21 de dezembro de 2024 Doar
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Assembleia Legislativa de Minas fecha exposição que ataca símbolos religiosos

Obra "Descorpo", na exposição na Galeria de Arte da ALMG | Mova Brasil

Após denúncias de cristãos, a Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) encerrou na segunda-feira (19) uma exposição criticada por apresentar conteúdos que ferem o sentimento religioso ou são impróprios para menores de idade. As obras estavam expostas na Galeria de Arte do Espaço Político-Cultural Gustavo Capanema da ALMG desde 5 de setembro e a previsão era de que ficassem até 23 de setembro.

A exposição "Deslocamento" traz trabalhos do jornalista e poeta Carlos Barroso e tem a curadoria do escritor e ensaísta Anelito de Oliveira, professor da Universidade Federal de Minas Gerais.

A exposição foi denunciada inicialmente pelo Mova Brasil (Movimento de Valores), um movimento de leigos católicos que desejam defender os valores de vida, família e liberdade na política. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o diretor de formação do Mova Brasil, Uner Augusto de Carvalho Alvarenga, mostrou algumas peças que fazem parte da exposição. Entre elas, uma intitulada "Descorpo", em que uma estola vermelha foi colocada em um manequim sobre uma lingerie preta com parte dos seios a mostra. Em outro quadro há as mãos postas em oração e variações na expressão "sangue de Cristo" até se transformar em "sangue de dízimo". Outras peças fazem referência à cruz, sendo que uma dela associa a cruz à suástica nazista.

"O meu sentimento foi de ofensa aos nossos símbolos católicos. Tem várias obras ali que são de profundo mau gosto e atentam contra os símbolos religiosos. Eu fiquei muito ofendido e revoltado por ver aquilo acontecendo dentro da Assembleia Legislativa, um espaço público, um lugar que tem todas as condições de oferecer uma arte que realmente prestigie o povo mineiro. Mas não, eles se dão ao trabalho de colocar ali algo que atenta muito contra nossa fé", disse Uner em entrevista à ACI Digital.

Uner comentou ainda que outro fato que o surpreendeu foi que, "além das imagens que vilipendiam os símbolos religiosos tinha outra com vários frascos de remédios que, em vez de ter a descrição do remédio no rótulo, têm desenhos de corpos humanos em posições sexuais. Mas, a mostra é aberta a todas as pessoas, não tem nenhum controle de idade".

No domingo (18), o deputado estadual Carlos Henrique (Republicanos) publicou um vídeo em suas redes sociais em que também criticou a exposição por ferir o sentimento religioso. "Assim que tomei conhecimento da exposição, estive no local e verifiquei de perto o trabalho que estava sendo exibido. Sou defensor da cultura e entendo que a arte é livre, mas desde que respeite as pessoas e a Lei", disse o deputado à ACI Digital, recordando o artigo 208 do código penal.

Segundo este artigo, "escarnecer de alguém publicamente, por motivo de crença ou função religiosa; impedir ou perturbar cerimônia ou prática de culto religioso; vilipendiar publicamente ato ou objeto de culto religioso" é crime.

O deputado Carlos Henrique afirmou que, como "membro da mesa diretora da Assembleia Legislativa e como representante do povo mineiro, a primeira providência foi solicitar a retirada da exposição".

"O Estado é laico e respeitamos a crença e religiosidade de cada um. Em Minas Gerais, mais de 90% da população é cristã e este tipo de exposição é um ataque a nós cristãos", declarou o deputado. Além da retirada da exposição, Carlos Henrique disse que solicitou "uma avaliação mais criteriosa com relação ao que é exposto nas galerias deste espaço público".

O deputado informou à ACI Digital que as exposições na Galeria de Arte da ALMG são feitas por meio de edital e avaliadas por uma banca de profissionais da área, não tendo financiamento público. "O artista tem apenas o espaço para exibição do trabalho".

Para Uner Augusto, "ainda que não tenha financiamento direto, recursos sendo investidos nessa exposição, há a utilização do espaço público, a utilização de toda estrutura da Assembleia. Então, de alguma forma, estamos financiando isso".

O diretor de formação do Mova Brasil disse que procurou a polícia legislativa para denunciar a exposição e foi orientado a fazer um registro no CAC (Centro de Atendimento ao Cidadão). "Fizemos nosso registro. Mas, com medo de não dar em nada, fizemos um boletim de ocorrência na Polícia Militar. Vamos acompanhar para saber se essa investigação vai em frente", disse. Segundo ele, mesmo com o encerramento da exposição, "a investigação continua, porque o fato supostamente criminoso foi praticado".

Por meio do Instagram do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, o jornalista e autor da exposição Carlos Barroso classificou o encerramento da exposição como "censura". "Não devo nada a ninguém, foi edital de concorrência pública antes da pandemia. Hoje, ela [a exposição] sofreu uma interdição, desmonte, e vai ser transferida. Uma censura à liberdade de expressão, à arte, à cultura, como está acontecendo neste país com discursos de ódio de grupos que são contra a arte e a cultura", disse em vídeo.

O Sindicato também se manifestou contra a decisão da ALMG. "Trata-se de um ato de censura imposto pela casa legislativa a uma obra de arte após manifestação de um único parlamentar que questionou as referências à religião contidas no trabalho de Carlos Barroso. Causa-nos estranheza uma casa que se diz plural ceder à pressão de apenas um parlamentar, em detrimento de tantos outros que lá têm assento e que contribuem para a pluralidade no ambiente democrático. A interdição da mostra é mais um ato de intolerância que marca os dias de hoje", afirmou a entidade em nota.

ACI Digital entrou em contato com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais para que comentasse o caso, mas não houve resposta até o fechamento desta matéria.

Hoje (20), às 19h, o Mova Brasil fará um ato de desagravo pela exposição 'Deslocamento' em frente à Galeria de Arte da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

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