22 de dezembro de 2024 Doar
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A Santa Sé enviou um "investigador secreto" antes de demitir bispo em Porto Rico?

Imagem ilustrativa. Crédito: Daniel Ibáñez (ACI)

A Santa Sé enviou secretamente um cardeal à diocese de Arecibo, em Porto Rico, como visitador apostólico antes de demitir seu bispo, dom Daniel Fernández Torres?

Quatro padres ouvidos por ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, sob condição de anonimato, por medo de represálias, disseram que o administrador apostólico de Arecibo, dom Álvaro Corrada del Río, jesuíta e bispo emérito de Mayagüez, disse aos padres e aos diáconos da diocese que a Santa Sé enviou pelo menos um cardeal como visitador apostólico (investigador) "secreto".

Segundo os padres, dias depois de se tornar oficial a demissão de dom Fernández Torres, o administrador apostólico convocou o clero de Arecibo para uma reunião.

Nessa reunião, vários padres questionaram dom Corrada del Río sobre a demissão do bispo que para eles foi injusta.

Um dos padres criticou que, embora dom Daniel Fernández Torres tenha sido demitido sem nenhum processo, nenhum bispo na Alemanha teve destino semelhante, apesar de várias declarações contra a doutrina da Igreja Católica e do polêmico Caminho Sinodal, que discute a forma como o poder é exercido na Igreja, a moral sexual, o sacerdócio e o papel da mulher.

Por causa das preocupações do clero de Arecibo, como recordam os padres, o administrador apostólico "mencionou que o cardeal (Blase) Cupich, de Chicago, fez uma visita apostólica" no final de outubro do ano passado.

O cardeal Cupich, arcebispo de Chicago, Estados Unidos, visitou Porto Rico entre 25 e 28 de outubro de 2021, na qualidade de chanceler da Catholic Extension, organização americana que arrecada fundos para projetos de ajuda a diferentes dioceses católicas em dificuldade.

Em um comunicado divulgado em 28 de outubro de 2021, a Catholic Extension disse que a visita fazia parte do trabalho para ajudar as seis dioceses que existem em Porto Rico após a passagem dos furacões Maria e Irma em 2017, além de vários terremotos na ilha.

Um dos padres entrevistados por ACI Prensa lembrou que o atual administrador apostólico de Arecibo disse que "o cardeal Cupich veio, e veio como uma pessoa que ia fazer seu relatório, ele fez seu relatório e esteve aqui por alguns dias".

Outro padre disse que durante o encontro com o clero de Arecibo, dom Corrada del Río disse que o bispo demitido não havia dito "tudo o que sabia, porque sabia que havia uma visita apostólica, e naquela ocasião mencionou que o cardeal Cupich, de Chicago, fez essa visita apostólica".

Dom Daniel Fernández Torres foi demitido pelo papa Francisco em 9 de março deste ano. Ocomunicado da sala de imprensa da Santa Sé não falou sobre os motivos que levaram à demissão.

Dois dias depois, o arcebispo de San Juan de Porto Rico, dom Roberto Octavio González Nieves, disse que a demissão foi só por causa de "insubordinação ao papa".

Segundo ACI Prensa soube antes da destituição do bispo, pelo menos dois fatores poderiam ter influenciado a decisão da Santa Sé.

O primeiro seria a recusa inicial do atual bispo emérito de Arecibo em transferir os seminaristas de sua diocese para o novo seminário interdiocesano de Porto Rico, aprovado pela Santa Sé no início de março de 2020.

O outro fator seria a defesa do bispo de Arecibo do direito dos fiéis católicos à objeção de consciência à vacinação obrigatória em comunicado publicado em 17 de agosto de 2021, seguindo as orientações emitidas mais de meio ano antes pela Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé.

Dom Fernández Torres se recusou dias depois a assinar uma declaração conjunta da Conferência Episcopal de Porto Rico que dizia: "há um dever de se vacinar e que não vemos como se pode invocar uma objeção de consciência a partir da moral católica".

Essas posições teriam levado outros bispos porto-riquenhos a acusá-lo perante a Santa Sé de uma suposta falta de colegialidade.

Outro dos padres entrevistados por ACI Prensa expressou sua frustração com o que descreveu como "o envio de um espião, não uma visita apostólica". "Porque entendo que a visita apostólica é anunciada. Não é anunciado aos quatro ventos, mas vem com uma agenda", disse.

"Teriam que ter perguntado a nós (o clero de Arecibo), não somente à conferência episcopal", disse.

As consultas enviadas por ACI Prensa à arquidiocese de Chicago nos dias 20 e 22 de abril sobre a suposta visita apostólica do cardeal Cupich à diocese de Arecibo não obtiveram resposta.

A Catholic Extension disse à ACI Prensa que "a visita do cardeal Cupich a vários locais do ministério de Catholic Extension em Porto Rico foi bem divulgada e nem seu propósito nem o conteúdo de suas reuniões eram secretos. Apresentá-los como tal é falso".

Perguntado sobre se alguma vez tinha sido informado de alguma visita apostólica à sua diocese antes da sua demissão, dom Daniel Fernández Torres disse à ACI Prensa: "Nunca fui informado ou tive conhecimento de qualquer visita apostólica à diocese de Arecibo ou relacionada com esta, nem o cardeal Cupich me disse nada sobre isso".

"Esta declaração abrange não só o período recente, mas todo o tempo de meu serviço à diocese de Arecibo como bispo", disse ele.

A ACI Prensa também enviou uma consulta ao administrador apostólico de Arecibo sobre sua afirmação da visita apostólica secreta. Dom Álvaro Corrada del Río respondeu que "só sei que o cardeal Blase Cupich, arcebispo de Chicago, visitou a diocese de Arecibo. Minha suposição é um erro".

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Um padre lamentou a situação que a diocese de Arecibo está passando, com a demissão de dom Fernández Torres. "Se fizeram isso com o bispo, imagina conosco", disse.

Outro disse que ficou "triste", porque "acho que a Igreja não deve agir arbitrariamente, acho que todos merecemos um julgamento".

"Se isso acontecesse comigo amanhã, Deus me livre, sou acusado de algo como padre, eu gostaria de um julgamento claro e justo", disse.

"Nunca vi falta de obediência ao papa (em Arecibo). Sempre o tomamos, lemos com amor filial, seguimos as indicações de Sua Santidade", disse outro padre.

Um dos padres lamentou que após a demissão do bispo de Arecibo "somos prisioneiros de qualquer arbitrariedade" e "não há direito que seja válido, o direito acabou".

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