Vaticano, Nov 3, 2022 / 11:26 am
"Alimentemos nossa espera do Céu, exercitemos nosso desejo do paraíso", porque "perder de vista o que importa para 'perseguir o vento' seria o maior erro da vida", disse o papa Francisco na homilia da missa em comemoração dos fiéis defuntos celebrada ontem (2) na basílica de São Pedro.
A missa foi celebrada em sufrágio pelos cardeais e bispos que morreram no ano passado. Segundo números oficiais da Santa Sé, foram 157, nove dos quais eram cardeais.
"A espera expressa o sentido da vida, porque vivemos na espera do encontro: o encontro com Deus, que é a razão da nossa oração de intercessão de hoje, especialmente pelos cardeais e bispos que morreram durante o último ano, pelos quais oferecemos em sufrágio este sacrifício eucarístico", disse o papa.
"Olhemos para cima, pois estamos caminhando para o alto, enquanto as coisas daqui não irão para cima: as melhores carreiras, as maiores conquistas, os títulos e distinções mais prestigiosas, a riqueza acumulada e os ganhos terrenos, tudo isso desaparecerá em um instante. E todas as expectativas neles depositadas serão desapontadas para sempre", disse Francisco. "Quanto tempo, esforço e energia gastamos em nos preocupar e nos afligir por essas coisas, deixando que a tensão em direção à casa se dissipe, perdendo de vista o significado da viagem, o objetivo da viagem, o infinito ao qual aspiramos, a alegria pela qual respiramos!"
O papa disse em sua homilia que a medida do juízo final que Jesus fará é "o Deus do amor humilde, o que, nascido e morto pobre, viveu como servo" é "um amor que vai além de nossas medidas" já que "seu método de avaliação é a gratuidade. Assim, para nos prepararmos, sabemos o que fazer: amar gratuitamente e infinitamente, sem esperar reciprocidade, os que estão na sua lista de preferências, os que não podem nos dar nada em troca, os que não nos atraem".
Verdadeiros valores do reino de Deus
O papa falou de uma carta que ele recebeu de um capelão na Ucrânia de uma casa em que moram "crianças, sozinhas, abandonadas, órfãos de guerra". Ele contou que este é seu "serviço, acompanhar os descartados" e Francisco disse que "este homem faz o que Jesus pede" e agradeceu ao Senhor por continuar "inspirando os verdadeiros valores do reino".
"Irmãos, irmãs, não podemos dizer que não sabemos. Não podemos confundir a realidade da beleza com a maquiagem artificial. O Evangelho explica como viver a espera: vamos ao encontro de Deus amando porque Ele é amor. E, no dia de nossa despedida, a surpresa será feliz se agora nos deixarmos surpreender com a presença de Deus, que nos espera entre os pobres e feridos no mundo", disse Francisco.
O papa Francisco citou a frase de Bento XVI na encíclica Deus Caritas Est é "o programa do cristão - o programa do bom Samaritano, o programa de Jesus - é 'um coração que vê'" para dizer que "a surpresa do Evangelho não espera ser acariciada por palavras, mas com os fatos".
"Perguntemo-nos: eu vivo o que digo no Credo, 'espero a Ressurreição dos mortos e a vida do mundo que virá'? E como é a minha espera? Vou ao essencial ou me distraio com coisas supérfluas? Cultivo a esperança ou vou adiante reclamando porque dou muito valor a coisas que não contam?", perguntou o papa. "Hoje o Senhor nos recorda que a morte vem para mostrar a verdade da vida e remover qualquer atenuante à misericórdia".
A liturgia eucarística foi celebrada pelo reitor do Colégio Cardinalício, o cardeal Giovanni Battista Re, e foi concelebrada por numerosos bispos e cardeais.
No final da missa, o papa Francisco visitou o cemitério alemão do Vaticano em particular para rezar em silêncio.
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