18 de dezembro de 2024 Doar
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Temos risco de segundo turno, diz Lula em carta ao papa Francisco

Lula | Captura de vídeo

O candidato à Presidência da República Luiz Inácio Lula da Silva (PT) enviou uma carta ao papa Francisco. No texto, o petista comentou a disputa eleitoral no Brasil e afirmou que "temos todos os riscos de um eventual segundo turno e depois a necessidade, em caso de vitória, de assegurar nossa posse".

A carta foi enviada por meio do vereador de São Paulo e candidato a deputado estadual Eduardo Suplicy (PT). Ele viajou para Assis, Itália, acompanhando uma delegação de brasileiros que vão participar do evento global da Economia de Francisco (EoF), de 22 a 24 de setembro.

"Estou indo para lá com algo tão especial, que é a carta que o presidente Lula acaba de assinar para o seu querido amigo papa Francisco", disse Suplicy em vídeo publicado ontem (20) em suas redes sociais.

Em um trecho da carta compartilhado por Suplicy em seu Twitter, Lula afirmou que, caso confirmada sua vitória, espera encontrar o papa Francisco "muito em breve" e "partilhar nossas esperanças e preocupações".

"Espero que possamos planejar juntos alternativas de construção de um amplo movimento que contribua para a superação da fome e da miséria, condições para que haja de fato paz e fraternidade no Brasil e no mundo todo. Sua santidade tem em mim um aliado para esta causa da qual se tornou um símbolo e um agente muito ativo", disse Lula.

O petista falou da superação de "diferenças políticas" na eleição e citou o seu vice, Geraldo Alckmin (PSB). "A começar da escolha do candidato a vice-presidente, Geraldo Alckmin, que foi meu adversário em 2006, homem íntegro e religioso, buscamos superar todas as diferenças políticas e ideológicas, para construir esta vitória que, se Deus quiser será de todo o povo brasileiro, mas especialmente dos mais pobres e sofridos".

Lula recordou ainda uma carta que recebeu do papa Francisco em 2019, quando estava preso em Curitiba (PR), e o encontro que teve com Francisco em 2020, no Vaticano. "Querido Amigo Papa Francisco. É com muito respeito e carinho que lhe escrevo neste momento. Minha primeira palavra é de gratidão por seus gestos inesquecíveis da carta que me enviou quando estava na prisão e pela recepção calorosa com que me brindou na Santa Sé", afirmou o petista.

Em 2017, Lula foi condenado em primeira instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. No ano seguinte, a decisão foi confirmada em segunda instância.

Em maio de 2019, Lula recebeu uma carta do papa Francisco em resposta a outra carta que o petista havia enviado ao papa meses antes. "Tendo presente as duras provas que o senhor viveu ultimamente, especialmente a perda de alguns entes queridos – sua esposa Marisa Letícia, seu irmão Genival Inácio, e mais recentemente, seu neto Arthur – quero lhe manifestar minha proximidade espiritual e lhe encorajar pedindo para não desanimar e continuar confiando em Deus", escreveu Francisco.

Naquele mesmo ano, o ex-presidente foi solto, depois de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de que a execução da pena só poderia ocorrer após trânsito em julgado da sentença. Lula recuperou seus direitos políticos em março de 2021, após o ministro do STF Edson Fachin anular suas condenações pela Justiça Federal do Paraná na Operação Lava Jato, por entender que a 13ª Vara de Curitiba não tinha competência para analisar os casos.

Em fevereiro de 2020, Lula se encontrou com o papa Francisca na Casa Santa Marta, onde o papa mora no Vaticano. Na ocasião, fontes diplomáticas afirmaram à ACI Digital que Lula visitava o papa na qualidade de cidadão e não de ex-mandatário. 

Essa visita foi mediada do presidente argentino Alberto Fernandez, que levou ao papa o pedido de Lula de conhecê-lo, após o período em que esteve preso em Curitiba. "A minha visita teve como objetivo principal discutir com o Papa Francisco a questão da desigualdade e a questão da sua luta na defesa de uma boa política ambiental", disse Lula na época.

Economia de Francisco

O evento do qual Eduardo Suplicy participará na Itália, a "Economia de Francisco", surgiu quando papa Francisco escreveu uma carta em 1º de maio de 2019 com um convite a estudantes de economia, economistas, agentes de mudança e empreendedores com menos de 35 anos em todo o mundo, que tivessem interesse por um "tipo diferente de economia: uma que traga vida e não morte, que seja inclusiva e não exclusiva, humana e não desumanizadora, que cuide do meio ambiente e não o despoje".

Por causa das medidas impostas contra a pandemia de covid-19, nos últimos dois anos, a iniciativa teve encontros on-line. Participaram milhares de jovens de 120 países dos cinco continentes, especialmente da Itália, Brasil, Estados Unidos, Argentina, Espanha, Portugal, França, México, Alemanha e Reino Unido.

Segundo o site oficial, foram dois eventos globais com transmissão ao vivo com mais de 500 mil visualizações, mais de 50 webinars, cerca de 25 projetos empreendedores, dois eventos Economia de Francisco on-line e uma Escola de Verão presencial, uma EoF Academy com 18 pesquisadores e 25 membros seniores. Mais de 50 especialistas incluindo três ganhadores do Prêmio Nobel estiveram envolvidos. O papa dirigiu duas mensagens em vídeo aos jovens.

Neste ano, o evento será presencial, em Assis, de 22 a 24 de setembro. Está prevista a participação de mais de mil pessoas de todo o mundo, incluindo 100 brasileiros. O papa Francisco estará presente no sábado (24).

A programação do papa no evento inclui um encontro com os participantes às 10h (5h no horário de Brasília). O papa ouvirá algumas experiências, fará um discurso e assinará o pacto com os jovens da Economia de Francisco.

No vídeo publicado em suas redes sociais, Eduardo Suplicy disse que foi convidado para participar do evento na Itália por jovens brasileiros que também estarão lá.  "Espero trazer a bênção do papa para que o Brasil possa se tornar realmente um país democrático, onde prevaleça o amor, a fraternidade e a justiça", disse Suplicy.

Na carta enviada ao papa, Lula apresentou Eduardo Suplicy como "um homem que pautou sua vida pela busca da justiça social, particularmente concretizada na luta pela implementação da chamada Renda Básica da Cidadania". Segundo ele, esta é "uma forma muito concreta da distribuição de renda e do respeito à dignidade de cada cidadão".

A renda básica da cidadania (RBC), diz o site oficial de Eduardo Suplicy, "é uma renda suficiente para que uma pessoa possa prover as suas necessidades vitais, como as de alimentação, saúde, educação e outras, que será paga pelo governo a toda e qualquer pessoa residente no país, inclusive às estrangeiras residentes há cinco anos ou mais no Brasil, não importa sua origem, raça, sexo, idade, condição civil ou mesmo socioeconômica".

Ainda segundo o site de Suplicy, seu projeto de lei sobre a renda básica foi aprovado pelo Congresso Nacional quando ele era senador e sancionado pelo então presidente Lula em 2004. Trata-se da Lei 10.835/2004, "que instituirá, por etapas, a critério do Poder Executivo, a RBC, iniciando-se pelos mais necessitados, portanto, como o faz o Programa Bolsa Família, que pode ser visto como um passo na direção da Renda Básica de Cidadania".

A renda básica está presente no atual programa de governo de Lula, que diz: "Um programa Bolsa Família renovado e ampliado precisa ser implantado com urgência para garantir renda compatível com as atuais necessidades da população. Um programa que recupere as principais características do projeto que se tornou referência mundial de combate à fome e ao trabalho infantil e que inove ainda mais na ampliação da garantia de cidadania para os mais vulneráveis. Um programa que, orientado por princípios de cobertura crescente, baseados em patamares adequados de renda, viabilizará a transição por etapas, no rumo de um sistema universal e uma renda básica de cidadania".

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