18 de dezembro de 2024 Doar
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Jerusalém deve ser uma “cidade de encontro”, diz autoridade da Santa Sé na ONU

Dom Paul Richard Gallagher. | Vatican News

“A Santa Sé vê Jerusalém não como um lugar de conflito e divisão, mas como um lugar de encontro, onde cristãos, judeus e muçulmanos podem viver juntos com respeito e boa vontade recíproca”, disse o Secretário para as Relações com os Estados e Organizações Internacionais da Santa Sé, dom Paul Richard Gallagher.

As declarações de dom Gallagher foram feitas na 78ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), que acontecem em Nova York, EUA, de 18 a 26 de setembro.

“A Santa Sé sempre acompanhou com especial atenção a situação nos territórios onde hoje estão presentes o Estado de Israel e o Estado da Palestina. Os interesses da Santa Sé naquela região centram-se essencialmente em dois aspectos: a existência dos Lugares Santos do Senhor Jesus, confiados pelos papas à Custódia dos Irmãos Menores há mais de 800 anos; e sobretudo a presença ininterrupta e constante da comunidade cristã há 2 mil anos”, disse o secretário em seu discurso.

A Santa Sé “está firmemente convencida” de que a paz entre os dois países é possível, e até necessária, para o benefício da região e de toda a comunidade internacional. Gallagher valorizou todas as iniciativas feitas para alcançar uma paz duradoura, incluindo a Iniciativa Árabe de Paz, “desde que não prejudique as populações locais ou as legítimas demandas de israelenses e palestinos”.

A Iniciativa Árabe de Paz é uma resolução de 2022, promovida pelo então príncipe Abdullah, herdeiro da Coroa da Arábia Saudita, que propôs cinco pontos para acabar com o conflito árabe-israelense.

A resolução pedia a Israel que se retirasse do seu atual território às fronteiras anteriores a 1967 e o estabelecimento de um Estado palestino incluindo todo o território da Cisjordânia e Gaza, com Jerusalém Oriental como capital. Os países árabes, por sua vez, reconheceriam o Estado de Israel, assinariam acordos de paz com o país e estabeleceriam relações diplomáticas completas com Israel. Dos 22 países que integram a liga Árabe, apenas Jordânia e Egito reconhecem Israel e têm relações diplomáticas com o país.

Dom Gallagher falou dos “problemas de governança interna” dos palestinos. O território palestino está dividido a Fatah, facção da Organização pela Libertação da Palestina (OLP), governando a Cisjordânia, e o grupo radical islâmico Hamas no poder na faixa de Gaza. Gallagher também criticou uma “atitude cada vez mais pesada e militarmente invasiva do Estado de Israel”.

O secretário lamentou também que, 30 anos após a assinatura dos Acordos de Oslo (1993), “que deram uma ideia de como seria a solução de dois Estados para ambos os povos”, as hostilidades continuem em vigor. O acordo foi assinado entre Israel e a OLP. O Hamas não reconhece nem o acordo, nem o direito de Israel existir. A maior parte dos confrontos armados entre Israel e palestinos hoje tem origem em ataques provenientes da Faixa de Gaza.

Gallagher também falou dos ataques a cristãos em Jerusalém por parte de extremistas judeus, e pediu aos governos que os condenem e os processem e condenem os responsáveis de acordo com a para evitar que voltem a acontecer.

Dom Gallagher também pediu que qualquer iniciativa de paz reflita sobre Jerusalém, “pensando-a como uma Cidade de encontro, isto é, um lugar preservado por um 'estatuto especial 'garantido internacionalmente”.

Em 1948 a Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou a criação de um estado árabe e um estado judeu na região da Palestina, à época um protetorado britânico. Jerusalém seria uma cidade internacional. Os judeus fundaram Israel e os árabes recusaram a ideia de dois Estados, dando início à primeira guerra entre árabes e Israel. Em 1967, na Guerra dos Seis Dias, Israel tomou a parte oriental de Jerusalém, que havia sido invadida pela Jordânia, e unificou a cidade sob deu poder. 

A Santa Sé, continuou ele, “há anos promove a ideia de um estatuto especial”, porque considera que quem dirige e administra a Cidade de Jerusalém deve fazê-lo sempre de acordo com a legislação internacional e preservando princípios como “a igualdade de direitos e deveres dos fiéis das três religiões monoteístas (cristãos, judeus e muçulmanos), a garantia absoluta da liberdade de religião e de acesso e culto nos Lugares Santos”.

Por último, recordou que o papa Francisco “pediu repetidamente que israelenses e palestinos tenham um diálogo direto”, que abranja todos os aspectos do conflito, mesmo aqueles que não parecem ter uma solução clara.

“Há quase dez anos, em 8 de junho de 2014, o então presidente israelense Shimon Peres e o presidente palestino Mahmoud Abbas se reuniram no Vaticano para rezar juntos pela paz e – junto com o papa Francisco – plantaram uma oliveira nos jardins do Vaticano. Depois dessa reunião, parece-me que não houve mais reuniões semelhantes de alto nível. No entanto, continuemos a regar aquela oliveira, enquanto esperamos que os presidentes dos dois Estados, acompanhados dos seus governos, voltem para colher os frutos da paz”, concluiu o secretário.

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