22 de dezembro de 2024 Doar
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Nosso irmão foi morto por ser cristão, diz seminarista sequestrado por muçulmanos

Imagem ilustrativa | Shutterstock

Pius Tabat, um dos quatro seminaristas sequestrados por pastores muçulmanos fulani em 2020, contou a sua experiência e lamentou que um de seus colegas tenha sido morto por ser cristão.

Tabat participou numa conferência virtual na quarta-feira (8) organizada pela fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN).

Michael Nnadi tinha 18 anos quando foi morto. Ele foi sequestrado em um seminário no estado de Kaduna, Nigéria, em 8 de janeiro de 2020, junto com Pius Tabat, de 19 anos; Stephen Amos, de 23 anos; e Peter Umenukor, de 23 anos. Todos os quatro estavam começando seus estudos de Filosofia.

"Eles nos vendaram para que não pudéssemos ver. Uma coisa que nunca vou esquecer é que um dia eu estava sentado e tinha um pau na parte de trás do pescoço. Achei que era o fim", disse Pius.

As condições do sequestro foram difíceis, eram obrigados a comer e beber água no mesmo recipiente onde havia dejetos. Eles também eram forçados a "entreter" seus sequestradores "com canções e danças como as da igreja, sempre com os olhos vendados".

Um dia, contou Piu, pensaram que Michael "seria solto, mas soubemos na verdade iam matá-lo",

"Na manhã seguinte, eles iam nos matar também. Aquela noite foi a mais longa da minha vida. Eles nos deram os telefones para ligar para as famílias e dizer adeus, mas no final não nos mataram", contou.

O único que foi morto foi Michael.

"Nosso irmão foi morto a sangue frio. Seu único crime foi ser cristão e estar no seminário", disse o seminarista.

"Não é por acaso que depois de seu assassinato, o sangue dele pagou por nossa liberdade", disse ele.

"Três dias depois que nosso irmão foi morto, eles nos disseram que iam nos libertar.

Após 24 dias de sequestro, parecia bom demais para ser verdade", disse Pius.

Perseguição contra os cristãos

O arcebispo de Kaduna, dom Matthew Ndagoso, disse que os cristãos dessa região do país africano são perseguidos e discriminados, basicamente por não serem muçulmanos.

Sobre os assassinos do seminarista, Ndagoso disse que "Michael pregou para eles sabendo que eram muçulmanos e não cristãos, e talvez por isso o mataram. Eles podem ter pensado: 'Mesmo aqui ele está em uma missão, ele é perigoso'".

Diante do sofrimento de muitos na Nigéria, o arcebispo recordou que "em qualquer situação em que você esteja, há pessoas de fora compartilhando isso, rezando, para que esse fardo seja menos pesado".

Dom Mark Nzukwein, reitor do seminário maior St. Augustine e bispo eleito da diocese de Wukari, disse que "o seminário é a casa dos três sobreviventes do sequestro, mas um não conseguiu superar o trauma e teve que deixar o seminário". Só Pius e Stephen continuam na formação.

O bispo eleito comentou que, na região, "muitos muçulmanos têm pouca formação e podem ser facilmente recrutados para fins violentos".

Diante desta realidade, "a comunidade do seminário promove o diálogo inter-religioso, especialmente com os muçulmanos vizinhos. Com esses diálogos conseguimos diminuir as tensões, mas há muitos fanáticos que querem ir contra nós", disse.

"Acreditamos que sem Deus, sem oração, não podemos alcançar a paz em nosso ambiente e no seminário. Sem a oração, os seminaristas não conseguirão superar as tensões que nos cercam", continuou dom Nzukwein.

"Não renunciamos à esperança. Nossa convicção está em Cristo, que sempre nos sustenta. Nossa fé é viva por nossa esperança em Cristo e na oração. Confiamos que, com Deus ao nosso lado, o futuro brilhará para nós", disse.

María Lozano, que foi a moderadora do evento da ACN, disse que este ano a campanha quaresmal da fundação pontifícia visa ajudar os cristãos na Nigéria.

"Embora a Igreja Católica tenha uma grande presença na Nigéria, ela não pode carregar esse fardo sozinha". Por isso, na ACN "queremos ser uma voz e ajudar no que pudermos", disse Lozano.

O arcebispo de Kaduna falou das recentes eleições que elegeram um governo muçulmano e destacou a importância de servir o bem comum respeitando os direitos dos cristãos

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"Os cristãos sofrem perseguições. A Constituição reconhece o seu direito à liberdade religiosa, mas na prática não o podem viver", lamentou.

"Esperamos que as eleições deem a todos um sentimento de pertença, de ter um governo com justiça. Esperamos que o governo conduza o país de acordo com a Constituição", disse o bispo.

Regina Lynch, diretora de projetos da ACN, comentou que "foi muito comovente ouvir os testemunhos daqueles que sofrem violência, discriminação e perseguição contra os cristãos".

"Asseguramos nossas orações. A campanha de oração na (Quaresma) é para isso e para ajudar nas questões materiais", acrescentou.

Para concluir a conferência, o seminarista Pius Tabat agradeceu à ACN pelo seu trabalho e disse: "Deus nos ajudará, continuará guiando a sua Igreja, não só no norte da Nigéria, mas em todo o mundo".

"Rezamos por aqueles que ainda estão sequestrados, para que possam ser libertados e reunidos com seus pais como fez conosco", concluiu.

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