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Papa Francisco manifesta sua indignação pela queima do Alcorão na Suécia

Papa Francisco na Audiência Geral na Praça São Pedro em 28 de junho de 2023. | Daniel Ibáñez (ACI Prensa

O papa Francisco manifestou a sua "indignação" com a queima do Alcorão, livro sagrado muçulmano, durante uma manifestação em frente a uma mesquita em Södermalm, Estocolmo, Suécia, em 28 de junho.

"A liberdade de expressão nunca deve ser usada como desculpa para desprezar os outros, e permitir isso deve ser rejeitado e condenado", disse o papa Francisco em entrevista a Hamad Al Kaabi, diretor do jornal Al-Ittihad nos Emirados Árabes Unidos (EAU), hoje (3), no Oriente Médio.

Na semana passada, Salwan Momika, de 37 anos, de origem iraquiana, queimou uma cópia do Alcorão, o texto sagrado do Islã em frente à principal mesquita de Estocolmo. Momika obteve autorização das autoridades policiais para a ação, segundo a agência de notícias frances AFP.

O primeiro-ministro sueco, Ulf Hjalmar Kristersson, disse que, embora a decisão da polícia de permitir a queima fosse "legítima", ele a considerou "inapropriada".

Ao comentar sobre o recente incidente da queima do livro sagrado do Islã na Suécia e como ele se sentia sobre esse "comportamento vergonhoso", o papa Francisco respondeu:

"Sinto-me indignado e desgostoso por essas ações. Qualquer livro considerado sagrado pelas pessoas deve ser respeitado por respeito aos seus fiéis", disse ele em sua primeira entrevista a um jornal em língua árabe.

Fraternidade humana

Na entrevista concedida ao jornal Al-Ittihad, fundado há 53 anos, o papa Francisco mencionou em diversas ocasiões o documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em Abu Dhabi por ele e o grã-imã de al-Azhar, Ahmed el-Tayyeb, em fevereiro de 2019.

Desde então, esse documento se tornou uma ferramenta diplomática para o papa Francisco, que o entrega às delegações que recebe no Vaticano.

Francisco disse que "é um texto importante não só para o diálogo entre as religiões, mas para a convivência pacífica entre todos os seres humanos. Ou haverá uma civilização da fraternidade ou da inimizade, ou construímos o futuro juntos ou não haverá futuro".

O conteúdo também se tornou um instrumento de diálogo. O papa citou os mesmos princípios do texto em seu discurso perante o grão-aiatolá Sayyid Ali Husaini Sistani no Iraque em 2021, e depois também os citou em sua viagem ao Bahrein em 2022.

Na entrevista publicada hoje (3), o papa disse ainda que aprecia o compromisso dos Emirados Árabes Unidos em "construir um futuro e forjar uma identidade aberta, ou seja, capaz de vencer a tentação do isolamento e da radicalização".

Ele falou sobre a sua visita a Abu Dhabi em 2019, e aproveitou para agradecer ao Sheikh Mohamed bin Zayed pelo caminho percorrido para espalhar a fraternidade, a paz e a tolerância.

Os jovens são o presente para acabar com o ódio

O papa pediu que os jovens não sejam vítimas de miragens e ódio ou deixados sozinhos pelos adultos: "na minha opinião, a única maneira para proteger os jovens de mensagens negativas e notícias falsas e inventadas, e das tentações do materialismo, do ódio e do preconceito, é não os deixar sozinhos nessa batalha, mas dar-lhes os instrumentos necessárias, que são a liberdade, o discernimento e a responsabilidade".

Para o papa, "a liberdade é o que distingue uma pessoa. Deus nos criou livres até para rejeitá-lo, a liberdade de pensamento e expressão é essencial para ajudá-los a crescer e aprender".

Segundo Francisco, "nunca devemos cair na experiência de tratar os jovens como crianças incapazes de escolher e tomar decisões. Eles são o presente e investir neles significa garantir a continuidade." Assim também se respeita a regra de ouro de fazer aos outros o que você gostaria que fosse feito a você.

Precisamos de construtores de paz

Na entrevista, o papa manifestou a sua satisfação pela acolhida que a mensagem pela paz e coexistência mundial teve na comunidade internacional. "A fraternidade humana é o antídoto de que o mundo precisa para se curar do veneno dessas feridas. O futuro da cooperação inter-religiosa se baseia no princípio da reciprocidade, do respeito ao outro e da verdade".

"Nossa tarefa é transformar o senso religioso em cooperação, em fraternidade, em boas obras concretas; precisamos de defensores da reconciliação, não de pessoas que ameaçam a destruição", acrescentou.

Não à discriminação ou exclusões

"É fácil falar sobre fraternidade, mas a verdadeira medida da fraternidade é o que realmente fazemos de forma concreta para ajudar, apoiar, nutrir e acolher os meus irmãos e irmãs na humanidade. Todo bem, por sua própria natureza, deve ser para todos, indiscriminadamente. Se eu só fizer o bem àqueles que pensam ou acreditam como eu, então meu bem é hipocrisia, porque o bem não conhece discriminação ou exclusão", disse o papa Francisco.

Sobre o aumento das ameaças terroristas, o papa Francisco respondeu com as palavras do documento e condenou "todas as práticas que ameaçam a vida, como os genocídios, os atos terroristas, os deslocamentos forçados, o tráfico de órgãos humanos, o aborto e a eutanásia, e as políticas que apoiam tudo isso".

Finalmente, falou da emergência climática e ambiental. O papa disse: "A única maneira eficaz de enfrentar essa crise é encontrar soluções realistas aos problemas reais da crise ecológica. Devemos transformar as declarações em ação antes que seja tarde demais".

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