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Estas são as meditações da via-sacra 2022 que o papa Francisco vai rezar

Papa Francisco na via-sacra no Coliseu em 2018 | Daniel Ibáñez (ACI)

A Santa Sé publicou hoje as meditações e orações da via-sacra da Sexta-feira Santa. Elas foram escritas por várias famílias, incluindo uma russa e uma ucraniana.

Após dois anos na praça de São Pedro por temor da pandemia de covid-19, a via-sacra com o papa volta neste ano ao Coliseu Romano.

O texto foi escrito por um casal de jovens esposos, por uma família em missão, por esposos idosos sem filhos, por uma família numerosa, por uma família com um filho com deficiência, por uma família que administra uma casa-família, por uma família com pai doente, por um casal de avós, por uma família adotiva, por uma viúva com filhos, por uma família com um filho consagrado, por uma família que perdeu uma filha, por uma família ucraniana e uma família russa e por uma família migrante.

A seguir, publicamos o texto completo das meditações da via-sacra que o papa vai rezar em 15 de abril:

 

Introdução

O Santo Padre:
Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo.
R/. Amém.

 

Oração inicial

 

O leitor:

Senhor Jesus,
neste dia consagrado pela vossa Paixão,
as nossas vozes erguem-se para Vós
com a confiança de que nos escutais.

Bendizemo-Vos
porque sois para nós fonte de vida,
assumistes os nossos sofrimentos,
com a vossa santa cruz redimistes o mundo.

Acreditamos
que pelas vossas chagas fomos curados,
que não nos deixais sozinhos na hora da provação,
que o vosso Evangelho é verdadeira sabedoria.

Reconhecemos
o vosso corpo martirizado em tantos dos nossos irmãos e irmãs,
a violência que sofrestes em quem é perseguido,
o vosso abandono no vilipêndio de quem é morto.

Vós, que quisestes viver numa família,
olhai com benevolência para as nossas famílias:
atendei as orações,
escutai os lamentos,
abençoai as resoluções,
acompanhai o caminho,
sustentai-as nas incertezas,
consolai os afetos feridos,
infundi a coragem de amar,
concedei a graça do perdão,
tornai-as abertas às necessidades dos outros.

Senhor Jesus,
Vós que sois o Crucificado Ressuscitado,
fazei que não deixemos roubar-nos a esperança
duma nova humanidade,
dos novos céus e da nova terra,
onde enxugareis todas as lágrimas dos nossos olhos
e não haverá mais pranto nem angústia,
porque as coisas velhas passaram
e seremos uma grande família
na vossa casa de amor e de paz.

 

 

PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus em agonia no Horto das Oliveiras

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Chegaram a uma propriedade chamada Getsémani, e Jesus disse aos discípulos: «Ficai aqui enquanto Eu vou orar». Tomando consigo Pedro, Tiago e João, começou a sentir pavor e a angustiar-Se. E disse-lhes: «A minha alma está numa tristeza mortal; ficai aqui e vigiai». Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que, se possível, passasse d'Ele aquela hora. E dizia: «Abbá, Pai! Tudo Te é possível; afasta de Mim este cálice! Mas não se faça o que Eu quero, e sim o que Tu queres» (Mc 14, 32-36).

Aqui estamos nós, casados há apenas dois anos. O nosso casamento ainda não foi provado por muitas tempestades. Houve a pandemia que complicou tudo um pouco, mas estamos felizes. A nossa relação parece ser uma longa lua de mel, apesar das brigas diárias. Apesar das nossas diferenças. No entanto, muitas vezes temos medo. Quando pensamos nos casais de amigos mais velhos que não conseguiram manter-se juntos. Quando lemos nos jornais que aumentam as separações. Quando nos dizem que seguramente acabaremos por nos separar, porque assim está o mundo. É uma questão de estatísticas. Quando nos sentimos sozinhos, porque não nos entendemos. Quando o dinheiro se faz pouco para levar o mês ao fim. Quando nos sentimos como dois desconhecidos sob um mesmo teto. Quando acordamos de noite e sentimos no coração o peso e a angústia da nossa «orfandade». Porque nos esquecemos de ser filhos. Porque cremos que o nosso casamento e a nossa família dependem apenas de nós, das nossas forças. Começamos a tomar consciência de que o casamento não é só uma aventura romântica, mas também Getsémani; é também a angústia antes de repartir o teu corpo pelo outro.

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Senhor Jesus, que sofrestes pavor e angústia.
R. Dona nobis pacem.

Vós que, na hora da provação, Vos pusestes a rezar.
R. Dona nobis pacem.

Vós que nos chamais a vigiar e orar convosco.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que por entre oliveiras de paz,
rezando, aceitastes
sofrer por nós até à morte, e morte de cruz,
escutai as nossas súplicas pelos jovens esposos:
ajudai-os a enfrentar as dificuldades unidos a Vós
e, a todos nós, concedei a graça de permanecer convosco na hora da provação.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus traído por Judas e abandonado pelos seus

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Ainda Jesus estava a falar, quando surgiu uma multidão de gente. Um dos Doze, o chamado Judas, caminhava à frente e aproximou-se de Jesus para O beijar. Jesus disse-lhe: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do Homem?» Vendo o que ia suceder, aqueles que estavam com Ele perguntaram-Lhe: «Senhor, ferimo-los à espada?» E um deles feriu um servo do Sumo Sacerdote, cortando-lhe a orelha direita (Lc 22, 47-50). Jesus disse-lhe: «Mete a tua espada na bainha, pois todos quantos se servirem da espada morrerão à espada». (…) Então, todos os discípulos O abandonaram e fugiram (Mt 26, 52.56).

Senhor, partimos para a missão há quase dez anos, porque não nos bastava a nossa felicidade. Queríamos dar a nossa vida a fim de que também outros experimentassem a mesma alegria. Queríamos mostrar o amor de Cristo mesmo a quem não O conhece. Não importa onde. A vida de comunidade e as atividades de cada dia ajudam-nos a educar os filhos com uma visão aberta da vida e do mundo. Mas não é fácil! Não escondemos a angústia e o medo de levar uma vida familiar precária, longe do nosso país. A tudo isto vem juntar-se o terror da guerra tão dramaticamente atual nestes meses. Não é simples viver só de fé e caridade, porque muitas vezes não conseguimos abandonar-nos completamente à Providência. E às vezes, perante a angústia e o sofrimento duma mãe que morre de parto e mais ainda sob as bombas, ou duma família destruída pela guerra ou pela carestia e as injustiças, vem a tentação de responder com a espada, de fugir, de Vos abandonar, Senhor, de deixar tudo pensando que não vale a pena... Mas seria trair os nossos irmãos mais pobres, que são a vossa carne no mundo e que nos recordam que Vós sois o Vivente.

Senhor Jesus, que fostes traído com um beijo.
R. Dona nobis pacem.

Vós que fostes abandonado pelos discípulos.
R. Dona nobis pacem.

Vós que experimentastes solidão e humilhação.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que acolhestes com amor
o beijo traidor de Judas,
escutai as nossas súplicas:
dai às famílias em missão
a coragem de testemunhar o vosso Evangelho
e, a todos nós, concedei a graça responder ao mal com o bem,
para sermos construtores de paz e reconciliação.
Vos que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus é condenado pelo Sinédrio

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Os sumos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus a fim de Lhe dar a morte, mas não o encontravam. (…) Então, o Sumo Sacerdote interrogou-O: «És Tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?» Jesus respondeu: «Eu sou» (…). E todos sentenciavam que Ele era réu de morte (Mc 14,55.61-62-.64).

Vivemos um noivado de poucos meses, porque a vida nos tinha mantido longamente afastados, fazendo-nos conhecer o pungente letargo do coração que bate à distância. E quando nos voltamos a encontrar, casamo-nos imediatamente, com a pressa de quem esperara tanto já com receio de não o conseguir. Deixamos as nossas casas de origem para criar uma nossa. Iniciamos o nosso percurso de esposos, cheios de projetos e também ilusões da juventude. Depois a vida fez-nos descobrir mais frágeis e, ao mesmo tempo, despojou-nos das nossas expetativas, fazendo-nos caminhar por uma estrada tantas vezes íngreme, no topo da qual nos deparamos com a impossibilidade de nos tornarmos pais. Frequentemente, com mágoa, nos vimos julgados sobre a nossa esterilidade. «Como é possível que não tenhais filhos?», perguntaram-nos mil vezes, quase insinuando que o nosso casamento e o nosso amor não bastassem para ser uma família. Quantos olhares pouco compreensivos tivemos de digerir! Mas continuamos a caminhar cada dia de mãos dadas, cuidando juntos duma comunidade de irmãos e amigos que, por entre solidões e carinhos, se tornou com o tempo casa e família.

Senhor Jesus, que sofrestes aquela condenação injusta.
R. Dona nobis pacem.

Vós que suportastes insinuações e acusações.
 R. Dona nobis pacem.

Vós que, inocente, fostes perseguido.
R. Dona nobis pacem.

 

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que fostes condenado injustamente,
escutai a nossa oração:
concedei aos esposos sem filhos
a graça de caminhar de mãos dadas,
vivendo em plenitude o Sacramento do amor conjugal,
e, a todos nós, a graça de vivermos as adversidades com serena firmeza.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém

 

QUARTA ESTAÇÃO
Jesus é renegado por Pedro

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Estando Pedro em baixo, no pátio, chegou uma das criadas do Sumo Sacerdote e, vendo Pedro a aquecer-se, fixou nele o olhar e disse: «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno». Mas ele negou, dizendo: «Não sei nem entendo o que dizes». Depois, saiu para o átrio e um galo cantou. (…) Pedro recordou-se, então, das palavras de Jesus: «Antes de o galo cantar duas vezes, tu Me terás negado três vezes». E desatou a chorar (Mc 14, 66-68.72).

Quando nos casamos, pensávamos que não poderíamos ter filhos. Depois, na viagem da lua de mel, chegou o primeiro, e mudou a nossa vida. Tínhamos projetos mais lentos como o de nos realizarmos no trabalho, viajarmos, tentarmos viver um pouco como eternos namorados... E ao contrário, enquanto ainda incrédulos descobríamos a beleza desta prenda, chega o segundo filho: uma menina. E assim, olhando para trás hoje, chegaram também os outros, quase sem nos apercebermos. E os nossos sonhos? Moldados pelos acontecimentos. A nossa realização profissional? Modificada pelos fatos da vida que irrompe. E, depois, o medo de poder um dia renegar tudo, como Pedro; a angústia e a tentação de mandar tudo às urtigas à vista de mais uma despesa inesperada; a preocupação pelas tensões com os filhos adolescentes. Os velhos desejos cederam o passo à nossa família. Não é fácil – claro! –, mas é infinitamente mais lindo assim. E, apesar das aflições e da densidade da nossa jornada, que parece nunca ser suficiente para tudo, não voltaríamos jamais atrás.

Senhor Jesus, que enxugastes as lágrimas de Pedro.
R. Dona nobis pacem.

Vós que perdoais quem reconhece ter pecado.
R. Dona nobis pacem.

Vós que compreendeis as nossas incertezas.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que abris os braços a quem invoca perdão,
escutai a nossa súplica:
concedei às famílias numerosas
a graça de superar todas as dificuldades com alegria
e, a todos nós, a graça de sempre nos levantarmos depois duma queda.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém

QUINTA ESTAÇÃO
Jesus é julgado por Pilatos

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Tomando novamente a palavra, Pilatos disse-lhes: «Então que quereis que faça d'Aquele a Quem chamais rei dos judeus? Eles gritaram novamente: «Crucifica-O!» Pilatos insistiu: «Que fez Ele de mal?» Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-O!» Pilatos, desejando agradar à multidão, soltou-lhes Barrabás; e, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-O para ser crucificado (Mc 15, 12-15).

O nosso filho foi julgado antes mesmo de vir ao mundo. Tínhamos encontrado médicos que cuidaram da sua vida antes de ele nascer, e médicos que claramente nos deram a entender que era melhor não o deixar nascer. E quando optamos pela vida fomos, também nós, objeto de julgamento: «Será um peso para vós e para a sociedade»" – disseram-nos. «Crucifica-o». E, contudo, não tinha feito mal algum. Quantas vezes o julgamento do mundo é apressado e superficial e faz-nos sofrer simplesmente com um olhar. Carregamos a vergonha duma diversidade, com mais frequência lamentada do que compartilhada. A deficiência não é motivo para ostentação nem um rótulo, mas antes o vestido duma alma que muitas vezes prefere ficar calada diante de juízos injustos; e não por vergonha, mas por misericórdia para com a pessoa que julga. Não estamos imunes à cruz da dúvida ou à tentação de imaginar como teria sido se as coisas seguissem um curso diferente. Mas, na realidade, a deficiência é uma condição, não uma caraterística, e a alma, graças a Deus, não conhece barreiras.

Senhor Jesus, que olhastes com amor os vossos adversários.
R. Dona nobis pacem.

Vós que não temestes quem mata o corpo, mas não a vida.
R. Dona nobis pacem.

Vós que julgais com amor misericordioso.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que fostes julgado segundo lógicas mundanas,
escutai as nossas súplicas
pelas famílias com filhos sofredores:
concedei-lhes alívio na fadiga
e, a todos nós, a graça de escolher, salvaguardar e amar a vida sempre e em todo o caso.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

SEXTA ESTAÇÃO
Jesus é flagelado e coroado de espinhos

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Pilatos, depois de mandar flagelar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados (…) revestiram-No de um manto de púrpura e puseram-Lhe uma coroa de espinhos, que tinham entretecido. Depois começaram a saudá-Lo: «Salve! Ó rei dos judeus!» Batiam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam sobre Ele e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d'Ele (Mc 15, 15.17-19).

A nossa casa é grande, não só em termos de espaço, mas sobretudo pela riqueza humana que nela habita. Desde o início do casamento, nunca estivemos só os dois. Depois de 42 anos de casamento e três filhos naturais, nove netos e cinco filhos adotivos não autossuficientes e com graves dificuldades psíquicas, a nossa vocação ao acolhimento da dor foi e continua a ser tudo, menos triste. Não merecemos tanta bênção de vida. Para quem acredita que não é humano deixar sozinho quem sofre, no seu íntimo o Espírito Santo move a vontade para agir e não ficar indiferente, alheado. A dor mudou-nos. A dor leva ao essencial, reordena as prioridades da vida e restitui a simplicidade da dignidade humana enquanto tal. No caminho doloroso da vida de tantos flagelados e crucificados, ao lado deles, sob o peso da sua cruz, descobrimos que o verdadeiro rei é aquele que se oferece e se dá em alimento, alma e corpo.

Senhor Jesus, que fostes flagelado na carne e no espírito.
R. Dona nobis pacem.

Vós que conhecestes a dor inocente.
R. Dona nobis pacem.

Vós que fostes humilhado, insultado, coroado de espinhos.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que padecestes dor e desprezo,
escutai a nossa súplica:
concedei às nossas famílias
a graça de aprender a acolher quem está ferido
e, a todos nós, a graça de nos ocuparmos e cuidarmos das dores dos outros.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

SÉTIMA ESTAÇÃO
Jesus é carregado com a Cruz

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Depois de terem escarnecido de Jesus, tiraram-Lhe o manto de púrpura e revestiram-No das suas vestes. Levaram-No, então, para O crucificar (Mc 15, 20).

Numa manhã igual a tantas outras, a minha esposa desmaiou duas vezes. Seguiu-se a corrida para o hospital e a descoberta duma doença que já estava a inocular o veneno na sua cabeça. A operação, a reabilitação, os tratamentos... e hoje uma vida diária completamente nova para todos nós. O Senhor fala-nos através de acontecimentos que nem sempre compreendemos e leva-nos pela mão rumo ao desenvolvimento da nossa parte melhor. Tinha um papel, uma posição, uma «figura»… e viu-se completamente diferente. Nua, indefesa, crucificada. E eu, com ela. Através desta doença, nesta cruz, tornamo-nos o pilar no qual os filhos sabem que podem apoiar-se. Antes, não era assim. Poderia quase dizer que hoje, com os olhos penetrantes dela na sua dor calva, é plenamente mãe e esposa. Sem floreados, na essencialidade duma vida mais difícil e nova. Estar bloqueado, pregado por um pensamento martelador forçou-me, sobretudo a mim que era teimosamente orgulhoso, a descobrir nas outras famílias o dom maravilhoso que são: uma tenta fazer-te rir, outra ajuda-te na cozinha, outra acompanha os teus filhos à catequese, outra pára a ouvir-te, outra num simples olhar compreende tudo, outra que, apesar de se encontrar em situações igualmente ou até mais complicadas, se preocupa constantemente contigo.

Senhor Jesus, que não buscastes honras mundanas.
R. Dona nobis pacem.

Vós que assumistes o fardo de todos os mortais.
R. Dona nobis pacem.

Vós que abraçastes o pesado madeiro da cruz.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que transformastes o patíbulo de morte
em fonte inesgotável de vida,
escutai as nossas invocações:
concedei aos filhos a graça de cuidarem dos pais,
resguardando-os com gratidão,
e, a todos nós, a graça de aprender convosco a alegria de amar e doar-se generosamente.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

OITAVA ESTAÇÃO

Jesus é ajudado pelo Cireneu a levar a Cruz

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Quando iam conduzindo Jesus, lançaram mão de um certo Simão de Cirene, que voltava do campo, e carregaram-no com a cruz, para a levar atrás de Jesus (Lc 23, 26).

Fomos para a reforma há dois anos e precisamente quando começávamos a fantasiar sobre como gastar as energias recuperadas, chegou-nos a notícia de que o nosso genro perdera o emprego. Durante a pandemia assistimos, impotentes, à crise do casamento da nossa filha mais velha. Os netos começaram a inundar de vitalidade e confusão a nossa casa, aos domingos e não só, mas sobretudo como já não acontecia desde quando eram pequenos os nossos três filhos. Montamos uma cadeirinha de bebé no carro e compramos uma lousa onde anotar os compromissos dos nossos cinco netos para não corrermos o risco de esquecer qualquer coisa. Os nossos músculos já não são o mesmo que eram, mas a bagagem das experiências torna-nos mais dóceis à vida do que quando tínhamos forças para correr. A cruz da precariedade das famílias e do trabalho preocupa-nos. E hoje que seríamos naturalmente inclinados a lidar com o nosso cansaço e o medo inegável da morte, carregamos uma cruz inesperada, colocada aos nossos ombros contra a nossa vontade. O ritmo muitas vezes torna-se lento e à noite, depois de sorrir, damos connosco a chorar de compaixão. Mas ser «oxigênio» para as famílias dos nossos filhos é um dom que volta a levar-nos às emoções que sentíamos quando eles eram pequenos. Nunca se acaba de ser mãe e pai.

Senhor Jesus, que compartilhastes o peso da cruz.
R. Dona nobis pacem.

Vós que nos submeteis ao juízo da vossa cruz.
R. Dona nobis pacem.

Vós que pedis para Vos seguir levando a nossa cruz.
R. Dona nobis pacem.

 

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que nos chamais a carregar os pesos uns dos outros,
escutai as nossas súplicas:
concedei às nossas famílias
a graça de saber compartilhar alegrias e canseiras
e, a todos nós, a graça de crescer em operosa fraternidade.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

NONA ESTAÇÃO
Jesus encontra as mulheres de Jerusalém

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.

R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Seguiam Jesus uma grande multidão de povo e umas mulheres que batiam no peito e se lamentavam por Ele. Jesus voltou-Se para elas e disse-lhes: «Filhas de Jerusalém, não choreis por Mim, chorai antes por vós mesmas e pelos vossos filhos» (Lc 23, 27-28).

Agora somos quatro. Durante longos anos, fomos dois, e enfrentamos a cruz da solidão e a gestação duma paternidade diferente do que sempre tínhamos imaginado. A adoção é a história duma vida marcada pelo abandono que é curada pelo acolhimento. Mas o abandono é uma ferida que não para de sangrar. E a adoção é uma cruz que pais e filhos carregam juntos aos ombros, suportando-a, procurando aliviar a sua dor e mesmo amando-a como parte da história do filho. Mas dói ver um filho que sofre com o seu passado. Dói tentar amá-lo sem conseguir mitigar minimamente a sua dor. Adotamo-nos mutuamente. E não há um dia em que não acordemos a pensar que valeu a pena; que todo este esforço não é em vão; que esta cruz, ainda que dolorosa, esconde um segredo de felicidade.

Senhor Jesus, que Vos destes conta do olhar das mulheres de Jerusalém.
R. Dona nobis pacem.

Vós que enxugastes lágrimas e consolastes corações.
 R. Dona nobis pacem.
Vós que percorrestes corajosamente o caminho da cruz.
R. Dona nobis pacem.

 

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que fostes ao encontro da cruz
com olhos abertos e de coração pronto,
escutai as nossas súplicas:
concedei aos pais e aos seus filhos adotivos
a graça de crescerem juntos como famílias acolhedoras
e, a todos nós, a graça de colaborarmos na alegria do próximo.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

DÉCIMA ESTAÇÃO
Jesus é crucificado

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-No a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Jesus dizia: «Perdoa-lhes, Pai, porque não sabem o que fazem». Depois deitaram sortes para dividirem entre si as suas vestes. O povo permanecia ali, a observar; e os chefes zombavam, dizendo: «Salvou os outros, salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito». Os soldados também troçavam d'Ele. Aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam: «Se és o rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo!» E por cima d'Ele havia uma inscrição: «Este é o rei dos judeus» (Lc 23, 27-28).

Somos uma mãe e dois filhos. Há mais de sete anos somos uma cadeira com três pernas em vez de quatro: muito bela e de valor, embora um pouquinho instável. Ao pé da cruz, toda a família, mesmo a mais malfeita, a mais sofredora, a mais estranha, a mais incompleta, encontra o seu sentido profundo. Inclusive a nossa. Experimentamos, não sem lágrimas e dor, que Jesus naquele abraço de traves pregadas olha por nós e nunca nos deixa sozinhos. Confia-nos não só a um amor genérico do criador pelas suas criaturas, mas entrega-nos a um amigo, a uma mãe, a um filho, a um irmão. A uma Igreja que, com todos os seus defeitos, estende a mão e, por mais impossível que pareça, sustenta de vez em quando o peso por nós, permitindo-nos então retomar fôlego. O amor multiplica-se porque é gratuito, mesmo quando me vem a tentação de compreender, se «salvou os outros, se é o Messias de Deus, o seu Eleito», por que motivo não poderia ter salvo também o meu marido. Mas a ferida de Um na cruz é conjuntamente herança, vínculo e relação. O Amor faz-se real, porque, no nosso abismo e nas nossas dificuldades, não estamos abandonados.

Senhor Jesus, que estendestes os braços na cruz.
R. Dona nobis pacem.

Vós que, para nos salvar a nós, não Vos salvastes a Vós mesmo.

R. Dona nobis pacem.

Vós que perdoastes aos vossos algozes.
R. Dona nobis pacem.

 

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

 

Senhor Jesus,
que, com os braços abertos na cruz,
estreitais a Vós quem está só e abandonado,
escutai a nossa oração:
concedei às famílias feridas pela perda de um progenitor
a graça de Vos sentir presente na sua dor
e, a todos nós, a graça sabermos chorar com quem chora.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO
Jesus promete o Reino ao bom ladrão

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, crucificaram-No a Ele e aos malfeitores, um à direita e outro à esquerda. Um dos malfeitores disse: «Jesus, lembra-Te de mim quando estiveres no teu Reino». Ele respondeu-lhe: «Em verdade te digo: hoje estarás comigo no Paraíso» (Lc 23, 33.42-43).

Sorrimos (mas só agora!) ao lembrar todas as expetativas que tínhamos depositado no nosso filho. Criáramo-lo para que fosse feliz, para que se realizasse. Para que seguisse os passos do avô. É verdade, tínhamos desejado para ele uma vida talvez diferente. Uma família, um trabalho, filhos, netos. Enfim a «normalidade». Tínhamos já vivido a vida dele em seu lugar. Em vez disso, chegastes Vós e transtornastes tudo. Destruístes os nossos sonhos por algo maior. Fizestes com que a sua vida não seguisse a lógica do «sempre se fez assim», e chamastes-lo para Vós. Mas como? Porquê precisamente ele? Porquê precisamente o nosso filho? Ao princípio, não o aceitamos bem. Opusemo-nos. Abandonamo-lo. Pensávamos que a nossa frieza o levaria a repensar os seus passos. Tentamos insinuar-lhe na cabeça a dúvida de que estaria errando tudo. Como os dois malfeitores. Mas compreendemos que não se pode lutar contra Vós. Nós somos um vaso, e Vós sois o mar. Nós somos uma faúlha, e Vós sois o fogo. E então, como o bom ladrão, também nós pedimos para Vos lembrardes de nós quando estiverdes no vosso Reino.

Senhor Jesus, que morrestes como um malfeitor.
R. Dona nobis pacem.

Vós que transformastes a cruz num trono real.
R. Dona nobis pacem.

Vós que nos abristes as portas do Paraíso perdido.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

Senhor Jesus,
que nos revelastes os mistérios do vosso Reino,
onde o maior é aquele que serve,
escutai as nossas súplicas:
guiai os pais para servirem a vocação dos filhos
e, a todos nós, concedei a graça de sermos vossos discípulos fiéis.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO
Jesus dá a Mãe ao discípulo amado

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Junto à cruz de Jesus estavam, de pé, sua mãe e a irmã da sua mãe, Maria, a mulher de Clopas, e Maria Madalena. Então Jesus, ao ver ali ao pé a sua mãe e o discípulo que Ele amava, disse à mãe: «Mulher, eis o teu filho!» Depois disse ao discípulo: «Eis a tua mãe!» E, desde aquela hora, o discípulo acolheu-a como sua (Jo 19, 25-27).

Em casa, éramos cinco: eu, o meu marido e os nossos três filhos. Há cinco anos, a vida complicou-se. Um diagnóstico difícil de aceitar, uma doença oncológica espelhada sem tréguas no rosto da filha mais nova. Uma doença que, embora nunca tivesse apagado o seu sorriso, tornou ainda mais doloroso o grito da injustiça que vivíamos. Como se fosse pouco esta «partida» que a doença nos pregou, depois de apenas seis anos de casamento, o meu marido deixou-nos por morte súbita, colocando-nos numa estrada de pungente solidão durante a qual, em dois anos, acompanhamos a pequena de casa na sua última despedida. Já se passaram cinco anos do início desta aventura que não conseguimos de modo algum compreender racionalmente, mas a certeza é que nesta grande cruz habitou o Senhor e ainda mora nela hoje. «Deus não chama quem é capaz, mas torna capaz quem chama»: foi o que nos disse um dia uma Irmã, e estas palavras mudaram a perspetiva de vida nos últimos anos. A mentira maior contra a qual tivemos de lutar foi a de já não sermos uma família. Não conheço outra maneira de responder ao meu coração e à minha dor na carne, a não ser o de me confiar ao Senhor que vive comigo este pedaço de estrada terrena. Nas sessões de quimioterapia da minha filha, muitas vezes me senti como Maria ao pé da cruz; e é aquela experiência que me faz sentir hoje – ainda que intermitentemente – mãe do meu Senhor.

Senhor Jesus, que experimentastes a dilaceração dos afetos.
R. Dona nobis pacem.

Vós que não concedestes à morte a última palavra.
R. Dona nobis pacem.

Vós que nos destes em testamento a vossa própria Mãe.
R. Dona nobis pacem.

 

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo.

 

Senhor Jesus,
que quisestes antes de expirar
entregar-nos a vossa Mãe e confiar-nos aos cuidados d'Ela,
escutai as nossas súplicas:
concedei às famílias marcadas pela morte dum filho
a graça de guardar o dom recebido com a sua vida
e, a todos nós, de recolher na consolação do Espírito as vossas últimas vontades.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO
Jesus morre na cruz

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

Às três da tarde Jesus exclamou em alta voz: Eloí, Eloí, lemá sabachtàni?, que quer dizer: Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonaste? Um deles correu a embeber uma esponja em vinagre, pô-la numa cana e deu-Lhe de beber, dizendo: «Esperemos, a ver se Elias vem tirá-lo dali». Mas Jesus, com um grito forte, expirou (Mc 15, 34.36-37).

A morte em redor. A vida que parece perder valor. Tudo muda em poucos segundos. A existência, os dias, brincar com a neve de inverno, ir buscar os filhos à escola, o trabalho, os abraços, as amizades... tudo. Inesperadamente tudo perde valor. «Onde estais, Senhor? Onde Vos escondestes? Queremos a nossa vida anterior. Porquê tudo isto? Que falta cometemos? Porque é que nos abandonastes? Porque é que abandonastes os nossos povos? Porque é que dividistes assim as nossas famílias? Porque é que já não temos vontade de sonhar e de viver? Porquê se tornaram tenebrosas como o Gólgota as nossas terras?» As lágrimas acabaram-se. A raiva deu lugar à resignação. Sabemos que Vós nos amais, Senhor, mas não sentimos este amor e isto faz-nos enlouquecer. Acordamos de manhã e sentimo-nos felizes por alguns segundos, mas logo a seguir pensamos como será difícil reconciliar-nos. Senhor, onde estais? Falai no silêncio da morte e da divisão e ensinai-nos a fazer a paz, a ser irmãos e irmãs, a reconstruir aquilo que as bombas teriam querido aniquilar.

Senhor Jesus, que nos amastes até ao fim.
R. Dona nobis pacem.

Vós que, morrendo, destruístes a morte.
R. Dona nobis pacem.

Vós que, ao exalar o último respiro, nos destes a vida.
R. Dona nobis pacem.

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo

Senhor Jesus,
que do vosso peito trespassado
fizestes brotar a reconciliação para todos,
escutai as nossas humildes vozes:
concedei às famílias destruídas por lágrimas e sangue
a graça de crer na força do perdão
e, a todos nós, a graça de construir paz e concórdia.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

 

DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO
O corpo de Jesus é depositado no túmulo

 

 

V/.   Adoramus te, Christe, et benedicimus tibi.
R/.   Quia per sanctam crucem tuam redemisti mundum.

José tomou o corpo de Jesus, envolveu-o num lençol limpo e depositou-o num túmulo novo, que tinha mandado talhar na rocha. Depois rolou uma grande pedra contra a porta do túmulo e retirou-se. Maria de Magdala e a outra Maria estavam ali sentadas, em frente do sepulcro (Mt 27, 59-61).

Agora estamos aqui. Morremos para o nosso passado. Teríamos desejado viver na nossa terra, mas a guerra no-lo impediu. É difícil para uma família ter que escolher entre os seus sonhos e a liberdade. Entre os desejos e a sobrevivência. Estamos aqui depois de viagens em que vimos morrer mulheres e crianças, amigos, irmãos e irmãs. Estamos aqui, sobreviventes. Sentidos como um peso. Nós que, em nossa casa, éramos importantes, aqui somos números, categorias, simplificações. Contudo somos muito mais do que imigrantes. Somos pessoas. Viemos para aqui por amor dos nossos filhos. Morremos cada dia por eles, para que possam tentar viver uma vida normal, sem as bombas, sem o sangue, sem as perseguições. Somos católicos, mas por vezes até isto parece passar em segundo plano relativamente ao facto de sermos migrantes. Se não renunciamos, é porque sabemos que a grande pedra contra a porta do sepulcro um dia será removida.

Senhor Jesus, tirado do madeiro da cruz por mãos amigas.
R. Dona nobis pacem.

Vós que fostes sepultado no túmulo novo de José de Arimateia.
R. Dona nobis pacem.

Vós que não conhecestes a corrupção do sepulcro.
R. Dona nobis pacem.

 

Todos:

Pater noster, qui es in cælis:
sanctificetur nomen tuum;
adveniat regnum tuum;
fiat voluntas tua, sicut in cælo, et in terra.
Panem nostrum cotidianum da nobis hodie;
et dimitte nobis debita nostra,
sicut et nos dimittimus debitoribus nostris;
et ne nos inducas in tentationem;
sed libera nos a malo

Senhor Jesus,
que descestes à morada dos mortos
para libertar Adão e Eva com seus filhos do antigo cativeiro,
escutai as nossas súplicas pelas famílias dos migrantes:
arrancai-as do isolamento que mata
e concedei a todos nós a graça de Vos reconhecer em cada pessoa
como nosso amado irmão e irmã.
Vós que viveis e reinais para sempre.
R/. Amém.

ORAÇÃO FINAL

 

O Santo Padre:

Pai misericordioso,
que fazeis nascer o sol sobre bons e maus,
não abandoneis a obra das vossas mãos,
pela qual não hesitastes
em entregar o vosso único Filho,
nascido da Virgem,
crucificado sob Pôncio Pilatos,
morto e sepultado no coração da terra,
ressuscitado dentre os mortos ao terceiro dia,
aparecido a Maria de Magdala,
a Pedro, aos outros apóstolos e discípulos,
sempre vivo na santa Igreja,
o seu Corpo vivo no mundo.

Mantende acesa nas nossas famílias
a lâmpada do Evangelho,
que ilumina alegrias e sofrimentos,
fadigas e esperanças:
cada casa espelhe o rosto da Igreja,
cuja lei suprema é o amor.
Pela efusão do vosso Espírito,
ajudai a despojar-nos do homem velho,
corrompido pelas paixões enganadoras,
e revesti-nos do homem novo,
criado segundo a justiça e a santidade.

Segurai-nos pela mão, como um Pai,
para que não nos afastemos de Vós;
convertei ao vosso coração os nossos corações rebeldes,
para que aprendamos a seguir desígnios de paz;
fazei que os adversários se deem as mãos,
para que saboreiem o perdão recíproco;
desarmai a mão levantada do irmão contra o irmão,
para que, onde há ódio, floresça a concórdia.

Fazei que não nos comportemos como inimigos da cruz de Cristo,
para participar na glória da sua ressurreição.
Ele que vive e reina convosco,
na unidade do Espírito Santo,
para sempre.
R/. Amém.

BÊNÇÃO APOSTÓLICA

 

O Santo Padre:

V/.   Dominus vobiscum.
R/.   Et cum spiritu tuo.

V/.   Sit nomen Domini benedictum.
R/.   Ex hoc nunc et usque in sæculum.

V/.   Adiutorium nostrum in nomine Domini.
R/.   Qui fecit cælum et terram.

V/.   Benedicat vos omnipotens Deus,
      Pater et Filius et Spiritus Sanctus.
R./   Amen.

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