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Autoridades não quiseram impedir atentados no Sri Lanka, diz cardeal

Cardeal Malcolm Ranjith, 13 de janeiro de 2015 | Alan Holdren

O arcebispo de Colombo, Sri Lanka, cardeal Malcom Ranjit, disse que a justiça não foi feita com os 269 mortos e mais de 500 feridos nos ataques perpetrados no domingo de Páscoa de 2019.

Em 21 de abril de 2019 terroristas muçulmanos atacaram três igrejas e vários hotéis no Sri Lanka. Dois dias depois, o Estado Islâmico assumiu a responsabilidade pelo ataque em retaliação aos ataques a duas mesquitas na Nova Zelândia em março, que mataram pelo menos 49 pessoas. Em junho de 2019, a polícia do Sri Lanka prendeu dois funcionários de alto escalão acusados ​​de não alertar sobre as ameaças terroristas que levaram a esses graves ataques.

O governo do Sri Lanka apresentou um relatório sobre quem foi o responsável por esses ataques. Os 88 volumes com os resultados desta investigação chegam três anos depois do ataque e custaram ao governo 2,5 milhões de dólares. Dessa forma, foram feitas 23 mil acusações contra 25 pessoas.

No entanto, em declarações à fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN), o cardeal Ranjit disse que não considera que se tenha feito justiça aos mortos.

"Toda a comunidade católica do Sri Lanka deseja ver a verdade sobre esses ataques, porque os danos causados à comunidade foram muito, muito profundos. Tivemos 269 mortos, a maioria deles católicos, sem mencionar a tentativa de se colocar uma comunidade religiosa contra a outra, que era a agenda oculta por trás desses ataques", disse o arcebispo de Colombo.

Após os ataques, as comunidades religiosas do Sri Lanka reagiram de forma extraordinária. De fato, o cardeal lembrou que "algumas pessoas que nos ajudaram, que ajudaram essas famílias, eram muçulmanas. Eles deram-nos muito dinheiro. Eles vieram e choraram conosco. E, de fato, tanto eles como nós, sentimos que as pessoas religiosas estão sendo colocadas umas contra as outras para obter vantagens políticas. Então, temos que ser muito claros para identificar quem está por trás de toda essa tentativa e evitar cair na armadilha da violência inter-religiosa".

"O relatório em si é muito bom. Mas queremos que as recomendações sejam implementadas. E uma das principais recomendações nesta matéria não é apenas punir 25 muçulmanos com 23 mil acusações. De acordo com o relatório, esses muçulmanos não parecem ter realizado esse ataque por motivos religiosos. Parece haver um motivo político por trás disso. Parece haver alguém com autoridade por trás deste ataque", sublinhou o cardeal.

Embora a versão do governo sugira que os autores dos atentados foram pessoas ligadas ao Estado Islâmico na Indonésia, o arcebispo de Colombo sempre expressou suas suspeitas de que isso não é "toda a verdade".

"As minhas suspeitas surgiram imediatamente após o ataque, porque senti que um bando de jovens não poderia ter realizado esse tipo de coisa de forma tão profissional. Exortei o nosso povo a não reagir contra os muçulmanos, descobri que havia uma tentativa de colocar os cristãos contra os muçulmanos e a se envolverem em violência. Isso poderia significar um grande desastre para o país", disse ele.

Ele também disse à ACN que "quando começamos a receber informações de diferentes fontes, sentimos que não havia uma verdadeira investigação. Agora, o relatório diz que a Comissão de Serviço Público fez descobertas muito sérias em termos do 'status' do aparato de inteligência do estado. As informações de inteligência não foram compartilhadas com as partes relevantes. Também foi referido que serão necessárias mais investigações para entender se aqueles com interesses escusos não agiram com inteligência para criar caos e instilar medo e incerteza no país".

O cardeal Ranjit disse que o relatório da Comissão Parlamentar "fornece a evidência de que quatro desses avisos foram dados pelo governo indiano ao nosso serviço de inteligência estadual. Mas, mesmo assim, o governo do Sri Lanka não avisou a população, não avisou a Igreja. Em vez disso, eles circularam uma carta particular entre si, pedindo aos líderes que tomassem cuidado e evitaram contar ao povo sobre isso. Portanto, eles sabiam sobre o ataque que estava por vir. Eles sabiam que algumas pessoas seriam feridas e mortas, mas não queriam evitar isso".

"Os serviços de inteligência do Sri Lanka e a polícia ficaram sabendo da violência e das atividades violentas de um homem chamado Zahran Hashim, fundador do grupo islâmico National Thowheed Jamath, porque antes do ataque descobriram um campo de treino onde extremistas islâmicos estavam sendo treinados com material explosivo, então eles sabiam disso mesmo apesar dos avisos", disse o cardeal à ACN.

"Em outras palavras, houve uma série de descobertas sobre essas pessoas e suas atividades, levando a possíveis ataques futuros. E então vieram os avisos da Índia. Então, quando se junta A e B, ficou claro que eles sabiam disso. Nesse caso, por que não impediram?"

Além disso, explica que o relatório da Comissão Parlamentar levanta a possibilidade de pensarem que esta informação poderia "criar o caos no país, e um candidato eleitoral teria a ganhar se prometesse estabilidade e segurança para o povo. Esse candidato eleitoral é o atual presidente do Sri Lanka. Podemos somar dois mais dois."

Perante esta situação, o arcebispo de Colombo insiste que "queremos viver a verdade. Queremos que este Relatório da Comissão seja implementado. E há algumas áreas em que a comissão recomenda mais investigações, e queremos mais investigações nessas áreas".

E é por isso que ele alerta que se a investigação não continuar "não temos outra escolha a não ser recorrer à comunidade internacional. Estamos ficando sem opções".

E destaca que se trata de uma "situação difícil" pela qual devemos "orar continuamente e pedir ao Senhor que nos ajude. Às vezes, nessa luta, sinto-me um pouco como o indefeso, como Moisés que tentou tirar o seu povo do Egito e atravessar o mar. Alcançar de alguma forma a justiça para o nosso povo não significa a vingança, mas descobrir quem realmente fez isso e por quê… Não houve nenhuma provocação. As vítimas nunca fizeram nada de prejudicial a ninguém".

Ranjit insistiu na importância da oração "porque o Senhor é mais poderoso do que qualquer outra pessoa. O Senhor pode-nos dar justiça através da oração. A oração contínua é importante para nós. E, também, um espírito de solidariedade e compreensão de que nesses ataques não apenas cingaleses, mas também vários americanos e europeus foram mortos. Houve 47 mortos de 14 países e 82 crianças".

"O sangue de todas essas pessoas clama aos céus por justiça. E como pastor dessas pessoas, eu represento Deus. Eu tenho que ficar do lado de Jesus Cristo e do lado dos pobres e dos sem voz pela justiça, e é por isso que estou pedindo a todos que rezem por nós e estejam conosco em solidariedade", disse. afirmou.

A polícia do Sri Lanka prendeu dois altos funcionários acusados ​​de não alertar sobre ameaças terroristas que levaram aos graves ataques de Páscoa em 21 de abril deste ano contra várias igrejas e hotéis, que deixaram mais de 350 pessoas mortas e centenas feridas no país.

Em 21 de abril de 2019, domingo de Páscoa, terroristas muçulmanos atacaram três igrejas e vários hotéis no Sri Lanka.

Dois dias depois, o Estado Islâmico (ISIS) assumiu a responsabilidade pelo ataque em retaliação aos ataques a duas mesquitas na Nova Zelândia em março, que mataram pelo menos 49 pessoas.

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