30 de outubro de 2024 Doar
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Católicos em Honduras testemunham os graves danos da migração para as famílias

Família hondurenha em frente à sua casa de pau a pique perto de Tegucigalpa, Honduras | Shutterstock

O padre Luis Melquiades, pároco no pequeno município de Mercedes de Oriente, no sudoeste de Honduras, fala com tristeza do abandono que sofreu na adolescência por parte do pai, quando decidiu migrar em busca de trabalho.

"Meu pai partiu para os EUA quando eu tinha 14 anos, por necessidade e pobreza. Eu sempre o julguei, até que compreendi por que havia ido", disse em entrevista à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI.

O padre Melquiades, de 33 anos, pároco da igreja de Santo Antônio de Pádua, no departamento de La Paz, diz que para seus 10 irmãos – muitos dos quais não conheceram o pai – "o efeito foi devastador".

Padre Luís Melquíades / Diego López Marina (ACI Prensa)

"Um dia, quando ele voltou, foi muito difícil para os meus irmãos se aproximarem, porque não o conheciam. Até então, ele só mandava dinheiro para estudarmos", lamentou.

O caso do padre é apenas uma das muitas histórias de desestruturação familiar que ocorrem diariamente em Honduras, país da América Central onde se verifica a origem, trânsito e retorno de migrantes.

Situações como a falta de trabalho, os baixos salários, a pobreza e o abandono do Estado são alguns dos gatilhos para que as pessoas busquem migrar de forma irregular, principalmente para o México e os EUA.

Em julho de 2022, o Instituto Nacional de Estatística (INE) de Honduras informou que 73% da população é pobre e que 53% vive em extrema pobreza.

"A desintegração familiar ocorre em muitos casos porque o pai vai embora e não volta. Também os irmãos mais velhos vão embora, formam família e não voltam. Essa situação afeta muito o crescimento das crianças, porque a separação sempre dói", disse o padre Melquiades.

As estatísticas sobre o número de hondurenhos que emigram são escassas. No entanto, segundo os dados mais recentes do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações Unidas (DAES), em 2019 foram contabilizados 800.707 migrantes, ou seja, 8,35% da população hondurenha. A maioria deles está atualmente nos EUA.

Concepción Velásquez, presidente da comunidade católica Fé e Esperança de Mercedes de Oriente, disse à ACI Prensa que somente em seu município, de cerca de 1,2 mil habitantes, há várias "famílias separadas e casamentos desintegrados".

"Principalmente porque tem homens que saem por até 20 anos e não voltam", disse.

Concepción Velásquez / Diego López Marina (ACI Prensa)

Gabriela Morales, vice-presidente de Fé e Esperanza, lamentou que em sua comunidade existam casos em que "os dois pais de uma família migram e os filhos ficam sob os cuidados dos avós".

"Como catequistas da paróquia, tivemos que lidar com esses problemas. Dá para ver a falta dos pais", lamentou em entrevista à ACI Prensa.

Gabriela Morales / Diego López Marina (ACI Prensa).

Para Morales, a migração não é uma situação que ocorre porque alguém "quer muito", mas principalmente "por falta de emprego".

"Nossos jovens e famílias querem progredir e ter uma vida confortável, mas a situação econômica não permite", disse.

O trabalho de uma agência católica para fortalecer as famílias hondurenhas

Catholic Relief Services (CRS), agência humanitária internacional criada pelos bispos dos EUA, trabalha há décadas desenvolvendo projetos para que comunidades como a de Mercedes de Oriente possam avançar e evitar a migração.

Parceiros como Cáritas Honduras ou Asomaincupaco (Associação para a Gestão Integrada das Bacias de La Paz e Comayagua) se juntaram a este trabalho.

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Haydee Díaz, representante da CRS em Honduras e no Caribe, disse à ACI Prensa que "as pessoas se sentem obrigadas a migrar, embora não seja o que realmente querem".

"Isso é um desastre, porque os jovens têm um papel importante na comunidade. Muitas vezes são as pessoas que estão inovando nas comunidades, que estão gerando novas ideias e promovendo novas atividades", disse em entrevista recente.

Algumas das iniciativas agrícolas promovidas pela CRS no país são os reservatórios de água, sistemas de irrigação ou casas de rede, além de formação para que os hondurenhos se organizem em grupos de poupança e empréstimo, ou para que trabalhem em um comércio em sua comunidade para depois aprender como montar seu próprio negócio.

Elvin Márquez, um hondurenho de 32 anos da comunidade de Santo Antônio, departamento de La Paz, foi um dos beneficiários dos projetos. Ele recebeu formação do CRS e Asomaincopaco para se tornar um técnico veterinário para gado e animais de criação.

"Este aprendizado com workshops foi necessário porque gerou uma melhor renda para mim. Ao contrário da agricultura, a necessidade da aplicação de medicamentos e cuidados com o gado é constante", disse ele à ACI Prensa.

Outra história de sucesso é a de Rony Figueroa, um pai católico que viveu na própria carne o que é a migração.

Em 2007 ele viajou para os EUA para ganhar dinheiro, mas quatro anos depois ele decidiu voltar para sua terra natal, Aguanqueterique, um município do departamento de La Paz, a fim de ver sua família novamente e tentar se estabelecer.

 

Graças à implementação do projeto "Raízes" do CRS em 2020, ele conseguiu desenvolver uma fazenda onde ele tem vários cultivos, culturas de água e tanques de peixes.

Hoje, a migração tornou-se uma situação impensável para ele e sua família.

"Eu me sinto orgulhoso de Honduras. Foi onde nasci, e agora devo ser um portador de luz para os outros", disse ele à ACI Prensa.

Haydee Díaz diz que "quando as pessoas têm comida e suas próprias colheitas, podem dar a sua família o pão de cada dia e gerar renda vendendo seus produtos no mercado".

"Quando isto acontece, vemos que as famílias e os jovens querem ficar em Honduras, em suas comunidades, porque o que eles mais precisam é de uma renda decente", disse ela.

Segundo a especialista do CRS, os reservatórios de água e projetos de irrigação representam uma forma de garantir que as famílias possam cultivar e ter uma renda.

"É isso que impede a migração, porque as pessoas não têm o desespero de não poder resolver as coisas mais básicas", disse ela.

Díaz também destacou que o trabalho que a CRS faz "não é apenas econômico, mas é realmente uma visão de desenvolvimento integral para promover a dignidade de cada pessoa".

"Nas comunidades precisamos de jovens que aprendam a agricultura e que vejam a agricultura e o desenvolvimento agrícola em suas comunidades como uma forma de fazer avançar suas comunidades, não apenas pela agricultura, mas fazendo um negócio que traga renda para a família", concluiu.

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