4 de dezembro de 2024 Doar
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Novo chefe de doutrina da Santa Sé está aberto ao debate, mas alerta sobre riscos de “cisma”

Dom Víctor Fernández | Cortesia/Arquidiocese de La Plata.

O futuro cardeal Víctor Manuel Fernández, que assume em breve o cargo de prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, principal órgão doutrinário da Santa Sé, expressou sua abertura aos debates teológicos, dizendo que eles ajudam a aprofundar a compreensão que a Igreja tem do Evangelho.

“A verdadeira doutrina só pode ser luz, guia para os nossos passos, um caminho seguro e uma alegria para o coração. Mas é claro que mesmo a Igreja ainda não compreende plenamente toda a riqueza do Evangelho”, disse dom Fernández a Edward Pentin, do jornal National Catholic Register, do grupo de comunicação católico EWTN, ao qual pertence a ACI Digital, numa entrevista exclusiva por e-mail em 8 de setembro.

“A doutrina não muda, o Evangelho será sempre o mesmo, a Revelação já está encerrada”, disse o próximo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé. “Mas não há dúvida de que a Igreja sempre será pequena diante de tal abismo de verdade e de beleza e precisará sempre continuar crescendo em sua compreensão”.

O teólogo argentino, de 61 anos, criticou tanto os bispos “progressistas” quanto os “tradicionalistas” que creem ter um “dom especial do Espírito Santo para julgar a doutrina do Santo Padre”, alertando que estão em um caminho para a “heresia” e o “cisma”.

“Lembre-se de que os hereges sempre acham que sabem qual é a verdadeira doutrina da Igreja”, disse ele.

Dom Víctor Fernández, confidente próximo e suposto ghost writer do papa Francisco, que foi arcebispo de La Plata, Argentina, desde 2018, manifestou a sua disposição a considerar as bênçãos da Igreja para as uniões entre pessoas do mesmo sexo, desde que não causem “confusão”. Mas na entrevista com Pentin ele disse que está incomodado com as implicações mediáticas de que os seus pontos de vista se alinham com o chamado Caminho Sinodal da Igreja na Alemanha, que pediu mudanças dramáticas nos ensinamentos da Igreja sobre a moralidade sexual e outros temas.

O cardeal eleito disse que a Igreja na Alemanha “tem sérios problemas e evidentemente tem que pensar numa nova evangelização”, mas disse que conhece “pouco” sobre ela e, em vez disso, falou do que chama de sua própria “receita para enfrentar a indiferença religiosa" da sociedade" em sua forma de evangelizar como padre e bispo na Argentina.

Sobre essa “receita”, ele disse: “Olha, meu livro mais famoso se chama Os cinco Minutos do Espírito Santo e contém uma meditação para cada dia sobre o Espírito Santo que já vendeu 150 mil exemplares. Sabia?"

“Por outro lado, fui pároco e também bispo diocesano. Vá perguntar aos fiéis da minha paróquia o que fiz quando era pároco e você verá: adorações eucarísticas, cursos sobre o catecismo, cursos bíblicos, missões pelas casas com a Virgem e com uma oração para abençoar o lar; tinha dez grupos de oração e 130 jovens”, continuou ele.

“Como bispo diocesano, pergunte às pessoas o que lhes falava nas minhas homilias na catedral e nas minhas visitas às paróquias: sobre Cristo, sobre a oração, sobre o Espírito Santo, sobre Maria, sobre a santificação. E no ano passado propus a toda a arquidiocese que nos concentrássemos em ‘crescer juntos em direção à santidade’”.

No dia 1º de julho, o papa Francisco nomeou dom Víctor Manuel Fernández como sucessor do cardeal Luis Ladaria Ferrer, jesuíta de 79 anos, que era o chefe do Dicastério desde 2017.

“Como o novo prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé, confio a ti uma tarefa que considero muito valiosa", escreveu o papa em uma carta a Fernández, publicada com o anúncio de sua nomeação.

O papa disse que o dicastério promoveu, por vezes, a perseguição de “erros doutrinais” em vez de “promover o conhecimento teológico”.

“O que espero de si é certamente algo muito diferente”, disse Francisco. “Peço-lhe, como prefeito, que dedique o seu empenho pessoal de forma mais direta ao objetivo principal do Dicastério que é 'guardar a fé'".

Dom Fernández tocou em algo semelhante ao falar sobre seu novo papel na entrevista com Pentin.

“Acho que este Dicastério pode ser um espaço que pode acolher estes debates e enquadrá-los na doutrina segura da Igreja, evitando assim alguns debates mediáticos mais violentos, confusos e até escandalosos para os fiéis”, disse ele.

Ele também teve coisas concretas a dizer sobre os bispos que julgam a “doutrina do Santo Padre”.

O papa não só tem o dever de guardar e preservar o depósito “estático” da fé, disse dom Fernández, mas também um segundo carisma único, concedido apenas a Pedro e aos seus sucessores, que é “um dom presente e ativo”.

“Eu não tenho esse carisma, nem você, nem o cardeal (Raymond) Burke. Hoje só o papa Francisco o tem”, disse, em aparente referência a um prefácio que Burke escreveu para um livro que critica o Sínodo sobre a Sinodalidade do próximo mês.

“Agora, se você me disser que alguns bispos têm um dom especial do Espírito Santo para julgar a doutrina do Santo Padre, entraríamos num círculo vicioso (onde qualquer um pode pretender ter a verdadeira doutrina) e, além disso, isso seria uma heresia e um cisma”, disse.

“Lembre-se de que os hereges sempre acham que sabem qual é a verdadeira doutrina da Igreja. Infelizmente, hoje não só alguns progressistas caem neste erro, mas também, paradoxalmente, alguns setores tradicionalistas”, disse.

Você pode ler a entrevista completa com dom Fernández (em inglês) aqui.

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