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Imaginar um mundo sem guerras não é ingenuidade, diz cardeal Zuppi

Cardeal Matteo Zuppi durante o consistório de agosto de 2022. | Daniel Ibáñez / ACI Prensa.

"Imaginar um mundo sem guerras não é ingenuidade. Dialogar não significa aceitar uma paz injusta, mas encontrar uma paz justa e segura", disse o arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, cardeal Matteo Zuppi. Zuppi foi encarregado pelo papa Francisco em maio para liderar uma missão de paz na Ucrânia e fez a declaração em entrevista ao jornal Sussidiario.net por ocasião da inauguração do "XLIV Encontro de Amizade entre os Povos", que acontece de 20 a 25 de agosto de 2023 em Rimini, Itália.

O cardeal disse que a União Europeia "faz muito pouco, deveria fazer muito mais que para o fim do conflito na Ucrânia". Para ele, a organização "deve tentar de todas as formas ajudar as iniciativas de paz, seguindo o convite do papa para uma paz criativa".

O jornal perguntou por que Deus permitiu esta guerra na Ucrânia. "Deus ama e por isso nos deixa livres para fazer o bem ou o mal", respondeu Zuppi. "E a guerra é sempre o resultado de uma grande cumplicidade, de uma acumulação de maldade que se converte numa máquina de morte".

"A verdadeira questão", continuou o cardeal, "não é onde esteve Deus, mas onde esteve o homem. Há uma guerra porque o homem desobedeceu ao mandamento de Deus de não matar e, direta ou indiretamente, tornou-se cúmplice do mal".

"A tarefa da missão desejada pelo papa", disse o cardeal Zuppi, "é apoiar tudo que possa contribuir para a paz, para humanizar uma experiência que tira a vida. Até a volta de uma só criança ucraniana ao seu lar é uma forma de afirmar a paz e vencer a lógica da violência".

"Se foi alcançado um acordo sobre o trigo, o mesmo pode ser feito para pôr fim às hostilidades" na Ucrânia, disse o arcebispo de Bolonha referindo-se ao acordo sobre as exportações de cereais do Mar Negro, que a Rússia suspendeu em 17 de julho de 2023.

"Em nenhum caso devemos nos acostumar com a guerra. A paz é sempre possível, mas devemos desejá-la e buscá-la a todo custo, pelos caminhos certos e com firme determinação", disse o cardeal Zuppi.

Para resolver o conflito entre a Ucrânia e a Rússia, "precisamos da capacidade de reunir os diferentes atores, envolvendo todos", disse ele. "Devemos buscar um renascimento do espírito europeu, estar cientes de como isso é indispensável se quisermos garantir aos nossos filhos um futuro de paz", acrescentou.

No domingo (20), Zuppi também participou do 44º Encontro de Comunhão e Libertação para a Amizade entre os Povos em Rimini, onde celebrou a missa de abertura. O evento termina na próxima sexta-feira (25).

"Quanta necessidade temos de um mundo que cultive a amizade, e no qual todos possam ser amigos, construindo comunhão para toda a família humana", pregou o cardeal Zuppi em sua homilia.

"Claro, o desejo de amizade entre todos os povos, ainda que o saibamos, colide com a tentação de nos fecharmos em nós mesmos ou, pior ainda, de buscar a segurança erguendo novas barreiras, com antagonismos e divisões que diluem a totalidade, o que é sempre perigoso, pois implica também não compreender e não contribuir para encontrar soluções".

Segundo Zuppi, a paz deve ser, sobretudo, justa: "Todos ansiamos pela paz, pois a guerra é terrível. No entanto, as razões de alguns, infelizmente, levam a perspectivas muito diferentes. Essas diferenças não devem nos fazer perder a clareza da responsabilidade, do agressor e do agredido".

"Devemos acreditar que existe uma maneira de alcançar uma paz justa e segura, não com armas, mas com diálogo. Isso nunca é uma derrota e exige garantias e responsabilidade de todos", acrescentou.

Paz justa e segura

Na tarde de ontem (21), o cardeal Zuppi participou de um painel de discussão sobre o tema "Fratelli tutti (todos irmãos). Testemunhos de uma amizade ativa seguindo os passos do papa Francisco", no Meeting de Rimini, evento do movimento Comunhão e Libertação.

"A paz", disse Zuppi, "requer justiça e segurança. Não pode haver paz injusta que abra caminho para futuros conflitos; sempre há um agressor e um agredido". O cardeal disse que faz esta missão "com a consciência de quantas pessoas rezam pela paz. Isso dá sentido a uma invocação profunda que nos motiva a encontrar o caminho da paz e as ferramentas para resolver os conflitos".

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