20 de dezembro de 2024 Doar
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Papa vai à Mongólia, uma democracia entre a China e a Rússia

Mongólia no Mapa | Shutterstock

Em sua próxima viagem internacional, o papa Francisco vai à Mongólia.

Quando o papa Francisco chegar à capital Ulaanbaatar, no dia 1º de setembro, ele se tornará o primeiro papa na história da Igreja a visitar a Mongólia. Mas a viagem poderá ter implicações geopolíticas que vão além da população de apenas 1.450 católicos.

A Mongólia é uma democracia pós-soviética que continua a ter fortes laços com os seus vizinhos China e Rússia, bem como uma importante relação diplomática com os EUA, que a Mongólia chama de “terceiro vizinho”.

No primeiro discurso do papa Francisco no Palácio do Governo da Mongólia, ele vai falar não só aos líderes democráticos do país, mas também ao corpo diplomático local, que inclui funcionários das embaixadas da Rússia, China e Coreia do Norte.

Rússia

Os meios de comunicação estatais russos já sinalizaram que estão prestando muita atenção à viagem do papa. A agência oficial de notícias Tass chegou a sugerir a possibilidade de uma escala do avião papal no aeroporto de Moscou como um local “neutro” para o papa Francisco se encontrar com o patriarca ortodoxo russo kirill.

Durante a era do regime comunista de partido único da Mongólia no século XX, os seus laços políticos e econômicos com a União Soviética eram muito fortes e a Rússia continua a ser um fornecedor essencial de energia à Mongólia

Os soviéticos deram à capital mongol o seu nome atual, Ulaanbaatar – que significa “Herói Vermelho” em russo – em 1924, em homenagem ao comunismo. A língua mongol usa um alfabeto cirílico semelhante ao russo desde a década de 1940, embora o governo tenha anunciado planos para retornar à escrita tradicional do país até 2025.

Hoje a Mongólia importa 90% dos seus derivados de petróleo da Rússia e absteve-se nas votações da ONU que condenam a invasão da Ucrânia pela Rússia.

A guerra na Ucrânia apareceu em muitos dos discursos do papa durante as suas viagens internacionais no ano passado, incluindo um discurso aos líderes governamentais no Cazaquistão pós-soviético, onde Francisco apelou ao fim daquela “guerra trágica e sem sentido”.

Devido ao seu papel único como democracia eurasiática, a Mongólia tem sido apresentada como um local para possíveis negociações de paz entre a Ucrânia e a Rússia. A viagem do papa Francisco à Mongólia ocorre no meio de uma missão de paz da Santa Sé liderada pelo cardeal Matteo Zuppi, que fez visitas diplomáticas a Kiev, Moscou e Washington. O papa também lhe pediu que continuasse a “ofensiva de paz” da Santa Sé em Pequim.

China

A Mongólia tem uma fronteira de cerca de 4,8 mil km com a China, que é também o maior parceiro econômico da Mongólia. Historicamente, os mongóis conquistaram toda a China durante o século XIII, e a Mongólia fez posteriormente parte da dinastia Qing da China durante mais de dois séculos.

O bispo de Hong Kong e futuro cardeal, dom Stephen Chow, disse que viajará à Mongólia para a viagem do papa com uma delegação de cerca de 30 católicos da sua diocese. No início deste ano, ele tornou-se o primeiro bispo de Hong Kong a fazer uma visita oficial a Pequim em quase 30 anos.

Enquanto o papa Francisco estiver na Mongólia, o Partido Comunista Chinês implementará novas restrições religiosas, chamadas “Regulamentos sobre a Gestão de Locais de Atividades Religiosas”, que entrarão em vigor em 1º de setembro. As restrições proíbem a exibição ao ar livre de símbolos religiosos, exigem que a pregação “reflita os valores socialistas fundamentais” e limitam todas as atividades religiosas a locais aprovados pelo governo, segundo a China Aid.

As restrições chinesas à liberdade religiosa afetarão tanto os cristãos como os budistas, incluindo nas regiões do Tibete e da Mongólia Interior, o que poderia ser um potencial ponto de discussão para a dimensão inter-religiosa budista-católica da viagem do papa Francisco à Mongólia. Francisco, que anteriormente recebeu uma delegação de líderes budistas mongóis no Vaticano, deverá participar numa reunião inter-religiosa em Ulaanbaatar, no dia 3 de setembro.

As relações entre a Santa Sé e a China tiveram um ano difícil. No mês passado, a Santa Sé anunciou a decisão do papa Francisco de aprovar a nomeação do bispo de Xangai, que tinha sido empossado pelas autoridades chinesas sem a aprovação da Santa Sé. Foi a segunda nomeação não autorizada de Pequim desde novembro de 2022.

Atualmente, a China domina o comércio da Mongólia, que envia 86% das suas exportações para o gigante asiático. O carvão é responsável pela maioria das importações chinesas da Mongólia. Durante a viagem de seis dias do primeiro-ministro da Mongólia à China neste verão, ele falou em levar as relações entre os dois países "a novos patamares" e assinou um contrato para a construção de uma ligação ferroviária de US$ 1,8 bilhões.

A Mongólia também concordou em aprofundar a cooperação na mineração de metais de terras raras com o seu “terceiro vizinho”, os EUA, durante uma visita oficial do primeiro-ministro a Washington no início deste mês. São metais importantes para a indústria eletrônica. Os EUA também assinaram um acordo de “céus abertos”, abrindo caminho para que a Mongolian Airlines voe para os EUA pela primeira vez.

O papa Francisco visitará a Mongólia por quatro dias, durante os quais deve se encontrar com líderes governamentais, participar de um diálogo inter-religioso e celebrar uma missa para os 1,5 mil católicos do país que tem uma população e cerca de 3,2 milhões de habitantes.

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