22 de novembro de 2024 Doar
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Governo da Nicarágua “fabrica” testemunhas contra bispo, diz padre exilado

Dom Rolando Álvarez | Diocese de Matagalpa

Um padre exilado e um defensor dos direitos humanos denunciaram que o governo de Daniel Ortega na Nicarágua manipula e "fabrica" testemunhas para o julgamento do bispo de Matagalpa, dom Rolando Álvarez.

Daniel Ortega é um ex-líder guerrilheiro de esquerda que acumula 29 anos no poder na Nicarágua.

Em uma postagem no Facebook, o padre nicaraguense Erick Díaz, que vive exilado nos EUA depois de deixar seu país em setembro de 2022, disse que o regime "fabricou" uma lista de testemunhas "para depor contra dom Rolando".

Dom Rolando Álvarez, crítico dos abusos do governo de Ortega, foi preso na casa episcopal da diocese de Matagalpa, na madrugada de 19 de agosto de 2022. Horas depois, a polícia nicaraguense revelou que ele havia sido levado para Manágua, capital do país, e estava em prisão domiciliar na casa de parentes.

Um grupo de padres, seminaristas e um leigo que estavam na casa episcopal também foi levado pelas autoridades à prisão de tortura para presos políticos conhecida como "El Chipote", em Manágua.

Em audiência no dia 10 de janeiro, a Justiça aceitou as acusações de "conspiração" e divulgação de "notícias falsas" contra dom Álvarez.

A lista com as testemunhas contra dom Rolando Álvarez foi publicada nos últimos dias pelo próprio Poder Judiciário da Nicarágua, e foi divulgada nas redes sociais.

Padre Erick Díaz disse em 18 de janeiro que existem várias pessoas "que não sabiam que estavam nessa lista e não se deram conta até hoje que seus nomes foram usados ​​e colocados lá".

"Já sabem o que vem depois. Citá-los e ameaçá-los para que digam o que vão preparar ou lhes digam o que devem falar", disse o padre. "Há vários que vão com alegria, para descarregar seu ódio e contar mentiras contra o arcebispo. Há outros que colocam a fé em primeiro lugar e não são capazes de dar falsos testemunhos".

Para o padre, "este é também um crime cometido pelo sistema envolvendo pessoas que nada sabem e que não estão dispostas a mentir. Elas também são vítimas".

Padre Díaz afirmou que só Deus conhece "o coração de cada pessoa".

"Cedo ou tarde tudo vem à tona", disse, destacando que eventualmente se saberá "quem agiu com boa vontade e fé e apegado aos seus princípios cristãos, éticos e morais, e quem perdeu a consciência e vai mentir contra um inocente".

"Além de ser pecado, é crime punível por lei", disse.

O sacerdote publicou a captura de tela de uma publicação de uma das supostas testemunhas convocadas pelo governo. Na imagem é possível ler uma mensagem de Nieves Hernández, ex-funcionária da Rádio Hermano, da diocese de Matagalpa: "Nunca me vendi nem trairei minha Igreja ou nossos sacerdotes e viva dom Rolando".

Hernández afirma ainda que continuará "de cabeça erguida", mesmo que a "envolvam em algo" com que não tem "nada a ver". "Minha consciência sempre limpa e sigo apoiando nossos sacerdotes e viva Cristo Rei, viva nosso bispo e sacerdotes", escreveu.

Segundo a mídia local, outra "testemunha" da lista da ditadura nicaraguense, Juan Francisco Blandón, teria deixado o país para evitar participar do julgamento contra dom Álvarez.

O advogado nicaraguense Yader Morazán, defensor dos direitos humanos exilado nos EUA, disse por meio de sua conta no Twitter que outras das supostas "testemunhas" que deporão contra o bispo católico têm relação com o governo e buscam obter favor do regime de Ortega. Entre elas, citou Emiliano Antonio Pérez Castro, que "depois de abril foi nomeado delegado do Ministério dos Transportes de Matagalpa. A cunhada dele é a juíza Sheyla Patricia Delgado Medrano", responsável pelo caso contra o bispo.

"Há anos, ele deseja entrar no Estado", diz o advogado nicaraguense.

Outra testemunha é Josefa Azucena Jirón López, que o advogado identifica como "secretária do Ministério de Educação de Matagalpa".

Morazán também citou Elba Marina Rayo, que "trabalha na Radio Insurrección que opera dentro do Departamento da FSLN", a governista Frente Sandinista de Libertação Nacional.

A partir daí, disse Morazán, "foi dirigida a repressão de abril de 2018" contra as manifestações massivas que exigiam a saída de Daniel Ortega, no poder ininterruptamente desde 10 de janeiro de 2007.

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"Antes, abraçava dom Álvarez e agora testemunhará contra ele", disse Morazán.

 

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