21 de novembro de 2024 Doar
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Bispos do Paquistão pedem 'ação resoluta' em defesa de cristãos

Igrejas e casas cristãs queimadas em Jaranwala | ACN

A arquidiocese de Karachi, no Paquistão, condenou os ataques contra igrejas e casas cristãs causados por uma acusação de profanação do Alcorão por um cristão local. Em um comunicado, publicado pela Good News Catholic TV do Paquistão, o arcebispo de Karachi, dom Benny Travas, diz que os cristãos, "com grande espanto e incredulidade", foram "novamente confrontados com ódio aberto e raiva incontrolável".

Em Jaranwala, igrejas e casas de cristãos têm sido alvo de ataques em massa desde 16 de agosto. Segundo o jornal Times of India, as acusações de blasfêmia agravaram as tensões em todo o país. Líderes muçulmanos convocaram seus apoiadores por meio de vídeos nas redes sociais a protestar contra a suposta bçasfêmia, disse o jornal inglês The Guardian.

Uma "suposta profanação do Alcorão, ainda a ser investigada" levou a atos de violência contra toda a comunidade cristã de Jaranwala, em Faisalabad, diz o arcebispo. "Igrejas e casas foram atacadas, destruídas e incendiadas sem nenhum temor, e a Bíblia Sagrada e os lugares sagrados de culto foram profanados".

"Mais uma vez, temos as mesmas sentenças e visitas de sempre, onde se solidarizam e prometem que a justiça será feita, mas na realidade nada se concretiza e tudo fica esquecido", disse dom Travas sobre as declarações de políticos do Paquistão sobre  os ataques.

"Não consigo entender como meu povo mostraria desrespeito a qualquer religião ou a qualquer livro religioso", diz o arcebispo.

Segundo ele, os cristãos demonstraram várias vezes "sua fidelidade à nação paquistanesa". No entanto, incidentes como "o incêndio de casas em Gojra, Shantinagar, na Colônia de José e agora em Jaranwala, mostram que na verdade somos cidadãos de segunda classe, que podem ser aterrorizados à vontade".

O comunicado termina com um chamado ao governo paquistanês. Dom Travas diz que "devem ser solidários com a comunidade cristã nesta hora de dor, agindo resolutamente contra aqueles que fizeram justiça com as próprias mãos e destruíram e profanaram igrejas, as Sagradas Escrituras e as casas de tantas pessoas".

Por fim, o arcebispo pede uma "investigação de alto nível" sobre a questão das profanações contra o Alcorão, já que, em sua opinião, "incidentes anteriores demonstraram que há outros motivos por trás dessas acusações".

A Conferência dos Bispos Católicos do Paquistão convocou "um dia de oração" que aconteceu no domingo passado (20), "tendo em vista a situação e os incidentes em Jaranwala". Os bispos convidaram "todos os cristãos e pessoas de boa vontade" a rezar pelos acontecimentos dos últimos dias e pela paz e concórdia no país.

Bispos e leigos de Karachi se reuniram em frente ao Clube de Imprensa no sábado para protestar contra a violência e a intolerância.

Cerca de 90% da população do Paquistão são muçulmanos. Os cristãos representam 1,27% (2,6 milhões de pessoas).

A Comissão Internacional de Liberdade Religiosa dos EUA identificou o Paquistão como um "país de particular preocupação", destacando a necessidade de tomar medidas contra essas graves violações dos direitos humanos.

De 1987 até o início de 2021, mais de 1,8 mil pessoas foram acusadas de blasfêmia. Em março deste ano, 40 pessoas estavam cumprindo sentenças de prisão perpétua ou aguardavam execução por blasfêmia. Desde 1990, mais de 80 pessoas foram mortas por suposta blasfêmia.

As Pontifícias Obras Missionárias (POM) dos EUA lançaram uma campanha de arrecadação de fundos para os cristãos no Paquistão. Até o momento, foram arrecadados mais de US$ 6 mil, 12% da meta de US$ 50 mil.

Na descrição da campanha estão as palavras de dom Sebastian Shaw, arcebispo de Lahore, capital da província de Punjab:

"Rezaremos pela paz, pela harmonia inter-religiosa, para dizer 'não' a ​​todas as formas de violência e ódio, que nunca se justificam, que são um veneno para a sociedade. Clamamos a Deus, doador de todo o bem, e pedimos todas as pessoas de boa vontade que estejam ao nosso lado, unidas por um Paquistão em paz, livre de ódio, onde os direitos e liberdades de todos os cidadãos sejam respeitados, independentemente de seu credo".

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