24 de novembro de 2024 Doar
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Santa Sé intervém em conflito entre arcebispo argentino e carmelitas descalças

Arcebispo de Salta, dom Mario Antonio Cargnello | Arquidiocese de Salta

A Congregação para a Vida Religiosa e as Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé mediará um conflito entre o arcebispo de Salta, Argentina, dom Mario Antonio Cargnello, e as Carmelitas Descalças de Salta, responsáveis ​​pelo mosteiro de São Bernardo.

Um comunicado publicado ontem (27) pela sala de imprensa da arquidiocese de Salta, informa que a Congregação da Santa Sé entregou uma série de instruções sobre a gestão administrativa do mosteiro, a obediência da congregação carmelita ao arcebispo local e o que se deve fazer em relação a uma suposta devoção mariana – popularmente conhecida como a "Virgen del Cerro"– que as freiras estariam promovendo sem o aval de seu arcebispo.

O comunicado destaca que "o dicastério romano decidiu nomear um assistente apostólico para o mosteiro" depois que, em 26 de abril, a nunciatura apostólica em Buenos Aires anunciou a "conclusão da visita apostólica feita por dom Martín De Elizalde, bispo emérito de Santo Domingo, e irmã Isabel Guiroy, ao convento São Bernardo".

A nomeação do assistente será feita através de "um decreto imediato" no qual serão indicados os poderes e a pessoa nomeada.

A visita ao mosteiro de São Bernardo, em 30 de março de 2022, "foi feita da forma adequada, correta e com competência, e os visitadores cumpriram exaustivamente a atribuição que lhes foi atribuída", diz o texto.

Indicações da Santa Sé às carmelitas descalças de Salta

O dicastério determinou que a comunidade das irmãs carmelitas de Salta "não deve de forma alguma se envolver em atividades ligadas à conhecida 'Obra eu sou a Imaculada Mãe do Divino Coração Eucarístico de Jesus e eu sou o Sacratíssimo Coração Eucarístico de Jesus' e apoiar esta atividade".

A obra mencionada tem relação com supostas aparições de Nossa Senhora e Jesus Cristo a fiel de Salta, María Livia Galliano de Obeid, desde 1990 e que continuaria até hoje.

O dicastério esclareceu que "cabe ao bispo local, ou através dele à competente Congregação da Sé Apostólica, discernir sua veracidade e autorizar as práticas de culto neste contexto".

"A comunidade das irmãs de Salta é obrigada a observar rigorosamente as regras de lei a esse respeito, incluindo a estrita observância da clausura monástica", continuou o texto.

Recordou também que "permitir que os fiéis leigos morem de forma permanente nos terrenos do mosteiro, participem regularmente na vida da comunidade monástica, e permitir que os peregrinos tenham acesso aos terrenos do mosteiro, constitui uma clara implicação" da comunidade carmelita nos assuntos da suposta aparição.

As ações das monjas, diz o dicastério, vão "contra a vontade do bispo e dos padres da diocese, o que leva a uma divisão da comunidade eclesial local e a conflitos aos quais a documentação se refere".

"O mosteiro, ao permitir que a 'vidente', senhora María Livia Galiano de Obeid, viva em suas próprias instalações e ao destinar alguns espaços para peregrinos próximos a este contexto, está claramente envolvido completamente nesta obra, contra a vontade da Igreja local", destacou a Santa Sé.

O comunicado também destaca enfaticamente que a comunidade das carmelitas descalças de Salta "deve viver plenamente o carisma carmelita, não uma obra que em consequência leva a situações de tensão".

"Por isso, recomenda-se também uma formação renovada no espírito da regra e segundo a tradição carmelitana, observando a própria tradição da vida monástica. Em diálogo com o bispo local, deveria ser instituída uma forma estável de encontros regulares, que serviriam para lidar com situações problemáticas de forma contínua", acrescenta o texto.

Outro ponto mencionado no comunicado é que, embora o mosteiro de São Bernardo "goze da devida autonomia", o "bispo tem o direito de visitar o mosteiro e de receber, e a priora o dever de apresentar um relatório anual sobre a administração dos bens e sobre a economia do mosteiro".

"A administração dos bens temporais do mosteiro deve ser transparente e apresentada à comunidade em todos os seus aspectos, porque os bens temporais são bens de toda a comunidade e a priora e a ecônoma são apenas suas administradoras em nome da comunidade", disse o dicastério.

Denúncias das carmelitas descalças contra o arcebispo de Salta

Em 12 de abril, três freiras carmelitas descalças de Salta fizeram uma denúncia contra dom Cargnello ao Escritório da Família e Violência de Gênero (OVFG) do Poder Judiciário de Salta, alegando que ele cometeu violência de gênero e assédio contra a priora e as religiosas.  

O caso está atualmente na Vara de Violência Familiar e de Gênero nº 3, a cargo da juíza María Carolina Cáceres Moreno. A imprensa local informou que o arcebispo de Salta prestará seu depoimento ao juiz no dia 3 de maio.

"O que a denúncia busca é que o perigo termine e os atos de violência física e/ou psicológica contra a priora e também contra as outras irmãs carmelitas que estão dentro do mosteiro. O que elas estão sofrendo é por causa de sua condição de mulheres. Também é agravado pela desigualdade na relação de poder que implica a superioridade hierárquica que o arcebispo tem no nível eclesiástico", disse ao Infobae a advogada das religiosas, Claudia Zerda Lamas.

A ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, entrou em contato com a arquidiocese de Salta por e-mail para saber sua posição sobre a acusação.

Eduardo Jesús Romani, advogado da arquidiocese, respondeu que a denúncia apresentada à Vara de Família e Violência de Gênero nº 3 "é genérica e nenhum dos fatos constitui violência de gênero".

"[Dom Cargnello] é acusado de violência moral e econômica. É evidente que esta situação não existe nem está documentada nos autos, já que a relação sempre se baseou nas obrigações que o bispo tem para com o convento. Entendemos que a denúncia tem como pano de fundo a relação com a chamada 'Virgen del Cerro'", disse o advogado.

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Por fim, Romani afirmou que a arquidiocese está "preocupada com a situação das freiras, pois acreditamos que as mesmas são manipuladas" por aqueles que promovem a suposta aparição mariana em Salta. "Isso emerge claramente de todos os fatos em estudo", disse o advogado.

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