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Cardeais e bispos advertem Caminho Sinodal Alemão: Não vos conformeis com este mundo

Cardeal Wilfred Napier, dom Thomas Paprocki, cardeal Francis Arinze e cardeal George Pell são quatro dos 74 bispos que assinaram a carta. | Foto oficial/Alexey Gotovsky/Wikimedia Commons/CNA/EWTN

"Em um tempo de confusão, a última coisa de que uma comunidade de fé precisa é mais" confusão, disseram em uma carta aberta ao Caminho Sinodal Alemão quatro cardeais, 13 arcebispos e dezenas de bispos.

O processo em curso na Alemanha envolve bispos e leigos alemães em discussões sobre o poder na Igreja, o celibato sacerdotal, o papel das mulheres na Igreja e a moral sexual, especialmente no que se refere ao homossexualismo. Decisões polêmicas como a recomendação para que se mude o Catecismo da Igreja Católica na condenação dos atos homossexuais como pecado, o fim do celibato sacerdotal obrigatório e a ordenação de mulheres causaram reações de oposição dentro da Alemanha e em várias partes do mundo.

O papa Francisco, em uma carta enviada aos bispos da Alemanha antes do início do caminho Sinodal Alemão, advertiu contra a ideia de discutir dentro do país temas que afetam a Igreja universal e, assim, só poderiam ser discutidos nesse âmbito.

Ressaltando que o que ocorre em um país acaba tendo impacto em toda parte, os signatários da carta se dizem preocupados com a própria natureza do processo do Caminho Sinodal e com os documentos já produzidos. "Não vos conformeis com este mundo", diz a carta aos bispos alemães citando são Paulo.

A advertência decorre do fato de que, para os signatários, o Caminho Sinodal Alemão parece inspirado "não na Escritura e na Tradição -que, para o Concílio Vaticano II, são 'um só depósito sagrado da palavra de Deus' _ mas por análises sociológicas e ideologias políticas contemporâneas, inclusive de gênero".

Os bispos e leigos que participam do Caminho Sinodal Alemão "olham para a Igreja e sua missão através da lente do mundo mais do que através da lente das verdades reveladas na Escritura e na autoridade da Tradição da Igreja", diz a carta.

"A reforma de estruturas não é absolutamente a mesma coisa que a conversão dos corações", diz a carata aberta. "O encontro com Jesus Cristo, como visto no Evangelho e nas vidas dos santos ao longo da história, muda os corações e as mentes, traz cura, afasta de uma vida de pecado e infelicidade, e demonstra o poder do Evangelho".

Enumerando sete preocupações num documento "deliberadamente breve", os cardeais e bispos incentivam outros bispos do mundo a elaborar análises mais detalhadas sobre o que ocorre no Caminho Sinodal Alemão. Para outros bispos que queiram também assinar a carta, está disponível o email episcopimundi2022@gmail.com.

Por fim, os signatários asseguram suas orações pelos bispos e leigos alemães, enquanto eles discernem a "Vontade do Senhor para a Igreja na Alemanha".

A seguir, a íntegra da carta:

 

Uma carta aberta fraterna a nossos irmãos bispos na Alemanha

11 de abril de 2022

Em uma era de comunicação global rápida, eventos em uma nação inevitavelmente têm impacto eu outros lugares. Assim, o processo do "Caminho Sinodal", tal como atualmente conduzido pelos católicos na Alemanha, tem implicações para a Igreja no mundo todo. Isso inclui as igrejas locais que pastoreamos e os muitos fiéis católicos pelos quais somos responsáveis.

À luz disso, os eventos na Alemanha nos compelem a expressar nossa preocupação crescente acerca da natureza inteira do processo do "Caminho Sinodal" e do conteúdo de seus vários documentos. Nossos comentários aqui são deliberadamente breves. Eles demandam, e nós encorajamos fortemente, maior elaboração individual (como, por exemplo, na Carta Aberta aos Bispos Católicos do Mundo, em inglês, espanhol e alemão) de bispos. Mesmo assim, a urgência de nossas observações conjuntas está enraizada em Romanos 12, e, em especial, na advertência de Paulo: 'Não vos conformeis com este mundo". A seriedade delas brota da confusão que o Caminho Sinodal já causou e continua a causar, e o potencial de cisma na vida da Igreja que vai inevitavelmente resultar.

A necessidade de reforma e renovação é tão antiga quanto a própria Igreja. Em sua raiz, esse impulso é admirável e não deve nunca ser temido. Muitos dos envolvidos no processo do Caminho Sinodal são, sem dúvida, gente de caráter notável. Mesmo assim, a história cristã está repleta de esforços bem-intencionados que perderam seu fundamento na Palavra de Deus, num encontro fiel com Jesus Cristo, numa verdadeira escuta do Espírito Santo e na submissão de nossas vontades à vontade do Pai. Esses esforços falhos ignoraram a unidade, a experiência, e a sabedoria acumulada do Evangelho e da Igreja. Porque falharam em seguir as palavras de jesus, "Sem mim não podeis fazer nada" (João 15, 50), eles foram infrutíferos e prejudicaram tanto a unidade quanto a vitalidade evangélica da Igreja.

O Caminho Sinodal corre o risco de levar exatamente ao mesmo beco sem saída. Como vossos irmãos, nossas preocupações incluem, mas não se limitam, ao seguinte:

1. Ao não escutar o Espírito Santo e o Evangelho, as ações do Caminho Sinodal solapam a credibilidade da autoridade da Igreja, incluindo a do papa Francisco, a antropologia e a moral sexual cristãs, e a confiabilidade da Escritura.

2. Embora mostrem um verniz de ideias e vocabulário religioso, os documentos do Caminho Sinodal Alemão parecem inspirados não na Escritura e na Tradição -que, para o Concílio Vaticano II, são 'um só depósito sagrado da palavra de Deus' _ mas por análises sociológicas e ideologias políticas contemporâneas, inclusive de gênero. Eles olham para a Igreja e sua missão através da lente do mundo mais do que através da lente das verdades reveladas na Escritura e na autoridade da Tradição da Igreja.

3. O conteúdo do Caminho Sinodal também parece reinterpretar, e assim diminuir, o significado de liberdade cristã. Para o cristão, liberdade é o conhecimento a vontade e a capacidade desimpedida de fazer o que é certo. Liberdade não é "autonomia". A liberdade autêntica, como ensina a Igreja, está ligada à verdade e ordenada ao bem e, como fim último, a beatitude. A consciência não cria a verdade, nem a consciência é uma questão de preferência ou autoafirmação. Uma consciência cristã propriamente formada se mantém sujeita à verdade sobre a natureza humana e às normas do reto viver reveladas por Deus e ensinadas pela Igreja de Cristo. Jesus é a verdade que nos liberta (João 8).

4. A alegria do Evangelho -essencial para a vida cristã, como o papa Francisco sempre sublinha_ parece totalmente ausente das discussões e dos textos do Caminho Sinodal, uma falha gritante para um esforço que busca a renovação pessoal e eclesial.

5. O processo do Caminho Sinodal, praticamente a cada passo, é obra de especialistas e comitês: pesadamente burocrático, obsessivamente crítico e voltado para si mesmo. Ele, assim, reflete uma forma bastante difundida de esclerose da Igreja e, ironicamente, assume um tom antievangélico. Em seus efeitos, o Caminho Sinodal mostra mais submissão e obediência ao mundo e às ideologias do que a Jesus Cristo como Senhor e Salvador.

6. O foco do Caminho Sinodal em "poder" na Igreja sugere um espírito fundamentalmente em oposição à real natureza da vida cristã. Em última instância, a Igreja não é meramente uma "instituição", mas uma comunidade orgânica; não igualitária, mas familial, complementar e hierárquica _um povo assinalado em conjunto pelo amor de Jesus cristo e amor ao próximo no nome d'Ele. A reforma de estruturas não é absolutamente a mesma coisa que a conversão dos corações. O encontro com Jesus Cristo, como visto no Evangelho e nas vidas dos santos ao longo da história, muda os corações e as mentes, traz cura, afasta de uma vida de pecado e infelicidade, e demonstra o poder do Evangelho.

7. O último e mais inquietante problema do Caminho Sinodal Alemão é terrivelmente irônico. Por seu exemplo destrutivo, pode levar alguns bispos, e vai levar muitos leigos fiéis, a desconfiar da própria ideia de "sinodalidade", impedindo ainda mais a necessária conversa da Igreja sobre cumprir sua missão de converter e santificar o mundo.

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