SÃO PAULO, Sep 23, 2022 / 15:43 pm
O bispo de Mogi das Cruzes (SP), dom Pedro Luiz Stringhini, presidente do Regional Sul 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), entregou ao papa Francisco uma carta da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns, a Comissão Arns. No texto, a entidade fala sobre as eleições e diz que a democracia no Brasil sofre "ameaças".
Sem citar nomes, a Comissão diz que as ameaças "partem de quem parece não aceitar um resultado eleitoral que não lhe favoreça. Que são diuturnamente inflamadas pelo discurso de ódio propagado a partir de gabinetes oficiais, para dividir os brasileiros, jogando uns contra os outros. Que estigmatizam mulheres, afrodescendentes, indígenas, fiéis de distintas religiões, promovendo sobretudo o extermínio da juventude negra e pobre, no contexto de um projeto criminoso de armar a população". O alvo das críticas é o presidente Jair Bolsonaro, que tenta a reeleição como candidato do PL.
Dom Stringhini e bispos das províncias eclesiásticas de Aparecida, São Paulo e Sorocaba do Regional Sul 1 da CNBB estão no Vaticano em visita ad limina. Eles se encontraram hoje (23) com o papa Francisco.
A Comissão Arns se define como "uma organização da sociedade civil composta por juristas, intelectuais, jornalistas, ativistas e voluntários na defesa dos direitos humanos", que atua "de forma voluntária, suprapartidária, em rede com milhares de defensores de direitos humanos de todo o país". Tem como objetivo "dar visibilidade e acolhimento a graves violações da integridade física, da liberdade e da dignidade humana, especialmente as cometidas por agentes do estado contra pessoas e populações discriminadas, como negros, indígenas, quilombolas, pessoas LGBTQIA+, mulheres, jovens, comunidades urbanas ou rurais em situação de extrema pobreza".
Foi fundada em 2019, poucos meses após a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018. Apesar disso, a jornalista Laura Greenhalgh, membro da instituição, disse na época ao site Observatório do Terceiro Setor que não se trata de "um grupo antibolsonaro". "Os direitos humanos vão muito além dessa conjuntura política e nós vamos nos fundamentar na defesa dos direitos civis e políticos. Os dados e as notícias sobre as violações no Brasil são alarmantes e a situação sempre tende a piorar", afirmou na ocasião.
A carta enviada ao papa e assinada pelo advogado José Carlos Dias e pela socióloga Margarida Genevois, presidente e vice-presidente da Comissão Arns, apresenta ao papa o que define como "tempos difíceis" e diz que "problemas não faltam no Brasil". "O desemprego alcança milhões de pessoas, a fome voltou aos lares, 690 mil vidas foram perdidas para a Covid-19, a violência explode no campo ou na cidade e nossas florestas continuam a ser consumidas pelas queimadas, pelo contrabando de madeira, pela mineração desenfreada que contamina os rios, mata os peixes, envenena as pessoas".
Segundo a entidade, no dia 2 de outubro, "os eleitores vão às urnas pressionados não só pelas vicissitudes da vida, mas pelas ameaças de ruptura da ordem democrática".
"Santo Padre, por isso vimos à Vossa presença pedir pela sociedade brasileira: que ela possa exercer o direito fundamental de escolher um futuro melhor e mais decente para si mesma. Brasileiras e brasileiros de todos os rincões, de todas as culturas e todos os credos, precisam do Vosso olhar e do Vosso apoio neste momento", diz a carta.
O bispo de Mogi das Cruzes, dom Pedro Stringhini também já falou sobre risco à democracia. Em um ato inter-religioso na catedral de São Paulo, em 16 de julho, o bispo disse que "é hora de mobilizar, se necessário indo às ruas, para defender a democracia e as eleições". "Com a firmeza permanente e pela não-violência ativa, estejam unidos os movimentos populares, as igrejas e grupos religiosos, as forças políticas progressistas, enfim, toda a sociedade civil, para que a civilização vença a barbárie".
O ato inter-religioso foi em homenagem ao indigenista Bruno Pereira e ao jornalista britânico Dom Phillips, que foram mortos na região amazônica do Vale do Javari. O evento foi organizado pela Frente Inter-religiosa Dom Paulo Evaristo Arns por Justiça e Paz, em parceria com a a Comissão Justiça e Paz de São Paulo, pela Comissão Arns, pelo Instituto Vladimir Herzog e pela OAB-SP.
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