16 de dezembro de 2024 Doar
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Prisão onde governo de esquerda da Nicarágua prendeu padres é centro de tortura

Imagem ilustrativa | Unsplash

El Nuevo Chipote, ou simplesmente El Chipote, foi inaugurado em fevereiro de 2019 para substituir a antiga prisão de mesmo nome, e logo ficou conhecido como prisão de tortura. Lá o governo da Nicarágua mantém presos os padres Oscar Benavidez, Ramiro Tijerino, José Luis Diaz, Sadiel Eugarrios e Raúl González, os seminaristas Darvin Leyva e Melquín Sequeira, e o cinegrafista Sergio Cárdenas, que trabaha para a diocese de Matagalpa.

Com exceção de Benavidez, todos os outros foram presos na madrugada de sexta-feira (19), na cúria episcopal de Matagalpa, quando a polícia prendeu dom Rolando Álvarez, agora em prisão domiciliar.

Segundo Nicarágua investiga, o governo do presidente Daniel Ortega, ex-guerrilheiro, e sua mulher, Rosario Murillo, teria gasto cerca de 183 milhões de córdobas (cerca de US$ 5 milhões) na construção da nova prisão.

O site destaca que, embora já se soubesse que aconteciam torturas em El Chipote, isso ficou mais evidente desde maio de 2021, quando o governo fez uma onda de prisões de opositores, incluindo candidatos à presidência. Depois disso, Ortega ganhou a eleição presidencial pela quarta vez consecutiva. Somado a seu primeiro mandato eleito e aos período em que liderou o país depois de a Frente Sandinista de Libertação Nacional derrubou o governo, Ortega já está há 29 anos no poder.

O jornal argentino La Nación destaca que "El Chipote se tornou o calabouço mais sombrio do casal presidencial, mas também uma pedra angular da repressão", onde os guardas impedem que os presos conversem entre si.

Ana Chamorro de Holman, de 94 anos, disse que quando foi visitar seu filho Juan Lorenzo Holmann, gerente-geral do jornal La Prensa, os guardas praticamente a despiram para revistá-la. Juan Lorenzo estava à beira da cegueira e tinha problemas cardíacos.

La Nación também explica que alguns presos têm luz 24 horas por dia, enquanto outros estão sempre no escuro. Eles não podem ver familiares nem advogados.

O jornal argentino diz que "os supostos crimes de que são acusados, traição à pátria, lavagem de dinheiro, crimes cibernéticos, respondem a leis feitas sob medida pela Assembleia Nacional partidária de Ortega para criminalizar a oposição e não aparecem ainda refletidas no sistema do Poder Judiciário".

Depois de ouvir alguns familiares dos presos políticos ali detidos, a presidente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (Cenidh), Vilma Núñez, disse que El Chipote deveria ser chamado de "centro de tortura".

Para Núñez, "há uma exposição macabra dentro de El Chipote para que os prisioneiros entrem em colapso e para que aqueles de nós que estão do lado de fora, os companheiros e parentes, entremos em colapso".

Um sobrevivente do inferno

Um policial nicaraguense que desertou junto com outros colegas, após a repressão das manifestações de 2018 contra o governo Ortega, contou ao  La Voz de América como foi sua permanência na prisão de tortura.

"Eu que fui deixar muita gente lá, conheci, mas nunca pensei em viver isso pessoalmente, é um inferno total porque você sabe que está se encontrando com pessoas transformadas em monstros, pessoas que não têm coração e sabendo disso naquele lugar você não tem como respirar, falta ar, falta sol, falta tudo o que você precisa como ser humano".

Da Costa Rica, o ex-policial apresentado com o pseudônimo "Carlos" por motivos de segurança, contou: "Eu não conseguia dormir com meu corpo completamente torturado. Dentes foram arrancados, parte das minhas unhas dos pés foram arrancadas, choques elétricos, tirando minha vida de uma maneira que eu não esperava".

Ele diz ter chegado a pensar em cometer suicídio.

"Naquela prisão eles colocaram três de nossos companheiros, porque eu não fui o único a ser capturado, eles capturaram nove companheiros que desertaram", disse ele.

"Tive a oportunidade no sétimo dia de tirar minha própria vida, mas não descobri nem com que nem como, porque estava em um lugar incômodo, vi dois colegas de trabalho morrerem nos meus ombros, ensanguentados, violentados", disse Carlos chorando.

"Por causa das torturas que recebi, sentia que meu corpo não tinha mais vida. Só pensava na minha família naqueles momentos e em entregar a minha vida a Deus, que era o que eu tinha que fazer. Eu tive que dizer a Deus, aqui estou, me dê forças até onde eu aguentar", disse ele.

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