18 de dezembro de 2024 Doar
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Daniel Ortega odeia a Igreja Católica na Nicarágua, diz pesquisadora

Daniel Ortega. Crédito: Fernanda LeMarie | Ministério das Relações Exteriores do Equador (CC BY-SA 2.0).

A autora de um extenso relatório que compila os quase 200 ataques que a Igreja Católica sofreu na Nicarágua em menos de quatro anos adverte que Daniel Ortega e sua esposa, Rosario Murillo, "sempre odiaram a Igreja Católica e tudo o que reflete a fé cristã”.

Em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, a advogada Martha Patricia Molina Montenegro, membro do Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção, denunciou que a Nicarágua vive atualmente "uma ditadura excessivamente sangrenta" de Ortega e Murillo, que atualmente é vice-presidente do país.

Montenegro disse que é "uma ditadura que gosta que a população aplauda e bajule a barbárie que está cometendo, as arbitrariedades, o nepotismo, a corrupção, etc".

A advogada nicaraguense é autora do relatório “Nicarágua: uma igreja perseguida? (2018-2022)”, que reúne 190 ataques contra a Igreja Católica no país, sob o regime de Ortega e Murillo.

Montenegro disse que este é o primeiro de vários relatórios que está preparando. “Acho que até o final de julho terei a segunda parte”, disse.

Para Montenegro, os atos de violência na Nicarágua se devem ao fato de que "a Igreja Católica não está disposta a bajular ninguém".

Segundo Montenegro, “os padres e bispos abriram suas portas”, pois levam esperança e conselhos aos nicaraguenses, que nos últimos anos e cada vez com mais força saíram às ruas para exigir pacificamente uma mudança de governo na Nicarágua.

Daniel Ortega, que governa a Nicarágua ininterruptamente desde janeiro de 2007, é um ex-guerrilheiro da Frente Sandinista de Libertação Nacional, que no final dos anos 1970 tirou do poder o ditador Anastasio Somoza Debayle.

Com a vitória da revolução sandinista, foi implementada uma Junta de Governo da qual Ortega participou. Em 1985, Ortega convocou eleições gerais e venceu, governando o país até 1990.

Como representante da FSLN, convertido de grupo guerrilheiro em partido político, Ortega fracassou nas eleições de 1990, 1996 e 2001.

No final de 2006, Ortega venceu as eleições presidenciais. Desde então, ele não renunciou ao poder, reelegendo-se duas vezes seguidas, em meio a acusações de fraude.

Em abril de 2018 aconteceram protestos em várias partes do país, após o anúncio de reformas na previdência social da Nicarágua, que implicaram aumentos de contribuições e deduções para aposentados.

Os protestos foram violentamente reprimidos pelo regime de Ortega, e mais de 300 mortes e centenas de feridos foram registrados.

Diante das mensagens a favor do respeito aos direitos humanos da Igreja Católica, o regime de Daniel Ortega e Rosario Murillo respondeu com violência contra templos, padres e bispos.

Martha Patricia Molina Montenegro destacou que "a resposta desta ditadura tem sido precisamente as hostilidades que mostramos neste estudo, que é um estudo científico baseado em evidências".

“Não estou inventando nenhum dos casos documentados, mas saíram de pronunciamentos, de denúncias feitas através das páginas e redes sociais das próprias igrejas ou também de comunicados, seja da arquidiocese de Manágua ou das diferentes dioceses que da Nicarágua”.

"Acho que este estudo vai ficar muito curto", disse ela, porque "sei que há muito mais casos do que os que compilei neste estudo".

Alguns padres e seminaristas agredidos, lamentou, "decidiram se calar, não falar sobre isso, e por isso também não pude publicar no meu estudo”.

Para Montenegro, “é preciso entender o sandinismo e a ditadura de Ortega-Murillo ao contrário: quando falam de amor, querem dizer ódio. E quando falam de paz, querem dizer guerra".

Como exemplo, lembrou que durante a visita do papa são João Paulo II à Nicarágua, em 4 de março de 1983, uma multidão sandinista tentou boicotar a missa. Foi o próprio papa que pediu silêncio e os lembrou que “a primeira que quer a paz é a Igreja”.

Quando Ortega voltou ao poder em 2007, disse a advogada, inicialmente "estabeleceu-se uma paz fictícia entre o Estado e a Igreja, mas na realidade o governo de Ortega sempre atacou a Igreja Católica, os padres e os bispos, precisamente porque não concordam com que os padres e bispos lhes digam a verdade”.

Os bispos enviaram uma carta de 16 páginas a Daniel Ortega em 2014, na qual pediram que ele tenha um "diálogo nacional", e trabalhe por um processo eleitoral transparente. Os bispos também disseram a Ortega que "os anos passam e ninguém é eterno".

Para Montenegro, o governo de Ortega não gostou que os “bispos e padres levantassem a voz mediante um documento que foi unânime e público”.

“Sempre odiaram a Igreja Católica e tudo o que reflete a fé cristã, a fé católica, mas acho que desde 2014, quando os bispos entregaram esta carta, é que eles têm mais ódio pela Igreja Católica”, disse.

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Montenegro disse que Daniel Ortega e Rosario Murillo buscam “construir uma ditadura dinástica, para que depois venham seus filhos, netos, etc.

“Realmente, o Estado da Nicarágua não existe mais, porque os elementos constitutivos de um Estado, que são a divisão de poderes, o governo, as leis e tudo o que o compõe, isso já é inexistente”.

"Então a Nicarágua agora não é um Estado, mas um território onde o mais forte governa e o mais forte é o casal presidencial", disse.

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