20 de dezembro de 2024 Doar
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Por separar procriação do ato conjugal, fertilização in vitro é pecado

Fertilização in vitro. Foto: Shutterstock | Inna Dodor.

Louise Joy Brown completa hoje (25) 45 anos. Ela é a primeira pessoa gerada por fertilização in vitro na história. A técnica de fertilizar um óvulo extraído da mãe com o esperma extraído do pai e reintroduzir o óvulo fecundado no ventre da mãe gerou o prêmio Nobel para o médico Patrick Steptoe e o fisiologista Robert Edwards, ambos britânicos, em 2010.

De 1978 a janeiro de 2022, mais de 10 milhões de bebês fertilizados in vitro nasceram no mundo, segundo a Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia.

Não há número de nascimentos registrado no Brasil, mas a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida contabiliza 384.962 procedimentos de fertilização in vitro nos últimos dez anos, segundo reportagem de Claudinei Queiroz publicada hoje (25) na Folha de São Paulo.

A prática vem sendo elogiada como solução para os “cerca de 17,5% da população adulta, um em cada seis em todo o mundo, [que] sofrem de infertilidade”, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 4 de abril deste ano.

A técnica, porém, é proibida pela doutrina moral católica.

“Tudo que substitua o ato conjugal, como a fecundação in vitro, todas as técnicas derivadas da fecundação in vitro são moralmente inválidas, porque tiram dessa conjugalidade, dessa demonstração física da conjugalidade que é o ato conjugal, essa dimensão amorosa”, disse à ACI Digital o padre Hélio Luciano, professor de teologia moral da Universidad de Navarra, Espanha, e da Faculdade Católica de Santa Catarina

O Catecismo da Igreja Católica diz no nº 2.375 que “as pesquisas que se destinam a reduzir a esterilidade humana devem ser encorajadas, com a condição de serem colocadas ao serviço da pessoa humana, dos seus direitos inalienáveis e do seu bem verdadeiro e integral, em conformidade com o projeto e a vontade de Deus”.

“Tudo aquilo que ajude o ato conjugal” na concepção dos filhos “é moralmente válido e aceito e promovido inclusive pela igreja pra que se possa viver essa dimensão na fecundidade, no ato conjugal”, disse o padre Luciano. “Tudo aquilo que seja substitutivo do ato conjugal é moralmente inválido”, porque implica compreender um filho como um direito e não como um dom.

“Quando excluímos a fecundidade da dimensão amorosa do ato conjugal entramos numa dinâmica de produto, numa dinâmica de mercado e numa dinâmica de direito a ter filho”, disse Luciano.  “Damos um passo em que o nosso coração adere tanto à vontade de ter filhos que já não correspondemos à vontade, ao modo preciso, ao modo certo, ao modo profundo de amar a Deus”.

O pecado é sempre a aversão a Deus e conversão as criaturas, diz Luciano. “Aqui se trata de um converter o nosso coração, de modo tão profundo a algo criado, a algo que queremos muito que acabamos nos afastando de Deus”.

“Não se exclui o sofrimento de famílias e casais que gostariam muito de ter um filho que nasça dessa expressão desse amor conjugal”. “É bom que se reze por isso”, disse o padre, “mas, sempre nesta perspectiva do dom recebido de Deus”.

Segundo Luciano, é preciso “entender que a fecundidade, essa dimensão de procriação humana, se trata de uma colaboração, uma cooperação na atividade criadora de Deus” e “o ato conjugal por excelência é a via de trazer novos filhos ao mundo, de amar esses filhos já, na mesma compreensão, no mesmo querer a que esses filhos venham ao mundo e nesse mesmo querer participar dessa obra criativa divina”.

“Várias intervenções médicas, várias intervenções técnicas são possíveis: cirurgias de endometriose, de varicocele; tratamentos de fertilidade, como alguma reposição hormonal ou alguma estimulação hormonal, simulação de ovulação, simulação de produção de espermatozoides”, são aceitos explicou o sacerdote.

E há “várias complicações adicionais” nestes métodos, como: “produção de mais embriões, a implantação de vários embriões e às vezes aborto de algum que se desenvolveu menos”, sendo “uma série de grandes problemas associados que fazem parte de uma cultura da morte”, considerando “o ser humano como um produto”.

“Não existe um direito ao filho”, disse o padre. “É natural, é bom que se queira ter um filho biológico, é bom que se queira ter o filho como uma manifestação direta do amor conjugal, pelo ato conjugal, mas quando não é possível existem outras formas de viver a fecundidade, seja através de um trabalho social de cuidado, de atenção, através da adoção”.

O padre sublinha que a adoção não é uma obrigação do cristão. “Não é uma obrigação daqueles casais que não conseguem ter filhos, mas é um ato heroico também de conseguir assumir na sua vida essas crianças que já nasceram”.

 

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