Quando se perde a percepção da corrupção e a corrupção se torna algo normal: tudo tem o seu preço, se compra e se vende, opiniões, ato de justiça. No mundo dos negócios, no mundo profissional isto é comum. E se vive despreocupadamente esta corrupção como se fizesse parte da normalidade do bem-estar humano", lamentou.

Francisco disse que "a corrupção pode se tornar normal" quando alguém pensa: "Eu estou bem. Por que devo pensar nos problemas, nas guerras, nas misérias humanas, na pobreza, na maldade? Não eu estou bem. Não me importa dos outros." e acrescentou "este é o pensamento inconsciente que nos leva adiante a viver num estado de corrupção".

"A corrupção pode se tornar uma normalidade? Infelizmente sim. E possível respirar o ar da corrupção como se respira o oxigênio. É normal", disse.

Desta forma, o papa explicou que "a velhice está na posição adequada para compreender o engano desta normalização de uma vida obcecada pelo prazer e vazia de interioridade: vida sem pensamento, sem sacrifício, sem interioridade, sem beleza, sem verdade, sem justiça, sem amor. Isso é corrupção, tudo."

"A sensibilidade especial dos idosos às atenções, pensamentos e afetos que nos tornam humanos deve voltar a ser uma vocação para muitos. E será uma escolha de amor dos idosos para com as novas gerações. Seremos nós que daremos o alarme, o alerta, estejam cientes de que isso é uma corrupção que não leva a lugar algum. A sabedoria dos mais velhos é necessária para combater a corrupção", disse o papa.

No final de sua catequese em italiano, Francisco disse que "as novas gerações esperam de nós, idosos, de nós anciãos uma palavra que seja profecia, que abra as portas a novas perspectivas fora deste mundo despreocupado da corrupção, do hábito às coisas corruptas".

"A bênção de Deus escolhe a velhice para este carisma tão humano e humanizador. Que sentido tem a minha velhice? Cada um de nós idosos podemos perguntar. Nós idosos devemos ser profetas contra a corrupção, como Noé foi o profeta contra a corrupção do seu tempo, pois foi o único em quem Deus confiou. Pergunto a todos vocês – e também a mim: o meu coração está aberto a ser profeta contra a corrupção de hoje?

Oração para pedir perdão pela guerra

Antes de terminar a audiência geral de hoje (16), o papa recordou a guerra na Ucrânia e pediu aos numerosos fiéis reunidos na Sala Paulo VI que rezassem juntos uma oração.

"Queridos irmãos e irmãs, na dor por esta guerra, façamos uma oração juntos, pedindo ao Senhor o perdão e pedindo a paz", disse Francisco.

Por fim, Francisco disse que "neste tempo de Quaresma, também neste doloroso tempo de guerra, convido-os a olhar para Cristo e d'Ele buscar forças para um compromisso fiel com a vida cristã".

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