22 de dezembro de 2024 Doar
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Catequese do papa Francisco sobre são Daniel Comboni, “profeta da missão”

O papa Francisco na Audiência Geral de 20 de setembro. | Daniel Ibáñez/ACI Prensa

Na Audiência Geral hoje (20), o papa Francisco continuou com o seu ciclo de catequese sobre a evangelização e o zelo apostólico.

Diante dos fiéis que o escutavam na praça de São Pedro, o papa propôs hoje o exemplo de são Daniel Comboni, o “apóstolo cheio de zelo pela África”.

Abaixo, a catequese completa do papa Francisco:

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

No caminho de catequeses sobre a paixão evangelizadora, ou seja, o zelo apostólico, meditemos hoje sobre o testemunho de São Daniel Comboni. Ele foi um apóstolo cheio de zelo pela África. Sobre aqueles povos, escreveu: «Apoderaram-se do meu coração, que só vive para eles» (Escritos, 941), «morrerei com a África nos meus lábios» (Escritos, 1441). É bonito... E a eles dirigia-se assim: «O mais feliz dos meus dias será quando eu puder dar a vida por vós» (Escritos, 3159). Trata-se da expressão de uma pessoa apaixonada por Deus e pelos irmãos que servia em missão, a propósito dos quais não se cansava de recordar que «Jesus Cristo sofreu e morreu também por eles» (Escritos, 2499; 4801). 

Afirmava-o num contexto caraterizado pelo horror da escravatura, de que foi testemunha. A escravatura “coisifica” o homem, cujo valor se reduz a ser útil a alguém ou a algo. Mas Jesus, Deus que se fez homem, elevou a dignidade de cada ser humano, desmascarando a falsidade de qualquer escravatura. À luz de Cristo, Comboni adquiriu consciência do mal da escravatura; além disso, compreendeu que a escravatura social se arraiga numa escravatura mais profunda, a do coração, do pecado, da qual o Senhor nos liberta. Portanto, como cristãos, somos chamados a lutar contra todas as formas de escravatura. Mas infelizmente a escravatura, assim como o colonialismo, não é uma recordação do passado, infelizmente! Na África tão amada por Comboni, hoje dilacerada por numerosos conflitos, «depois daquele político, desencadeou-se (...) um “colonialismo econômico”, igualmente escravizante (...). É um drama perante o qual o mundo economicamente mais avançado muitas vezes fecha os olhos, os ouvidos e a boca». Por isso, renovo o meu apelo: «Deixai de sufocar a África: ela não é uma mina a explorar, nem um solo a saquear» (Encontro com as Autoridades, Kinshasa, 31 de janeiro de 2023). 

Voltemos à vicissitude de São Daniel. Depois de ter passado um primeiro período na África, teve que abandonar a missão por motivos de saúde. Demasiados missionários tinham morrido por ter contraído doenças, devido ao escasso conhecimento da realidade local. Mas se outros abandonavam a África, Comboni não. Após um período de discernimento, sentiu que o Senhor lhe inspirava um novo caminho de evangelização, que ele resumiu com as seguintes palavras: «Salvar a África com a África» (Escritos, 2741 s.). Trata-se de uma intuição poderosa, não há colonialismo algum nisto: é uma intuição poderosa que contribuiu para renovar o compromisso missionário: as pessoas evangelizadas não eram apenas “objetos”, mas “sujeitos” da missão. E São Daniel Comboni desejava tornar todos os cristãos protagonistas da ação evangelizadora. E com este espírito, pensou e agiu de modo integral, envolvendo o clero local e promovendo o serviço laical dos catequistas. Os catequistas são um tesouro da Igreja: os catequistas são aqueles que vão em frente na evangelização. Assim concebia também o desenvolvimento humano, interessando-se pelas artes e profissões, favorecendo o papel da família e da mulher na transformação da cultura e da sociedade. E como é importante, ainda hoje, fazer progredir a fé e o desenvolvimento humano a partir do interior dos contextos de missão, em vez de neles transplantar modelos externos, ou limitar-se a um assistencialismo estéril! Nem modelos externos, nem assistencialismo. Haurir da cultura dos povos o caminho para fazer a evangelização. Evangelizar a cultura e inculturar o Evangelho: caminham juntos!

No entanto, a grande paixão missionária de Comboni não foi principalmente fruto do esforço humano: ele não era impelido pela sua coragem, nem motivado apenas por valores importantes, como a liberdade, a justiça e a paz; o seu zelo nascia da alegria do Evangelho, alimentava-se do amor de Cristo e levava ao amor a Cristo! São Daniel escreveu: «Uma missão tão árdua e laboriosa como a nossa não pode viver de aparências, de sujeitos de pescoço torto, cheios de egoísmo e de si próprios, que não se preocupam, como deviam, com a saúde e a conversão das almas». Este é o drama do clericalismo, que leva os cristãos, até os leigos, a clericalizar-se e a transformá-los - como se diz aqui - em sujeitos de pescoço torto, cheios de egoísmo. Esta é a chaga do clericalismo.

E acrescentava: «É preciso fazê-los arder de caridade, com a sua fonte em Deus e no amor de Cristo; e quando se ama verdadeiramente a Cristo, então as privações, os padecimentos e o martírio são docilidades» (Escritos, 6656). O seu desejo era ver missionários fervorosos, alegres, comprometidos: missionários - escrevia - «santos e capazes. [...] Primeiro: santos, isto é, alheios ao pecado e humildes. Mas não basta: é necessária a caridade para tornar os sujeitos capazes» (Escritos, 6655). Portanto, para Comboni a fonte da capacidade missionária é a caridade, em particular o zelo de fazer seus os sofrimentos dos outros.

De resto, a sua paixão evangelizadora nunca o levou a agir como solista, mas sempre em comunhão, na Igreja. «Só tenho a vida para consagrar à saúde daquelas almas», escreveu, «gostaria de ter mil para as consumir com este objetivo» (Escritos, 2271). 

Irmãos e irmãs, São Daniel dá testemunho do amor do bom Pastor, que vai em busca de quem se perdeu e dá a vida pelo rebanho. O seu zelo foi enérgico e profético, opondo-se à indiferença e à exclusão. Nas cartas recordava com entusiasmo a sua amada Igreja, que durante demasiado tempo tinha esquecido a África. O sonho de Comboni é uma Igreja que faça causa comum com os crucificados da história, para experimentar com eles a ressurreição. Neste momento, dou-vos uma sugestão. Pensai nos crucificados da história de hoje: homens, mulheres, crianças, idosos que são crucificados por histórias de injustiça e de domínio. Pensemos neles e oremos! O seu testemunho parece reiterar a todos nós, homens e mulheres de Igreja: “Não esqueçais os pobres, amai-os, pois neles está presente Jesus crucificado, à espera de ressuscitar”. Não vos esqueçais dos pobres: antes de vir aqui, tive um encontro com legisladores brasileiros que trabalham a favor dos pobres, que procuram promover os pobres com a assistência e a justiça social. E eles não se esquecem dos pobres: trabalham pelos pobres. Digo-vos: não vos esqueçais dos pobres, pois são eles que vos abrirão a porta do Céu.

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