22 de novembro de 2024 Doar
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Arcebispo de San Juan estaria envolvido na demissão de um bispo em Porto Rico

Dom Roberto Octavio González Nieves | Arquidiocese de San Juan de Puerto Rico

Um documento que está há semanas no Vaticano ainda sem resposta, apontaria um papel chave do arcebispo de San Juan, Porto Rico, dom Roberto González Nieves, na demissão do bispo de Arecibo, dom Daniel Fernandez Torres.

Em 9 de março, a Santa Sé anunciou que o papa Francisco demitiu dom Fernández Torres do cargo de bispo de Arecibo. Ele tinha 57 anos, 18 anos antes da idade em que os bispos devem oferecer sua renúncia.

O documento, intitulado "Deus Sempre é Maior", feito pelos assessores jurídicos do bispo emérito, afirma que dom Fernández Torres "nunca" recebeu um "decreto de remoção", nem lhe foi dada "nenhuma razão para esta ação oficialmente ou por escrito".

O documento diz que em 1º de outubro de 2021, o núncio apostólico na República Dominicana e delegado apostólico em Porto Rico, dom Ghaleb Moussa Abdalla Bader, disse a dom Fernández Torres "que deveria renunciar porque 'não tinha sido obediente ao papa' nem 'teve suficiente comunhão com seus irmãos bispos de Porto Rico'".

"Até hoje, o bispo Fernández não foi informado exatamente como ele foi desobediente ao papa ou como seus desacordos com algumas das ações de seus colegas bispos quebraram a comunhão".

Dom Fernández Torres também não "foi acusado, verbalmente ou por escrito, de um crime ou contravenção por qualquer autoridade superior competente".

"Ele não foi informado ou instruído sobre como seu ministério se tornou prejudicial ou ineficaz por qualquer razão. Não houve investigação antes do decreto de nomeação para substituir dom Fernández por um Administrador Apostólico".

A ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, apurou pelo menos dois fatores que pesaram na demissão do bispo.

O primeiro seria a recusa inicial do bispo de Arecibo em transferir os seminaristas de sua diocese, atualmente em formação na Universidade de Navarra, Espanha, para o novo seminário interdiocesano de Porto Rico, aprovado pela Santa Sé no início de março de 2020.

O outro fator foi a defesa do bispo de Arecibo do direito dos fiéis católicos à objeção de consciência à vacinação obrigatória em comunicado publicado em 17 de agosto de 2021, seguindo as orientações emitidas mais de meio ano antes pela Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé. O documento da CDF diz que "para a razão prática parece evidente que, em geral, a vacinação não é uma obrigação moral e, por conseguinte, deve ser voluntária".

Alguns dias depois, Dom Fernández Torres recusou-se a assinar uma declaração da Conferência Episcopal de Porto Rico que dizia: "há um dever de se vacinar e que não vemos como se pode invocar uma objeção de consciência a partir da moral católica".

Dois dias após a demissão do bispo de Arecibo, através do Twitter, o arcebispo de San Juan respondeu às "especulações" sobre a saída do bispo Fernández Torres e disse que sua demissão foi por causa de sua "insubordinação ao papa".

As queixas do arcebispo de San Juan contra o bispo de Arecibo

Um dos anexos do relatório que está no Vaticano é uma carta enviada em setembro de 2009 pelo arcebispo de San Juan ao então delegado apostólico de Porto Rico, dom Józef Wesołowski, sobre dom Fernández Torres.

Na carta, dom González Nieves se opõe abertamente a que dom Daniel Fernández Torres seja nomeado bispo de Arecibo e recorda que não concordou com sua eleição, dois anos antes, como bispo auxiliar de San Juan.

"Quase nunca senti seu apoio", disse o arcebispo de San Juan em sua carta, dizendo que o atual bispo emérito de Arecibo tinha "um pobre espírito colegial".

Embora reconheça que dom Fernández Torres "é uma pessoa muito inteligente, ortodoxa e capaz na gestão administrativa", o arcebispo de San Juan disse que "falta-lhe a qualidade humana para servir como bispo diocesano" e "falta-lhe o afeto colegial tão necessário à unidade entre os bispos".

Ao final de sua carta, o arcebispo de San Juan pediu que o arcebispo Daniel Fernández Torres fosse enviado de Porto Rico, para "uma diocese nos Estados Unidos com forte concentração de hispânicos, para que possa amadurecer em seu processo de formação episcopal".

Apesar dos desejos de dom González Nieves, dom Fernández Torres foi nomeado bispo de Arecibo em 2010 por Bento XVI.

O problema das vacinas obrigatórias

As tensões sobre a falta de "comunhão" do bispo de Arecibo ressurgiriam durante a Assembleia Plenária Extraordinária da Conferência Episcopal de Porto Rico em 27 de agosto de 2021, na qual os bispos debateram "a questão da vacinação com uma frente comum em espírito sinodal".

A Assembleia Plenária foi realizada dez dias depois que o bispo de Arecibo, seguindo as indicações da Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé, disse que "é possível que um fiel católico tenha objeção de consciência à suposta vacinação obrigatória contra a Covid-19".

Perante a obrigatoriedade da vacinação imposta pelas autoridades civis da ilha, Fernández Torres deu autorização aos sacerdotes da sua diocese para assinarem isenções para quem as solicitasse.

Três dias antes da assembleia, a Conferência Episcopal de Porto Rico, sem a assinatura de dom Fernández Torres, declarou em comunicado que era um dever vacinar-se e que não havia lugar para objeção de consciência.

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Segundo a ata da Assembleia Plenária, ao contrário do que defende o bispo de Arecibo e a Congregação para a Doutrina da Fé da Santa Sé, "dom Roberto (González Nieves) lembra que a única alternativa atual é a vacinação."

"Infelizmente estamos numa situação difícil de divisão causada pelo comunicado publicado pelo bispo de Arecibo", acrescenta a ata da assembleia episcopal.

O arcebispo de San Juan, apoiado pela maioria dos bispos porto-riquenhos e pelo próprio delegado apostólico, disse que "o governo tem autoridade para obrigar em algumas coisas, como fez no passado com outras vacinas".

No final da assembleia, de acordo com a ata, "dom Roberto sugere a dom Daniel que tire um tempo para refletir e depois decida assinar o documento para que possa sair como sendo de toda a Conferência".

Tentativa de silenciar uma senadora católica

Em dezembro de 2021, dois meses depois que o delegado apostólico de Porto Rico pediu verbalmente a renúncia do bispo de Arecibo, uma senadora católica pediu uma reunião com o representante do papa para expressar sua preocupação com o caso.

Depois de ter a reunião negada, segundo o relatório que está no Vaticano, a senadora recebeu dois e-mails sem relação aparente com o arcebispo de San Juan "enviados depois das 21h, questionando sua opinião pública conservadora sobre assuntos de família".

Dias depois, em janeiro de 2022, "o arcebispo González enviou um e-mail a todos os bispos de Porto Rico" com conteúdo crítico contra a senadora.

Os advogados da senadora enviaram então uma carta ao arcebispo de San Juan alertando-o sobre uma possível "ação judicial" por "ações repressivas" que teriam buscado silenciar a legisladora católica.

Os advogados destacaram que "é curioso e preocupante" a coincidência das mensagens do arcebispo de San Juan com a tentativa da senadora de se reunir com o Delegado Apostólico de Porto Rico "para falar sobre outras confidências que recebeu relacionadas a supostas irregularidades que estão acontecendo na Igreja Católica em Porto Rico e que, entre outras coisas, querem provocar a saída de dom Daniel Fernández Torres como bispo da diocese de Arecibo".

Em 10 de junho, a ACI Prensa enviou uma série de consultas à arquidiocese de San Juan sobre a possível participação de dom Roberto González Nieves no processo que levou à demissão do atual bispo emérito de Arecibo.

Até o fechamento desta edição, nem dom Roberto González Nieves nem sua equipe de imprensa responderam.

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