9 de dezembro de 2024 Doar
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Chaves para compreender o “terceiro segredo” de Fátima

Nossa Senhora de Fátima | Flickr Our Lady of Fátima Pilgrim Statue (CC-BY-SA-2.0)

As aparições da Virgem de Fátima são conhecidas pelo “segredo” – dividido em três partes – que foi divulgado à humanidade.

Dessas três partes, a mais famosa é a terceira, conhecida normalmente como o “terceiro segredo” e mantida de maneira confidencial no Vaticano até o ano 2000, quando são João Paulo II decidiu publicá-lo ao mundo inteiro.

A seguir, apresentamos oito chaves para compreender este “terceiro segredo”:

1. Qual é a terceira parte do segredo ou “terceiro segredo”?

Isto é o que irmã Lúcia escreveu:

“Depois das duas partes que já expus, vimos ao lado esquerdo de Nossa Senhora um pouco mais alto um Anjo com uma espada de fogo em a mão esquerda; ao cintilar, despedia chamas que parecia que iam incendiar o mundo; mas apagavam-se com o contato do brilho que da mão direita expedia Nossa Senhora ao seu encontro: O Anjo apontando com a mão direita para a terra, com voz forte disse: Penitência, Penitência, Penitência! E vimos numa luz imensa que é Deus: ‘algo semelhante a como se veem as pessoas num espelho quando lhe passam por diante’ um Bispo vestido de Branco ‘tivemos o pressentimento de que era o Santo Padre’. Vários outros Bispos, Sacerdotes, religiosos e religiosas subiam uma escabrosa montanha, no cimo da qual estava uma grande Cruz de troncos toscos como se fora de sobreiro com a casca; o Santo Padre, antes de chegar aí, atravessou uma grande cidade meia em ruínas, e meio trêmulo com andar vacilante, acabrunhado de dor e pena, ia orando pelas almas dos cadáveres que encontrava pelo caminho; chegado ao cimo do monte, prostrado de joelhos aos pés da grande Cruz foi morto por um grupo de soldados que lhe dispararam vários tiros e setas, e assim mesmo foram morrendo uns após outro os Bispos Sacerdotes, religiosos e religiosas e várias pessoas seculares, cavalheiros e senhoras de várias classes e posições. Sob os dois braços da Cruz estavam dois Anjos cada um com um regador de cristal em mão, neles recolhiam o sangue dos Mártires e com ele regavam as almas que se aproximavam de Deus”.

2. A que se refere o segredo?

Em uma carta escrita no dia 12 maio de 1982 dirigida a são João Paulo II, irmã Lúcia escreveu:

“A terceira parte do segredo é uma revelação simbólica, que se refere a este trecho da Mensagem, condicionada ao facto de aceitarmos ou não o que a Mensagem nos pede: ‘Se atenderem a meus pedidos, a Rússia converter-se-á e terão paz; se não, espalhará os seus erros pelo mundo, causando guerras e perseguições à Igreja. Os bons serão martirizados, o Santo Padre terá que sofrer muito, várias nações serão aniquiladas’”.

Em termos gerais, a terceira parte do segredo se refere ao conflito do século XX entre a Igreja e a Rússia comunista.

3. O que simboliza o anjo com a espada de fogo?

O anjo com a espada de fogo representa o julgamento que cairia sobre o mundo se não fosse pela intercessão de Maria (que irradia a luz que detém a espada de fogo).

Durante muitos anos houve rumores de que a terceira parte do segredo era acerca da possibilidade de uma guerra nuclear. Se há algo no texto que sugere isto, é o fogo da espada que a irmã Lúcia descreveu como algo que “deixaria o mundo em chamas”.

Na Escritura, o fogo pode ser uma imagem de julgamento ou de conflito em geral. Em seu comentário sobre a espada de fogo sustentada pelo anjo, o cardeal Ratzinger parece fazer menção a uma guerra nuclear:

“A possibilidade que este acabe reduzido a cinzas num mar de chamas, hoje já não aparece de forma alguma como pura fantasia: o próprio homem preparou, com suas invenções, a espada de fogo”. (Comentário Teológico)

Durante a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria em 1984, a segunda prece de são João Paulo II foi:

“Da incalculável autodestruição, de todo tipo de guerra, livrai-nos”. (Cardeal Angelo Sodano)

4. O que representa o bispo vestido de branco e sua viagem?

O terceiro segredo revela que os videntes, logo depois de ver uma imensa luz proveniente de Deus, tiveram “o pressentimento de ver o papa”. Além disso, o Santo Padre junto a outras pessoas subiu uma montanha elevada “em cuja cúpula havia uma grande Cruz de troncos toscos”.

As montanhas são lugares tradicionais onde o homem se encontra com Deus, a difícil escalada de uma montanha significa a perseverança necessária para seguir Deus. A robustez da cruz representada na visão simboliza a intensidade dos sofrimentos de Cristo e quem os compartilha.

A viagem do papa e seus acompanhantes “através da cidade em ruínas” sugere que a Igreja deverá atravessar a destruição causada pela guerra e que se refere ao sofrimento do Pontífice, pois é incapaz de detê-la. Isto reflete a experiência de muitos papas do século XX.

5. O que significa a aparente morte do bispo vestido de branco?

Isto parece fazer referência à tentativa de assassinato de são João Paulo II, no dia 13 de maio de 1981, no aniversário da primeira aparição da Virgem da Fátima.

Isto demonstra que ele, do mesmo modo que muitos outros membros da Igreja, deve enfrentar a possibilidade do martírio durante o conflito entre a Igreja e o comunismo russo.

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Os críticos da interpretação dada pela Santa Sé apontam o fato de que são João Paulo II não morreu. Para isto, há duas respostas:

(1) Se na visão de Lúcia tinham atirado no papa e ele caiu por terra, ela pode ter pensado que foi assassinado, mas na verdade somente tinha sido gravemente ferido.

(2) A intercessão de Maria mudou o que podia ter acontecido. Depois de ler o terceiro segredo, são João Paulo II atribuiu sua sobrevivência à Maria. O então cardeal Ratzinger comentou a respeito o seguinte:

“Que uma ‘mão materna’ tenha desviado a bala mortal mostra uma vez mais que não existe um destino imutável, que a fé e a oração são poderosas, que podem influir na história e, que ao final, a oração é mais forte que as balas, a fé mais potente que as divisões”.

6. O que quer dizer que os anjos carregam uma jarra de cristal na mão?

Os anjos que “recolhiam o sangue dos mártires e regavam com ela as almas que se aproximavam de Deus” são um poderoso símbolo da salvação e ensinam a importância do seu sangue. “Padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo” (Col 1,24).

O cardeal Ratzinger afirmou: “A visão da terceira parte do ‘segredo’, tão angustiante nesse então, foi finalizada, pois, com uma imagem de esperança: nenhum sofrimento acontece em vão e, precisamente, uma Igreja que sofre, uma Igreja de mártires, se converte em sinal orientador a fim de que o homem saia em busca de Deus”.

7. O Vaticano já revelou todo o segredo?

Apesar de alguns afirmarem o contrário, o Vaticano revelou todo o segredo. Em seu comentário teológico, Bento XVI o assinala duas vezes:

(1) “Quem lê com atenção o texto do chamado terceiro ‘segredo’ de Fátima, que depois de longo tempo, por disposição do Santo Padre, é aqui publicado integralmente, ficará presumivelmente desiludido ou maravilhado depois de todas as especulações que foram feitas. Não é revelado nenhum grande mistério; o véu do futuro não é rasgado. Vemos a Igreja dos mártires deste século que está para findar, representada através de uma cena descrita numa linguagem simbólica de difícil decifração”.

(2) “Chegamos assim, finalmente, à terceira parte do ‘segredo’ de Fátima publicado integralmente aqui pela primeira vez”.

8. Existem outras interpretações possíveis do “terceiro segredo”?

Como a Santa Sé não definiu infalivelmente a matéria, são possíveis outras interpretações. Mas isto não significa que outras interpretações sejam racionais, sobretudo se forem separadas das linhas principais da interpretação dada pela Santa Sé.

A própria irmã Lúcia indicou que estava de acordo com a interpretação oferecida pelo Vaticano: "Irmã Lúcia esteve de acordo na interpretação segundo a qual a terceira parte do segredo consiste em uma visão profética comparável às da história sagrada. Reiterou sua convicção de que a visão de Fátima se refere especialmente à luta do comunismo ateu contra a Igreja e os cristãos, e descreve o imenso sofrimento das vítimas da fé no século XX". (Cardeal Tarcísio Bertone)

Texto publicado originalmente no jornal católico norte-americano National Catholic Register.

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