Hindus exigem prisão de padre por dizer que um antigo rei não era deus

Um padre de Goa, Índia, está sendo processado criminalmente sob acusação de "ferir os sentimentos hindus" em comentários que fez sobre um rei hindu durante uma missa dominical em julho.

Grupos hindus fizeram manifestações em frente à delegacia de polícia pedindo acusação criminal contra o padre Bolmax Pereira, pároco da Igreja de São Francisco Xavier em Chicalim, na arquidiocese de Goa.

Pereira foi citado na missa postada no YouTube dizendo que o rei hindu do século XVII Chatrapati Shivaji "foi um herói nacional, mas não um deus".

"Existem algumas pessoas para quem Shivaji se tornou um deus… Sim, ele é um herói nacional. Temos que honrá-lo e respeitá-lo. O que ele fez, as batalhas que travou para proteger seu povo… por tudo isso ele merece respeito. Ele é um herói, mas não um deus. … Temos que ter um diálogo com nossos irmãos hindus e perguntar-lhes 'Shivaji é o seu Deus? Ou um herói nacional? Se ele é um herói nacional, que assim seja. Não faça dele um deus. Precisamos entender a perspectiva deles. Se vivermos com medo, não seremos capazes de nos levantar novamente". O jornal Indian Express publicou a homilia de Pereira em 5 de agosto, depois de a polícia abrir um processo criminal contra ele.

Pelo menos quatro casos relacionados ao mesmo incidente foram registrados contra Pereira em quatro delegacias diferentes em Goa.

Goa, pequena ex-colônia portuguesa na costa oeste da Índia, foi evangelizada por são Francisco Xavier, cujos restos mortais estão preservados na catedral do Bom Jesus. O número de católicos vem diminuindo constantemente e agora chega a um quarto dos 1,6 milhão de habitantes do Estado. Goa é governada pelo partido nacionalista hindu Bharatiya Janata (BJP) há mais de uma década.

Pereira será julgado em liberdade mediante fiança de 20 mil rúpias (Cerca de R$ 1,2 mil).

Como o assunto está em julgamento, o padre se recusou a responder à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, embora em uma declaração de 4 de agosto ele tenha expressado "pesar pela controvérsia e mal-entendido" em torno de seu comentário sobre Shivaji.

"O propósito e a intenção de fazer uma menção ao grande herói nacional e valente guerreiro durante o sermão foi dizer aos devotos e telespectadores que Chhatrapati Shivaji Maharaj era reverenciado por pessoas em todo o país e no exterior, atravessando religiões, castas, credos e idiomas," sua declaração foi lida, segundo a India Today TV .

"Portanto, atribuí-lo [Shivaji Maharaj] a apenas uma religião reduziria sua estatura e grandeza entre as pessoas de outras religiões", disse.

O relatório também citou o padre dizendo que ficou "chocado" ao saber que seu sermão foi "seletivamente retirado do contexto" para mostrar apenas uma parte da declaração, enquanto a outra parte elogiava o valor e o heroísmo de Shivaji Maharaj ao proteger seu povo. e reino e se opôs aos invasores, foi "maliciosamente omitido". A omissão de parte de seus comentários foi "destinada a incitar a raiva e criar inimizade entre as comunidades".

"Estamos aliviados e felizes que a polícia e o judiciário tenham notado a fragilidade da alegação feita contra o padre Bolmax", disse ontem (9) o padre jesuíta e ativista de direitos humanos Cedric Prakash à CNA do estado de Gujarat. "Este incidente mostra como os nacionalistas hindus não perdem nem mesmo as oportunidades mais brandas de denegrir e demonizar os cristãos".

"Esta [controvérsia] não é nada surpreendente e reflete a intolerância contra as minorias religiosas no país", disse à CNA Ram Puniyani, estudioso hindu de Mumbai e crítico do fundamentalismo hindu.

"Os nacionalistas hindus têm uma lógica diferente para tudo. Alguns deles até chamam Nathuram Godse [assassino de Mahatma Gandhi, fundador da Índia moderna] de 'deus' e construíram um templo para ele", comentou Puniyani.