15 de dezembro de 2024 Doar
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É preciso anunciar o Evangelho para levar a alegria da fé ao mundo de hoje, diz o papa no Canadá

O papa prega durante as vésperas no Canadá | Vatican Media

"É preciso anunciar o Evangelho para dar a homens e mulheres de hoje a alegria da fé", disse o papa Francisco reunido com bispos, sacerdotes, diáconos e pessoas consagradas na Catedral de Notre-Dame de Québec, no Canadá, hoje (28).

"Nós, pastores da Igreja, somos solicitados à mesma generosidade para pastorear o rebanho, para que o pedido de Jesus por todos e sua compaixão pelas feridas de cada um", disse Francisco no quinto dia de sua viagem. "Exatamente porque somos sinal de Cristo, o apóstolo Pedro nos exorta: apascenta o rebanho, guia-o, não o deixes perecer enquanto cuidas dos teus próprios negócios. Cuide dele com dedicação e carinho".

Segundo o papa a alegria dos cristãos "não é uma alegria fácil, aquela que o mundo muitas vezes nos oferece, excitando-nos com fogos de artifício".

"Não está vinculado a riquezas e títulos; nem à persuasão de que a vida sempre nos correrá bem, sem cruzes nem problemas", continuou.

"A alegria cristã, por outro lado, está ligada a uma experiência de paz que permanece no coração mesmo quando estamos cercados de provações e aflições, porque sabemos que não estamos sozinhos, mas acompanhados por um Deus que não é indiferente ao nosso destino. Assim como quando o mar está agitado, ele parece turbulento na superfície e permanece sereno e calmo nas profundezas".

O papa disse que a alegria cristã é "um dom gratuito, a certeza de saber que somos amados, apoiados e abraçados por Cristo em todas as situações da vida".

Francisco, então, destacou a importância de "refletir sobre o que, na realidade do nosso tempo, põe em perigo a alegria da fé e ameaça obscurecê-la, colocando seriamente a experiência cristã em crise".

"Pensamos imediatamente na secularização, que há muito tempo transformou o estilo de vida das mulheres e dos homens de hoje, deixando Deus quase em segundo plano, como se tivesse desaparecido do horizonte", disse.

O papa alertou contra uma "visão negativa" que "frequentemente decorre de uma fé que, sentindo-se atacada, se concebe como uma espécie de "armadura" para se defender do mundo".

"Acusa amargamente a realidade, dizendo: 'o mundo é mau, o pecado reina', e assim corre o risco de assumir um 'espírito de cruzada'".

"Preste atenção nisso, porque não é cristão; na verdade, não é a maneira de agir de Deus, que – lembra-nos o Evangelho – 'amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho único para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna'", disse.

Para o Papa, "somos chamados a ter um olhar semelhante ao de Deus, que sabe distinguir o bem e se obstina em procurá-lo, em vê-lo e em nutri-lo. Não é um olhar ingênuo, mas um olhar que discerne a realidade".

Recordando são Paulo VI, o papa recordou que diferente da secularização "é o secularismo, uma concepção de vida que se separa totalmente do vínculo com o Criador, de modo que se torna 'supérfluo e até obstáculo' e 'novas formas sutis e variadas de ateísmo: "uma civilização de consumo, hedonismo erguido como valor supremo, desejo de poder e dominação, discriminação de todos os tipos".

"Como Igreja, sobretudo como pastores do Povo de Deus, como pastores, como consagradas, como consagrados, como seminaristas e como agentes pastorais, cabe a nós saber fazer essas distinções, discerni", disse o papa.

"Se cedermos ao olhar negativo e julgarmos superficialmente, corremos o risco de transmitir a mensagem errada, como se por trás da crítica à secularização houvesse, de nossa parte, a saudade de um mundo sacralizado, de uma sociedade de outros tempos. em que a Igreja e seus ministros tinham mais poder e relevância social", disse ele. "Esta é uma perspectiva errada".

Francisco disse que o anúncio do Evangelho "não se faz primordialmente com palavras, mas com um testemunho transbordante de amor gratuito, como Deus faz conosco".

"É um anúncio que pede para encarnar-se num estilo de vida pessoal e eclesial que possa reavivar o desejo do Senhor, infundir esperança, transmitir confiança e credibilidade. E sobre isso me permito, com espírito fraterno, propor três desafios que vocês saberão realizar na oração e no serviço pastoral".

Diante dos "desertos espirituais do nosso tempo, gerados pelo secularismo e pela indiferença", disse o papa, "é necessário voltar ao primeiro anúncio".

"Não podemos pretender comunicar a alegria da fé apresentando aspectos secundários a quem ainda não abraçou o Senhor em suas vidas, ou apenas repetindo certas práticas, ou reproduzindo formas pastorais do passado", disse.

Para o papa, "é necessário encontrar novas formas de anunciar o coração do Evangelho àqueles que ainda não encontraram Cristo".

"Isso pressupõe uma criatividade pastoral para chegar às pessoas onde vivem, descobrindo oportunidades de escuta, diálogo e encontro. É necessário voltar à essência e ao entusiasmo dos Atos dos Apóstolos, à beleza de nos sentirmos instrumentos da fecundidade do Espírito hoje".

O papa sublinhou também o desafio do "testemunho", porque "o Evangelho se anuncia efetivamente quando a vida é aquela que fala, aquela que revela aquela liberdade que liberta os outros, aquela compaixão que não pede nada em troca, aquela misericórdia que fala de Cristo sem palavras".

O papadestacou que "a Igreja no Canadá, depois de ferida e devastada pelo mal perpetrado por alguns de seus filhos, iniciou um novo caminho".

"Estou pensando em particular nos abusos sexuais cometidos contra menores e pessoas vulneráveis, crimes que exigem uma ação forte e uma luta irreversível. Gostaria, junto com vocês, de pedir desculpas novamente a todas as vítimas", disse. "A dor e a vergonha que experimentamos devem ser uma ocasião de conversão, nunca mais! E, pensando no caminho de cura e reconciliação com os irmãos e irmãs indígenas, que a comunidade cristã nunca mais se deixe contaminar pela ideia de que existe uma cultura superior às outras e que é legítimo usar meios de coação contra outros".

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O papa Francisco encorajou os católicos no Canadá a recuperar "o ardor de seu primeiro bispo, São Francisco de Laval, que se opôs a todos aqueles que degradaram os indígenas, induzindo-os a consumir bebidas para enganá-los".

"Não permitamos que nenhuma ideologia aliene e confunda os estilos e modos de vida de nossos povos para tentar dobrá-los e dominá-los", disse.

Por fim, o Santo Padre destacou o desafio da "fraternidade", especificando que "a Igreja será uma testemunha credível do Evangelho quando os seus membros viverem mais a comunhão, criando oportunidades e espaços para que aqueles que chegam à fé encontrem uma comunidade acolhedora, que sabe ouvir e dialogar, o que promove um bom nível de relacionamento".

Ao final de sua mensagem, o Papa Francisco dirigiu algumas palavras a São Francisco de Laval, enfatizando que ele era "o homem de compartilhar, visitar os doentes, vestir os pobres, lutar pela dignidade dos povos originários, sustentar os missionários cansados , sempre pronto para alcançar aqueles que estavam em pior situação do que você."

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