Vaticano, Mar 25, 2022 / 15:48 pm
O papa Francisco consagrou a Rússia e a Ucrânia ao Imaculado Coração de Maria em 25 de março, em um ato histórico repetido pelo cardeal Konrad Krajewski no Santuário de Fátima, Portugal e ao qual se uniram os bispos e fiéis dos cinco continentes.
O ato, que ocorre um mês após a invasão russa da Ucrânia, ocorreu no âmbito da celebração penitencial "24 horas para o Senhor" que começou às 17h, (13h no horário de Brasília), uma iniciativa da Quaresma na qual o papa também se confessou.
Às 18h30 (14h30 no horário de Brasília), o papa pediu a intercessão da Virgem Maria pela paz e consagrou o mundo inteiro e especialmente a Rússia e a Ucrânia ao seu Imaculado Coração na presença de 2 mil pessoas.
O papa atendeu o pedido que os bispos católicos de rito latino da Ucrânia fizeram em 2 de março de consagrar publicamente os dois países.
O papa Francisco também escreveu uma carta dirigida aos bispos para explicar a importância deste ato e lembrar que "nesta hora escura, a Igreja é fortemente chamada a interceder junto do Príncipe da Paz e a fazer-se próxima a quantos pagam na própria pele as consequências do conflito".
A consagração específica da Rússia também foi um dos pedidos de Nossa Senhora aos três pastorinhos de Fátima em 1917.
"Virei pedir a consagração da Rússia ao Meu Imaculado Coração e a Comunhão reparadora nos primeiros sábados. Se eles aceitarem os Meus pedidos, a Rússia se converterá e eles terão paz; se não, espalhará seus erros pelo mundo, promovendo guerras e perseguições à Igreja", foram as palavras de Nossa Senhora em Fátima.
Este pedido da Virgem Maria tornou-se realidade em 25 de março de 1984, Solenidade da Anunciação do Senhor, quando são João Paulo II consagrou a Rússia ao seu Imaculado Coração. Fato confirmado pela Irmã Lúcia, uma das videntes de Fátima.
E hoje, exatamente 38 anos depois, diante da guerra devastadora que atingiu o Leste Europeu, o papa Francisco reconsagrou este país, junto com a Ucrânia, ao Imaculado Coração de Maria.
Uma guerra terrível
Na homilia da cerimônia penitencial feita na basílica de São Pedro em 25 de março, solenidade da Anunciação do Senhor, o papa falou em relação à guerra na Ucrânia que "nestes dias, notícias e imagens de morte continuam entrando dentro de nossas casas, enquanto as bombas destroem as casas de muitos dos nossos irmãos e irmãs ucranianos inermes".
"A guerra brutal, que se abateu sobre tantos e que a todos faz sofrer, provoca em cada um medo e consternação", lamentou o papa.
Ele também disse que "sozinhos somos incapazes de resolver as contradições da história ou mesmo as do nosso coração. Precisamos da força sapiente e suave de Deus, que é o Espírito Santo. Precisamos do Espírito de amor, que dissolve o ódio, apaga o rancor, extingue a ganância, desperta-nos da indiferença".
"Precisamos obter do perdão de Deus a força do amor, aquele mesmo Espírito que desceu sobre Maria", sublinhou o papa.
Ele então disse que "se quisermos que mude o mundo, tem de mudar primeiro o nosso coração. Para o conseguirmos, deixemos hoje que Nossa Senhora nos leve pela mão".
"Olhemos para o seu Imaculado Coração, onde Deus descansou, para o único Coração de criatura humana sem sombras. Ela é 'cheia de graça' e, portanto, vazia de pecado: n'Ela não há vestígios de mal e, assim, com Ela Deus pôde iniciar uma história nova de salvação e de paz", disse o papa.
"Deus mudou a história, batendo à porta do Coração de Maria. E hoje também nós, renovados pelo perdão de Deus, batemos à porta daquele Coração", disse Francisco.
"Em união com os Bispos e os fiéis do mundo inteiro, desejo solenemente levar ao Imaculado Coração de Maria tudo o que estamos vivendo: renovar-Lhe a consagração da Igreja e da humanidade inteira e consagrar-Lhe de modo particular o povo ucraniano e o povo russo, que, com afeto filial, a veneram como Mãe".
"Não se trata duma fórmula mágica"
Francisco disse que "não se trata de uma fórmula mágica, mas de um ato espiritual. É o gesto da entrega plena dos filhos que, na tribulação desta guerra cruel e insensata que ameaça o mundo, recorrem à Mãe, lançando no seu Coração medo e sofrimento, entregando-se a si mesmos".
"É colocar naquele Coração límpido, incontaminado, onde Deus se espelha, os bens preciosos da fraternidade e da paz, tudo o temos e somos, para que seja Ela – a Mãe que o Senhor nos deu – a proteger-nos e guardar-nos", disse o papa.
Por fim, o papa disse que "dos lábios de Maria brotou a frase mais bela que o Anjo pudesse referir a Deus: 'Faça-se em Mim segundo a tua palavra'" e destacou que "esta aceitação por parte de Nossa Senhora não é uma aceitação passiva nem resignada, mas o desejo vivo de aderir a Deus, que tem 'desígnios de paz e não de desgraça'.
"É a participação mais íntima no seu plano de paz para o mundo. Consagramo-nos a Maria para entrar neste plano, para nos colocarmos à inteira disposição dos desígnios de Deus", disse.
"A Mãe de Deus, depois de ter dito o seu sim, empreendeu uma longa viagem subindo até uma região montanhosa para visitar a prima grávida. Hoje, que Ela tome pela mão o nosso caminho e o guie, através das veredas íngremes e cansativas da fraternidade e do diálogo, pela senda da paz", concluiu o papa.
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