Vaticano, May 9, 2022 / 15:28 pm
O cardeal George Pell, prefeito emérito da Secretaria de Economia da Santa Sé, criticou o cardeal Angelo Becciu, que renunciou em 2020 a seus direitos relacionados ao cardinalato, por sua declaração "incompleta" no julgamento em que, com outros, é acusado de suposta corrupção financeira.
"Ontem, quinta-feira, 5 de maio de 2022, no tribunal do Vaticano, o cardeal Becciu fez uma defesa efusiva de seu irrepreensível papel subordinado nas finanças do Vaticano. No entanto, sua declaração foi um pouco incompleta", diz o cardeal Pell em comunicado divulgado na sexta-feira (6), ao qual a ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, teve acesso.
O cardeal Pell disse que Becciu "não explicou a rejeição da Secretaria de Estado ao papel de supervisão do novo Conselho e da Secretaria de Economia. Ele não explicou seu papel na demissão dos auditores da PriceWaterhouseCoopers, nem na renúncia do auditor, Libero Milone, que tinha mandato para investigar as finanças do Vaticano".
O cardeal Becciu foi substituto da Secretaria de Estado da Santa Sé entre 2011 e 2018, ano em que o papa Francisco o criou cardeal e o nomeou prefeito da Congregação para as Causas dos Santos. Ele renunciou a este cargo em 2020, aos 72 anos, após as acusações de corrupção.
Em seus anos como substituto, o cardeal Becciu teria se envolvido em alguns escândalos financeiros, como o investimento de centenas de milhões de euros da Secretaria de Estado, com o empresário italiano Rafaelle Mincione, e a polêmica compra de um prédio em Londres, Reino Unido.
O cardeal Pell também se referiu ao "estranho relato" de Becciu "sobre como a Secretaria de Estado gastou todo o dinheiro do Óbolo de São Pedro ('O que restava então do Óbolo? Nada!'), e como está em oposição à publicidade oficial do fundo, à compreensão do povo católico e ao relatório financeiro anual do Vaticano".
Segundo informou o jornal italiano L'Espresso em 2021, o cardeal Becciu entregou o controle de milhões de euros dos fundos de investimento do Vaticano provenientes da Secretaria de Estado e do Óbolo de São Pedro ao empresário Enrico Crasso, ex-diretor do Credit Suisse.
Crasso também é diretor do Centurion Global Fund, um fundo de investimento empregado pela Secretaria de Estado com vínculos com bancos suíços investigados ou implicados em subornos e escândalos de lavagem de dinheiro.
O cardeal Pell disse que comentar sobre o papel da Administração do Patrimônio da Sé Apostólica (APSA) é "irrelevante, porque nunca teve um papel de supervisão das finanças da Secretaria de Estado".
A principal crítica do cardeal Pell ao cardeal Becciu
Em sua declaração, o cardeal Pell destacou que seu "principal objetivo é comentar a parte final dos 2,3 milhões de dólares australianos pagos à Neustar pelo domínio de Internet '.catholic', em 9 de abril de 2015. O pagamento foi feito pelo Pontifício Conselho para as Comunicações Sociais ou pela Secretaria de Estado? A introdução deste alegado só aprofunda o mistério."
"O que o cardeal Becciu disse no tribunal do Vaticano também é interessante, diferente do que ele me disse em 17 de dezembro de 2020, explicando que os fundos enviados da Secretaria de Estado para a Austrália não eram problema meu, mas era algo que o Santo Padre sabia", continuou o cardeal Pell.
Como prefeito da Secretaria para a Economia, o cardeal Pell tinha a missão de supervisionar os movimentos financeiros na Santa Sé, missão que lhe foi confiada pelo papa entre 2014 e 2018.
"Meu interesse se concentra em quatro pagamentos no valor total de 2,3 milhões de dólares australianos feitos pela Secretaria de Estado em 2017 e 2018 à Neustar Austrália, dois dos quais, no valor de 1,23 milhão, foram autorizados por dom Becciu em maio de 2017 e em junho de 2018. Obviamente, são pagamentos diferentes ao de 2015 que supostamente autorizei", questionou o cardeal Pell.
Após o confronto entre os cardeais Pell e Becciu, ressurgiu uma antiga denúncia contra Pell por abuso sexual quando era bispo na Austrália. O cardeal Pell pediu permissão para deixar temporariamente o Vaticano e se defender.
Após uma primeira condenação, o cardeal Pell foi finalmente declarado inocente das acusações de abuso.
Segundo diferentes reportagens dos meios de comunicação na Itália, Becciu teria enviado 700 mil euros para a Austrália durante o julgamento de Pell. A acusação foi feita por monsenhor Alberto Perlasca, que trabalhou com Becciu na Secretaria de Estado.
Sobre o dinheiro enviado por Becciu à Austrália, o cardeal Pell questionou: "Qual foi o propósito? Para onde foi o dinheiro depois de Neustar? Veremos".
"A verdade é filha do tempo", concluiu.
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