21 de dezembro de 2024 Doar
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Discurso do papa Francisco aos jovens e catequistas em Kinshasa

Em seu terceiro dia da visita apostólica à República Democrática do Congo, o papa Francisco teve um encontro com os jovens e catequistas hoje (2) no Estádio dos Mártires de Kinshasa.

A seguir, o texto completo das palavras do papa Francisco:

Obrigado pela vossa amizade, a vossa dança e as vossas palavras! Estou feliz por ter podido fixar-vos nos olhos, saudar-vos e abençoar-vos, enquanto as vossas mãos levantadas para o céu faziam festa.

Agora quero pedir-vos para durante alguns momentos olhardes, não para mim, mas concretamente para as vossas mãos: abri as palmas das mãos e fixai nelas os olhos. Amigos, Deus colocou nas vossas mãos o dom da vida, o futuro da sociedade e deste grande país.

Irmão, irmã, as tuas mãos parecem-te pequenas e frágeis, vazias e inaptas para tarefas tão grandes? Quero, porém, fazer-te notar uma coisa: todas as mãos são semelhantes, mas não há nenhuma igual a outra; ninguém tem mãos iguais às tuas. Por isso, tu és uma riqueza única, irrepetível e incomparável.

Sabeis de uma coisa? Sabeis de uma coisa? Ninguém, na história, te pode substituir. Pergunta-te então: Para que servem estas minhas mãos? Para construir ou destruir, dar ou reter, amar ou odiar?

Vê! Podes apertar a mão e fechá-la, torna-se um punho; ou podes abri-la e colocá-la à disposição de Deus e dos outros. Aqui está a opção fundamental, desde os tempos antigos, desde Abel que ofereceu com generosidade os frutos do seu trabalho, enquanto Caim levantou a mão contra o irmão e o matou (cf. Gn 4, 8).

Jovem que sonhas com um futuro diferente, é das tuas mãos que nasce o amanhã; das tuas mãos, pode vir a paz que falta a este país.

Mas, concretamente, como fazer? Quero sugerir-vos alguns «ingredientes para construir o futuro»: justamente cinco, que podeis associar aos dedos duma mão.

Ao polegar, o dedo mais próximo do coração, corresponde a oração, que faz pulsar a vida. Pode parecer uma coisa abstrata, distante da realidade concreta dos problemas. Mas a oração é o primeiro ingrediente, e o fundamental, porque sozinhos nada conseguimos fazer. Não somos onipotentes e, quando alguém julga que o é, acaba por falhar miseravelmente.

É como uma árvore desenraizada: mesmo que seja grande e robusta, sozinha não se aguenta de pé. Por isso mesmo, é preciso radicar-se na oração, na escuta da Palavra de Deus, que nos permite crescer cada dia em profundidade, dar fruto e transformar o ar poluído que respiramos em oxigênio vivificante.

Para o conseguir, cada árvore precisa dum elemento simples e essencial: a água. Pois bem! A oração é «a água da alma»: é humilde, não se vê, mas dá vida. Quem reza, amadurece interiormente e sabe erguer o olhar para o Alto, lembrando-se de que foi feito para o Céu.

Irmão, irmã, há necessidade de oração, duma oração viva. Não te dirijas a Jesus como a um ser distante e estranho de quem se tem medo, mas como ao maior amigo, que deu a vida por ti. Conhece-te, confia em ti e ama-te, sempre.

Se O contemplas suspenso na cruz para te salvar, compreendes quanto vales para Ele. E podes confiar-Lhe, colocando sobre a sua cruz as tuas cruzes, os teus medos, as tuas preocupações. Abraçá-los-á; já o fez há dois mil anos, e aquela cruz, que hoje suportas, já fazia parte da d'Ele. Portanto, não tenhas medo de tomar o crucifixo nas mãos e apertá-lo ao peito, de derramar as tuas lágrimas por Jesus. E não te esqueças de fixar o seu rosto, o rosto dum Deus jovem, vivo, ressuscitado!

Sim, Jesus venceu o mal; fez, da cruz, a ponte para a ressurreição. Por isso, cada dia levanta as mãos para Ele a fim de O louvar e bendizer; grita-Lhe as esperanças do teu coração, confia-Lhe os segredos mais íntimos da vida: a pessoa que amas, as feridas que guardas dentro, os sonhos que tens no coração.

Fala-Lhe do teu bairro, dos vizinhos, dos professores, dos companheiros, dos amigos e colegas; do teu país.

Deus gosta desta oração viva, concreta, feita com o coração. Permite-Lhe intervir, entrar nos sulcos da vida dum modo especial, ou seja, com a sua «força de paz». Esta tem um nome; sabeis quem é? É o Espírito Santo, Aquele que consola e dá vida.

É o motor da paz, é a verdadeira força de paz. Por isso mesmo, a oração é a arma mais poderosa que existe. Transmite-te o conforto e a esperança de Deus. Abre-te sempre novas possibilidades e ajuda-te a superar os medos.

É verdade! Quem reza vence o medo e assume o próprio futuro. Acreditais nisto? Quereis escolher a oração como vosso segredo, como água da alma, como única arma a trazer convosco, como companheira de viagem todos os dias?

Agora fixemos o segundo dedo, o indicador. Com ele, indicamos algo aos outros.

Os outros, a comunidade: aqui está o segundo ingrediente. Amigos, não deixeis que a vossa juventude seja arruinada pela solidão e o isolamento. Imaginai-vos sempre juntos, e sereis felizes, porque a comunidade é o caminho para estar bem conosco mesmos, para ser fiéis à própria vocação.

As escolhas individualistas, pelo contrário, no início parecem aliciadoras, mas depois deixam dentro apenas um grande vazio.

Pensai nas drogas: escondes-te dos outros, da vida verdadeira, para te sentires onipotente; e, no fim, encontras-te privado de tudo. Mas pensai também na dependência do ocultismo e da feitiçaria, que enredam nas grinfas do medo, da vingança e da raiva.

Não vos deixeis fascinar por falsos paraísos egoístas, construídos sobre aparências, ganhos fáceis ou religiosidades desviadas.

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E guardai-vos da tentação de apontar o dedo contra alguém, de excluir o outro por ser de origem diferente da vossa; guardai-vos do regionalismo, do tribalismo, que parecem reforçar-vos no vosso grupo quando, pelo contrário, representam a negação da comunidade.

Sabeis como acontece: primeiro, crê-se nos preconceitos sobre os outros, depois justifica-se o ódio e em seguida a violência, no fim encontramo-nos no meio da guerra.

Mas tu – pergunto – já terias falado com pessoas dos outros grupos ou sempre estiveste fechado no teu? Terias já escutado as histórias dos outros, debruçando-te sobre as suas tribulações?

Claro, é mais fácil condenar alguém do que compreendê-lo; mas o caminho que Deus indica para construir um mundo melhor passa pelo outro, pelo conjunto, pela comunidade. É fazer Igreja, alargar os horizontes, ver em cada um o meu próximo, cuidar do outro.

Vês alguém sozinho, atribulado, negligenciado? Aproxima-te dele, não para lhe fazeres ver como és bom, mas para lhe dar o teu sorriso e oferecer-lhe a tua amizade.

David [catequista que se dirigiu ao papa no início do encontro N.d.R.], disseste que vós jovens quereis, e justamente, estar conectados com os outros, mas que as redes sociais frequentemente vos confundem. É verdade! O mundo virtual não é suficiente.

Não nos podemos contentar em interagir com pessoas distantes ou mesmo falsas. A vida real não se toca com um dedo na tela. É triste ver jovens que passam horas diante dum telemóvel: depois de largarem aquela tela, se olhares para o seu rosto, verás que não sorri, o olhar tornou-se cansado e enjoado.

Nada e ninguém pode substituir a força de estar juntos, a luz dos olhos, a alegria da partilha! É essencial falar e ouvirmo-nos: não vos contenteis com a tela onde cada um procura o que lhe interessa; em vez disso descobri cada dia a beleza de vos deixardes maravilhar pelos outros, as suas histórias e as suas experiências.

Tentemos agora experimentar o que significa fazer comunidade. Durante alguns momentos, por favor, dai a mão a quem está ao vosso lado. Senti-vos uma única Igreja, um único Povo. E agora todos juntos cantemos uma música. Vistes como é belo estar em comunidade? Vistes como é belo sentir-se uma só igreja?

Sente que o teu bem depende do bem do outro, que é multiplicado se for posto em conjunto.

Sente-te guardado pelo irmão e pela irmã, por alguém que te aceita assim como és e quer cuidar de ti.

E sente-te responsável pelos outros, parte viva duma grande rede de fraternidade, onde nos apoiamos reciprocamente e tu és indispensável. Sim, irmão e irmã, és indispensável e responsável pela tua Igreja e pelo teu país; fazes parte duma história maior, que te chama a ser protagonista: criador de comunhão, defensor de fraternidade, corajoso sonhador dum mundo mais unido. Nesta aventura, não estais sozinhos; apoia-vos a Igreja inteira, espalhada por todo o mundo.

Trata-se dum desafio difícil, mas possível. E tendes também amigos que, das bancadas do Céu, vos impelem para estas metas. Sabeis quem são? Os santos.

Penso, por exemplo, no beato Isidoro Bakanja, na beata Maria Clementina Anuarita, em são Kizito e nos seus companheiros: testemunhas da fé, mártires que nunca cederam à lógica da violência, mas confessaram, com a vida, a força do amor e do perdão.

Oração, comunidade… E chegamos ao dedo médio, que se alonga um pouco mais além dos outros para de certo modo nos lembrar uma coisa imprescindível. É o ingrediente fundamental para um futuro que esteja à altura das vossas expectativas.

Sabeis o que nos recorda este dedo que é o mais alto? Recorda a honestidade! Ser cristão é testemunhar Cristo. Isto significa não se deixar enredar nos laços da corrupção.

O cristão deve ser honesto, senão trai a sua identidade. Sem honestidade, não somos discípulos e testemunhas de Jesus; somos pagãos, idólatras que se adoram a si próprios em vez de Deus, que se servem dos outros em vez de servir os outros.

Mas – pergunto – como se vence o câncer da corrupção, que parece expandir-se sem nunca parar?

Uma pessoa corrupta é honesta ou não é honesta? Digamos todos juntos, digamos não à corrupção!

Não vos deixeis vencer pelo mal. Eu gosto deste canto. Vocês são muito bons.

[O discurso foi interrompido durante um tempo no qual os presentes expressaram seu fervor].

Vem-me à mente o testemunho dum jovem como vós, Floribert Bwana Chui: há quinze anos – contava ele apenas 26 – foi morto em Goma por ter bloqueado a passagem de alimentos estragados, que teriam danificado a saúde das pessoas.

[Os presentes interromperam o discurso novamente com cantos e danças. Ao terminar, o papa repetiu o parágrafo anterior para depois continuar]

Poderia deixar correr, não o teriam descoberto e ainda ganharia qualquer coisa naquilo. Mas, como cristão, rezou, pensou nos outros e escolheu ser honesto, dizendo não à imundície da corrupção. Isso significa manter não só as mãos limpas, mas o coração limpo.

Quero dizer uma coisa importante. Estejais atentos. Se alguém tentar te subornar prometendo favores e riquezas, não caias na armadilha, não te deixes enganar, não te deixes engolir pelo pântano do mal. Não te deixes vencer pelo mal, vence o mal com o bem.

Estamos chegando ao final. Passamos ao quarto dedo: o anular. Nele se colocam as alianças nupciais.

Mas, se pensarmos bem, o anular é também o dedo mais frágil, aquele que tem mais dificuldade para se levantar. Lembra-nos que as grandes metas da vida, a começar pelo amor, passam por fragilidades, canseiras e dificuldades.

Mas nas nossas fragilidades, nas crises, qual é a força que nos faz continuar? O perdão. Pois perdoar quer dizer saber recomeçar. Perdoar não significa esquecer o passado, mas não se resignar com o fato de poder repetir-se.

Amigos, para criar um futuro novo, precisamos de dar e receber o perdão. Agora vos peço um favor. Estejamos um minuto todos em silêncio. E que cada um de nós pense nas pessoas que nos feriram. Neste silêncio, diante de Deus, vamos perdoar.

Chegamos ao último dedo: o mindinho. Tu poderias dizer: sou pequeno, e o bem que possa fazer não passa duma gota no oceano. Mas é precisamente a pequenez, o fazer-se pequenino que atrai Deus. Há uma palavra-chave neste sentido: serviço.

Sabeis de uma coisa? Esta é uma regra de vida. Quem serve, faz-se pequenino.

Queridos amigos, estamos para terminar. Deixei-vos cinco dedos para identificar prioridades no meio das inúmeras e persuasivas vozes que circulam. Nunca desanimeis! Nunca desanimeis!

Quando tenhais tristeza, quando estejais desanimados, olhai para o Evangelho, em Jesus recebereis a força.

Obrigado por vir! Rezo por vós. Rezai também por mim.

Agora em silêncio, eu vos darei a bênção. Eu direi a Jesus que desça sobre cada um de vós para que vos dê a força para seguir adiante.

[O papa convidou os presentes para rezar juntos o Pai-Nosso em francês e lhes deu a bênção].

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