Sep 14, 2023 / 13:19 pm
A Santa Sé negou a afirmação de Rayan Al-Kildani, cristão líder de milicia iraquiana, de que foi recebido pelo papa Francisco em audiência privada.
Rayan Al-Kildani, cujo nome significa “Rayan, o Caldeu”, é um parlamentar cristão e líder da milícia “Brigadas da Babilônia”, que já foi punida pelos EUA por acusações de violações dos direitos humanos, incluindo ter cortado a orelha de um prisioneiro.
Al-Kildani entrou em confronto público com o principal líder da Igreja Católica Caldeia, o cardeal Luis Raphael Sako, devido às declarações do cardeal que o acusa de extorquir cristãos na Planície de Nínive, um território historicamente cristão. O cardeal também denunciou Al-Kildani pela sua suposta ambição de controlar o dinheiro e as propriedades da Igreja Católica Caldeia no Iraque.
A maioria dos cristãos no Iraque é de rito caldeu. A Igreja Caldeia é uma Igreja Católica Oriental que está em plena comunhão com Roma.
Nas suas redes sociais, Al-Kildani publicou fotos no dia 7 de setembro, o que parecia implicar, segundo alguns observadores, que tinha sido recebido em audiência privada pelo papa Francisco. Al-Kildani também publicou uma declaração no Facebook, após a sua visita ao Vaticano, junto com algumas fotos, uma das quais foi editada para não mostrar a multidão que tinha ao redor.
“No final da oração, al-Kildani encontrou-se com Sua Santidade o papa… e transmitiu as saudações do governo iraquiano e do povo iraquiano, pedindo as suas orações pelo Iraque. Por sua vez, Sua Santidade o papa concedeu a Kildani a sua bênção apostólica e deu-lhe um presente especial, que é o Terço, abençoado por Sua Santidade”, disse Al-Kildani.
A Santa Sé publicou um breve comunicado dizendo que o encontro com Al-Kildani ocorreu durante a Audiência Geral de 6 de setembro, o evento semanal do papa com a presença de milhares de pessoas.
“Durante a audiência geral celebrada na Praça de São Pedro, no dia 6 de setembro, Sua Santidade Francisco cumprimentou, como sempre, algumas pessoas presentes. Entre eles estava também um grupo de iraquianos com o senhor Rayan Al-Kildani, com quem houve uma breve saudação devido à circunstância”, informou a Sala de Imprensa da Santa Sé.
As audiências gerais do papa acontecem na praça de São Pedro e atraem milhares de peregrinos de todo o mundo, muitos dos quais têm a oportunidade de cumprimentar o papa e tirar fotos com ele.
Al-Kildani solicitou previamente uma reunião pessoal com o papa Francisco em 2021, quando Francisco visitou o país, e novamente em abril de 2023, mas foi recusado em ambas as ocasiões, disse o Washington Institute, um grupo de especialistas com sede na capital dos EUA.
Numa publicação no Facebook de ontem (13), Al-Kildani disse que a declaração de quarta-feira (12) da Santa Sé confirma “o seu conhecimento prévio da presença do senhor Ryan Al-Kildani na delegação iraquiana no encontro com Sua Santidade o Papa”.
Al-Kildani é uma figura polêmica não só pelos seus possíveis crimes, mas também pelas suas disputas públicas com a hierarquia da Igreja.
Em julho, o cardeal Sako anunciou sua retirada da sede em Bagdá depois que o presidente iraquiano Abdul Rashid revogou um decreto que o reconhecia como chefe da Igreja Cristã no Iraque, algo que o governo vinha fazendo desde 2013.
O cardeal disse em julho que se estabeleceria num mosteiro no Curdistão, uma região autônoma do Iraque, de onde continuará a liderar a Igreja Caldeia. O grupo militante de Al-Kildani envolveu-se numa “campanha deliberada e humilhante” contra o seu gabinete, que incluiu assessoria jurídica “incorreta” a Rashid, o que ajudou a levar à decisão do presidente, acusou o cardeal numa carta aos seus fiéis.
Segundo um relatório da ACI MENA, agência do Grupo ACI para o Médio Oriente e Norte de África, Sako também acusou Al-Kildani de tomar cadeiras cristãs no Parlamento iraquiano sem uma representação real dos cristãos. Como resultado, Al-Kildani levou Sako aos tribunais por difamação. O processo está em andamento.
Segundo o Departamento do Tesouro dos EUA, o grupo de Al-Kildani “se apoderou e vendeu ilegalmente terras para agricultura” e “a população local acusou o grupo de intimidação, extorsão e assédio às mulheres”.
Um vídeo, que circulou entre grupos de direitos humanos, mostrava Al-Kildani cortando a orelha de um preso algemado, segundo o relatório do Departamento do Tesouro.
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