21 de novembro de 2024 Doar
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Especialista critica a “ingenuidade” da Santa Sé e sua “relação confusa” com a China

Basílica de São Pedro no Vaticano e bandeira da China | Getty Images

O advogado de origem chinesa que trabalha na Comissão de Liberdade Religiosa dos EUA, Nury Turkel, criticou a "ingenuidade" da Santa Sé e sua "relação confusa" com a China comunista.

Em uma mesa redonda no dia 11 de janeiro, em Roma, Itália, após um encontro com o secretário da santa Sé para as Relações com os Estados, dom Paul Richard Gallagher, Turkel manifestou preocupação com o silêncio da Santa Sé diante do governo chinês.

"Não quero viver e não quero que meus filhos vivam em um mundo governado no estilo do governo comunista chinês", que "monitora as comunicações privadas alegando questões de segurança nacional", disse o advogado.

A "relação confusa" da Santa Sé com a China

Sobre o papel da Santa Sé em questões como a liberdade religiosa, Turkel disse que "a relação confusa do Vaticano com a China comunista me deixa mais do que perplexo", considerando que "as comunidades católicas nos EUA, Europa e no resto do mundo levantaram suas vozes".

"Até o decano da Escola de Direito de Notre Dame aqui em Roma criticou o Vaticano por não defender os católicos na China", disse.

"Podemos nos esquecer em algum momento dos uigures e de outros temas globais por um minuto, mas o fato de o Vaticano não falar pelos 89 milhões de católicos merece uma atenção especial e eu gostaria de ver isso mudado", continuou o especialista, que é de etnia uigur.

Os uigures são uma etnia chinesa muçulmana que sofre especial perseguição na China por parte do governo.

Um relatório de 2020 denunciou o "lento genocídio" da China contra essa minoria que vive no noroeste da província de Xinjiang.

Muitos foram presos por terem vários filhos e as mulheres são submetidas a abortos forçados, implantação de dispositivos intrauterinos ou outros métodos contraceptivos.

Turkel também denunciou a perseguição contra os católicos em Hong Kong como Jimmy Lai, um importante executivo da mídia, e o cardeal Joseph Zen Ze-kiun, 91 anos, preso pelo governo comunista em 2022, acusado de ajudar a financiar a defesa legal de vários ativistas pró-democracia.

A "ingenuidade" da Santa Sé

O advogado de liberdade religiosa disse que "a China tem sido a maior beneficiária do atual sistema de regras internacionais" e, apesar disso, "não ajuda a civilização".

Portanto, "a ingenuidade que o Vaticano demonstrou é algo que deve ser debatido. Eles podem assinar dezenas ou centenas de acordos com a China, país que provou repetidamente que tudo o que dizem fica apenas no papel".

A Santa Sé e a China assinaram em setembro de 2018 um acordo para a nomeação de bispos no país asiático, cujos termos não foram publicados. Um dos principais críticos desse acordo com o cardeal Zen, que esteve em Roma, Itália, para o funeral do papa Bento XVI.

O acordo foi renovado em outubro de 2020 e depois em outubro de 2022, por mais dois anos.

Em coletiva de imprensa em 25 de setembro de 2018, ao retornar a Roma após viagem aos Países Bálticos, o papa Francisco disse que ele é o responsável final pelo acordo.

Na opinião do cardeal Zen, com o acordo a Santa Sé "está vendendo a Igreja Católica na China".

"Não sei a natureza do acordo, mas a China não vai permitir que o Vaticano nomeie bispos. Isso não vai acontecer. Posso dizer para guardar minhas palavras, embora eu espere que isso mude, mas sabendo como o sistema chinês funciona, isso simplesmente não vai acontecer", disse Turkel na mesa redonda de 11 de janeiro, em Roma.

Segundo o advogado, "se o Vaticano se pronunciar" a favor dos católicos e dos uigures, "posso garantir que verão uma mudança".

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