7 de dezembro de 2024 Doar
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Arcebispo de Aparecida fala em derrotar “dragões” no Brasil, antes de visita de Bolsonaro ao santuário

Jair Bolsonaro no santuário nacional de Aparecida | Captura de vídeo

"Maria venceu o dragão. Temos muitos dragões que Ela vai vencer", disse ontem (12), o arcebispo de Aparecida (SP), dom Orlando Brandes, em uma homilia que foi entendida como apoio ao candidato à presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e contra Jair Bolsonaro (PL). A declaração foi feita durante a missa solene no Santuário de Aparecida, às 9h. Bolsonaro esteve no templo à tarde e alguns de seus apoiadores geraram momentos de confusão ao hostilizar a imprensa.

"Isso que Nossa Senhora diz: Salve a vida do povo brasileiro, de cada um de nós, vida humana, vida cristã, vida social, vida ecológica", disse dom Orlando. Segundo ele, é preciso "escutar Deus, mas escutar também o clamor do povo. Porque Ela [Nossa Senhora] escutou muito bem. No Evangelho, 'eles não têm mais vinho'. No nosso caso, faltando pão, faltando paz, faltando fraternidade. Esses são os vinhos que todos nós precisamos nos dias de hoje".

"Maria venceu o dragão. Temos muitos dragões que ela vai vencer, o dragão que é o tentador, o dragão que já foi vencido na pandemia. Mas temos o dragão do ódio que faz tanto mal, o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do maligno. E o dragão do desemprego, o dragão da fome, o dragão da incredulidade. Com Maria, vamos vencer o mal e vamos dar prioridade ao bem, à verdade e à justiça que o povo merece", afirmou o arcebispo.

Dom Orlando também se referiu à eleição ao afirmar que a cidadania se vive "também votando". "É necessário exercer esse direito e poder do povo".

As declarações do arcebispo foram entendidas e usadas em campanha como apoio a Lula. Juliano Medeiros, presidente do PSOL, partido que apoia a candidatura de Lula, escreveu em seu Twitter: "Declaração forte do arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, no dia da padroeira do Brasil. Numa Basílica lotada ele falou contra a mentira, o ódio, a fome e o desemprego. Ou seja, denunciou a realidade brasileira no governo Bolsonaro. Posicionamento fundamental!"

Sem citar o nome dos candidatos, o deputado estadual eleito Eduardo Suplicy (PT-SP) postou: "Fala importante do arcebispo dom Orlando Brandes ao conclamar a importância de vencermos o dragão do ódio, do desemprego, da fome e da mentira".

Dom Orlando Brandes está à frente da arquidiocese de Aparecida desde janeiro de 2017, tendo sido nomeado em novembro de 2016. Antes, foi bispo de Joinville (SC) e arcebispo de Londrina (PR). Esta não foi a primeira vez que fez homilias na festa da padroeira do Brasil que foram interpretadas como críticas diretas ao governo Bolsonaro.  Em 2019, o arcebispo atacou o "dragão do tradicionalismo" e afirmou que a direita é "violenta e injusta". Em 2020, falou sobre as queimadas e sobre a pandemia de covid-19. O governo Bolsonaro é acusado por seus opositores de não cuidar do mior ambiente, e de ter sido responsável pelo número de mortos por covid-19 no Brasil. No ano passado, dom Orlando disse que o Brasil "para ser pátria amada não pode ser pátria armada", numa alusão às políticas de relaxamento do controle de posse de armas do presidente Jair Bolsonaro.

Bolsonaro em Aparecida

Depois da missa das 9h, dom Orlando Brandes falou com a imprensa sobre a presença de Jair Bolsonaro no santuário de Aparecida. "Bom, eu não posso julgar as pessoas. Mas nós precisamos ter uma identidade religiosa. Ou somos evangélicos ou somos católicos. Nós precisamos ser fiéis a nossa identidade católica. Mas seja qual for a intenção, será bem recebido porque é o nosso presidente. E é por isso que nós o acolhemos".

Jair Bolsonaro participou da missa às 14h no santuário nacional. Ele estava acompanhado do candidato ao governo de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, do ex-ministro da Ciência e Tecnologia e senador eleito Marcos Pontes, do ex-ministro da Cidadania, João Roma, da deputada reeleita Bia Kicis (Pl-DF) e do coordenador de comunicação da campanha, Fábio Wajngarten.

Quando o nome de Bolsonaro foi anunciado antes da celebração, houve aplausos e vaias dentro do templo.

O presidente já esteve no santuário no dia da padroeira em 2019 e 2021. Diferentemente dos anos anteriores, desta vez Bolsonaro não recebeu a comunhão.

Estava previsto que, após a missa, Bolsonaro participaria da oração do terço em frente à basílica histórica de Aparecida, mas não participou. A iniciativa foi promovida pelo Centro Dom Bosco, uma organização de leigos católicos com sede no Rio de Janeiro (RJ).

Ao final da missa, Bolsonaro foi até a tenda dos peregrinos, ponto de apoio para os romeiros que chegam ao Santuário. Ao portal A12, o presidente falou sobre liberdade religiosa. "E é um Brasil que é 90% cristão. E a nossa liberdade acima de tudo. Em alguns momentos, passamos em tempos atrás o fechamento de igrejas e templos evangélicos e isso não é admissível. A fé tem que ser respeitada e a sua liberdade tem que ser plena", declarou, referindo-se à ordem dada por governadores de Estado de fechar igrejas e templos durante a pandemia de covid-19. A questão chegou ao Supremo Tribunal Federal, que apoiou a interferência do Estado nas religiões, em decisão de abril de 2021. O julgamento foi de ação impetrada pela Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure) contra decretos estaduais do Piauí e Roraima e municipais de João Monlevade (MG), Macapá (AP), Serrinha (BA), Bebedouro e Cajamar, ambas em São Paulo, Brilhante (MS) e Armação dos Búzios (RJ); e outra, impetrada pelo diretório paulista do Partido Social Democrático, contra decreto do governador de São Paulo, João Doria, que também proibia missas e cultos religiosos públicos por causa do coronavírus.

Depois da visita de Bolsonaro a Aparecida, o redentorista padre Camilo Júnior declarou que a data não era para fazer campanha. "Hoje não é dia de pedir voto, é dia de pedir bênçãos. Palmas à Mãe Aparecida, é a Ela nosso louvor", afirmou durante a cerimônia de consagração à Nossa Senhora, na basílica histórica.

Na tarde de ontem, apoiadores de Jair Bolsonaro causaram tumulto em Aparecida, ao hostilizar jornalistas. Em frente à basílica histórica, apoiadores do presidente gritaram com as equipes da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, e da TV Aparecida, emissora do santuário, enquanto outros entoavam "é Bolsonaro". As cenas foram registradas pela CNN Brasil. Outros vídeos mostram apoiadores do presidente exibindo canecas com a imagem de Bolsonaro e latas que, segundo a imprensa seriam de cerveja. Apoiadores de Bolsonaro afirmam que a lata seria de água tônica. Há também vídeo que mostram pessoas com camisas verde e amarela perseguindo um homem de camisa vermelha.

O caso foi comentado pelo candidato Lula. "Bolsonaro usa o nome de Deus em vão. Essa semana ele foi escorraçado no Círio de Nazaré porque queria fazer campanha. E hoje seus apoiadores arrumaram briga em Aparecida do Norte, porque foram tirar proveito de religião", escreveu em seu Twitter.

Geraldo Alckmin (PSB), vice na chapa de Lula, também repercutiu o caso em seu Twitter. "Como católico, estou perplexo com as hostilidades promovidas em Aparecida no dia de nossa padroeira. Tenham mais respeito com os católicos. Igreja não é palanque. É lugar santo, de oração, e não de agressão", publicou.

Papa Francisco se une à devoção a Nossa Senhora Aparecida

O papa Francisco enviou uma carta ao arcebispo de Aparecida, dom Orlando Brandes, por ocasião da festa da padroeira do Brasil. Francisco disse se unir "à filial devoção dos fiéis que recorrem à Nossa Senhora Aparecida, colocando sob o seu manto amoroso e sua materna proteção as intenções que trazem no coração".

O papa também se refere ao Dia das Crianças, celebrado ontem no Brasil. Ele disse rezar por todas as crianças do país, "louvando todas as iniciativas que têm por objetivo proteger e custodiar essa etapa da vida humana".

Por fim, implorou "à Virgem Mãe Aparecida que interceda junto a seu Filho, a fim de que sejam derramadas abundantes graças sobre o povo brasileiro", e concedeu a bênção apostólica.

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