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Sínodo da Sinodalidade: Os participantes do Sínodo da Amazônia que voltam a Roma

Bispos participantes do Sínodo da Amazônia 2019. | Daniel Ibañéz / ACI Prensa.

Dos mais de 360 ​​participantes do Sínodo sobre a Sinodalidade que acontece no Vaticano de 4 a 29 de outubro próximo com o  lema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão” cerca de trinta participaram do Sínodo da Amazônia em 2019.

Há quatro anos, o arcebispo de Luxemburgo, o agora cardeal Jean-Claude Hollerich, fez parte do Sínodo da Amazônia a convite do papa Francisco. Ambos são jesuítas

Para o Sínodo sobre a Sinodalidade, o cardeal jesuíta foi eleito relator-geral da Assembleia. Suas funções incluem expor o tema, ilustrar o documento de trabalho, apontar pontos para diálogo e supervisionar a elaboração do documento final.

Em 29 de março de 2023, numa extensa entrevista concedida ao meio de comunicação católico croata Glas Koncila, o cardeal Hollerich disse: “Com o tempo” o papa poderia permitir a ordenação de mulheres para o sacerdócio.

E ao responder se o papa pode decidir contra o que são João Paulo II estabeleceu na carta apostólica Ordinatio sacerdotalis, que define que o sacerdócio ministerial é reservado apenas aos homens e que a Igreja não tem poder para mudar isso, Hollerich disse: “Com o tempo, sim”.

“Sobre a ordenação de mulheres na Igreja Católica, a última palavra clara foi pronunciada por são João Paulo II e permanece”, disse o papa Francisco na entrevista coletiva durante a sua viagem de volta da Suécia a Roma, em novembro de 2016.

Na mesma entrevista de março deste ano, o cardeal Hollerich falou da doutrina católica sobre pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo: “A parte do ensinamento que chama a homossexualidade de ‘intrinsecamente desordenada’ me parece um pouco duvidosa. Ainda assim, temos que aceitar todas as pessoas e fazê-las sentir o amor de Deus. Se vocês sentem isso, tenho certeza de que algo mudará em seu coração”, disse ele.

A doutrina católica sobre homossexualidade está resumida nos seguintes três artigos do Catecismo da Igreja Católica: 2357, 2358 e 2359.

“A Tradição sempre declarou que «os atos de homossexualidade são intrinsecamente desordenados». São contrários à lei natural, fecham o ato sexual ao dom da vida, não procedem duma verdadeira complementaridade afetiva sexual, não podem, em caso algum, ser aprovados”, diz o número 2357.

“Um número considerável de homens e de mulheres apresenta tendências homossexuais profundamente radicadas. Esta propensão, objetivamente desordenada, constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do Senhor as dificuldades que podem encontrar devido à sua condição”, diz o número 2358.

“As pessoas homossexuais são chamadas à castidade. Pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, e, às vezes, pelo apoio duma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem aproximar-se, gradual e resolutamente, da perfeição cristã”, diz o número 2359.

O bispo de San Diego, EUA, cardeal Robert Walter McElroy, participará do Sínodo da Sinodalidade e também participou do Sínodo Amazônico por nomeação do papa.

McElroy falou em várias ocasiões sobre o debate da “coerência eucarística”, dizendo que a Comunhão não deve ser negada aos políticos que apoiam a legalização do aborto.

Ele já criticou várias vezes o que considera ser a elevação do aborto como uma prioridade sobre outras preocupações sociais, como a pena de morte, o cuidado dos migrantes e o ambiente.

O cânon 915 do Código de Direito Canônico, lei que regula a Igreja universal, diz: “Não sejam admitidos à sagrada comunhão os excomungados e os interditos, depois da aplicação ou declaração da pena, e outros que obstinadamente perseverem em pecado grave manifesto”.

Numa carta de 2004 aos bispos dos EUA, o então cardeal Joseph Ratzinger, mais tarde papa Bento XVI, escreveu: “A respeito do pecado grave do aborto ou da eutanásia, quando a cooperação formal de uma pessoa é manifesta (entendida, no caso de um político católico, como fazer campanha e votar sistematicamente por leis permissivas de aborto e eutanásia), seu pároco deveria reunir-se com ele, instruí-lo a respeito dos ensinamentos da Igreja, informando-lhe que não deve apresentar-se à Sagrada Comunhão até que termine com a situação objetiva de pecado, e advertindo-lhe que de outra maneira se lhe negará a Eucaristia”.

Em outubro de 2019, após a conclusão do Sínodo da Amazônia, o então bispo McElroy disse ao National Catholic Reporter que é a favor da ordenação de mulheres como diaconisas. “A minha opinião sobre isto é que as mulheres deveriam ser convidadas para todos os ministérios ou atividades que temos e que não estejam doutrinariamente excluídas”, disse ele.

A Comissão para o Estudo do Diaconato Feminino foi criada pelo papa Francisco em agosto de 2016. Em maio de 2019, o papa disse que não tinha medo de estudar mais o assunto, “mas até este momento não vai”. Em abril de 2020, o papa criou uma nova Comissão para analisar o tema.

O cardeal Oswald Gracias, arcebispo de Bombaim, Índia, é outro dos participantes do Sínodo que também esteve no Sínodo da Amazônia em 2019. Naquela ocasião, o cardeal falou do papel da mulher na Igreja.

“O direito canônico, a lei da Igreja, permite tudo, menos que as mulheres possam escutar confissões, celebrar Missa e não podem dar [o sacramento] da Crisma, mas praticamente todo o demais sim”.

“Na paróquia, é preciso haver um sacerdote para escutar as confissões, mas as mulheres podem ser responsáveis ​​por uma paróquia, de acordo com o direito canônico. Está permitido”, acrescentou.

O Cânon 517 diz que “se em virtude da falta de sacerdotes, o Bispo diocesano julgar que a participação no exercício da cura pastoral da paróquia deva ser confiada a um diácono ou a outra pessoa que não possua o carácter sacerdotal, ou a uma comunidade de pessoas, constitua um sacerdote que, dotado dos poderes e das faculdades de pároco, oriente o serviço pastoral.”.

O cardeal Pedro Barreto Jimeno, arcebispo de Huancayo, Peru, participou do Sínodo da Amazônia como presidente delegado e na qualidade de vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica (REPAM), organização que teve papel de liderança naquela ocasião.

Durante o Sínodo Amazônico, a REPAM recebeu diversas críticas por alguns eventos como a cerimônia de 4 de outubro nos Jardins do Vaticano com o papa Francisco, os "momentos de espiritualidade amazônica" na igreja de Santa Maria em Traspontina e a "Via-Sacra Amazônica" no dia 19.

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Em maio de 2018, pouco antes de ser criado cardeal, Barreto disse que a abordagem de gênero dignifica homens e mulheres.

Entrevistado pela Ideeleradio, o então bispo Barreto disse: “A Igreja tem alguns princípios e valores irrenunciáveis ​​e fala de uma dignificação do papel da mulher em todos os campos de ação e, nesse sentido, temos que ser conscientes de que não vai ser fácil esta abordagem de gênero, que me parece a mais adequada para dignificar tanto homens como mulheres, cada um no seu próprio papel”.

Ao falar sobre a sua opinião sobre “aqueles que dizem que lutar pela igualdade é ter uma ideologia de gênero e não uma abordagem de gênero”, o arcebispo de Huancayo disse: “Há setores – eu diria não muito grandes – que na sociedade, na economia, na política, e até na Igreja, que têm posições que respondem a interesses de grupo, e quando os interesses de grupo afetam o bem comum, é aí que vêm as distorções”.

A ideologia de gênero é uma corrente condenada em diversas ocasiões pelo papa Francisco que considera que o sexo biológico não é determinante para a pessoa, mas sim que ela pode definir a sua orientação sexual e identidade de acordo com as suas preferências e até contra a sua natureza.

Em maio de 2021, o cardeal jesuíta gerou polêmica por declarações que foram interpretadas como apoio a Pedro Castillo, candidato à Presidência do Peru e acusado de ter ligações com o terrorismo comunista do Sendero Luminoso.

Entrevistado pelo jornalista Nicolás Lúcar na Rádio Exitosa no dia 18 de maio, o cardeal Barreto criticou as mensagens de vídeo feitas pelos jogadores de futebol que integraram a seleção peruana, nas quais rejeitavam o comunismo, incentivavam a manutenção da unidade no país e o voto pela democracia e pela liberdade.

O cardeal disse que embora “cada cidadão tenha a liberdade de expressar sua posição política”, pediu que os jogadores peruanos não expressem publicamente a sua opinião “tendo como emblema a blusa sagrada do Peru”. “Isto me parece ser um uso político que deve ser condenado”, acrescentou.

Mauricio López Oropeza em 2019 era secretário-executivo da REPAM. Em artigo publicado em outubro daquele ano no qual defendia o documento de trabalho do Sínodo da Amazônia – duramente criticado pela “visão distorcida do chamado rosto amazônico”, pela “interculturalidade” e pela promoção da ordenação de homens casados — ele disse que “alguns elementos da doutrina (…) pensados para a Amazônia exigirão mudanças reais à luz de um discernimento sinodal sincero”.

O padre Antonio Spadaro, jesuíta e ex-diretor da revista La Civiltà Cattolica compareceu em 2019 como membro por nomeação pontifícia e participará do Sínodo de a Sinodalidade nessa mesma condição.

O padre italiano, um dos colaboradores mais próximos do papa Francisco, publicou um artigo em 2017 sobre uma aliança “surpreendente” entre católicos conservadores e evangélicos nos EUA em questões como a imigração, sugerindo que estaria em oposição à mensagem de misericórdia do papa Francisco.

No texto escrito em conjunto com o protestante Marcelo Figueroa, que escreve no jornal vaticano L’Osservatore Romano, diz-se: “A erosão da liberdade religiosa é claramente uma grave ameaça dentro de um secularismo generalizado”. Eles acrescentam: "Mas devemos evitar que sua defesa venha nos termos fundamentalistas de uma 'religião em total liberdade', percebida como um desafio virtual direto à secularidade do Estado"

Os autores descrevem então o que chamam de “ecumenismo fundamentalista” que se desenvolve entre fundamentalistas evangélicos e “integristas católicos”, e que se unem “pelo mesmo desejo de influência religiosa na esfera política”. “Ambos, evangélicos e católicos integristas condenam o ecumenismo tradicional e promovem um ecumenismo de conflito que os une no sonho nostálgico de um tipo de Estado teocrático”, acrescentam.

Padre Adelson Araújo dos Santos nascido em Manaus (AM) entrou para a Companhia de Jesus já sendo advogado. É Doutor em Teologia e leciona na Pontifícia Universidade Gregoriana, na Faculdade de Teologia e no Instituto de Espiritualidade. No Sínodo da Amazônia atuou como perito e no Sínodo da Sinodalidade faz parte da comissão de espiritualidade. Participou também na redação do documento de trabalho.

Num artigo publicado em La Civiltà Cattolica em julho de 2020, o padre diz “A espiritualidade indígena dos povos originários da Amazônia tem uma enorme contribuição a dar ao cristianismo, em memória e confirmação do que a nossa espiritualidade ensina sobre o modo como devemos tratar a criação divina, mas também com respeito a uma nova visão ecológica do mundo através do conceito de 'bem viver'."

O padre Agenor Brighenti, brasileiro, expoente da teologia da libertação, que participou em 2019 como presidente do Instituto Pastoral Nacional da Conferência Episcopal do Brasil e Membro da Equipe de Reflexão Teológica do CELAM (Brasil). No Sínodo de outubro próximo fará parte do grupo de especialistas e animadores.

Numa entrevista à Religión Digital em 2019, o padre disse: “Francisco nos anima, nos inspira e nos lança, porque está fazendo a reforma pendente do Concílio, depois de três décadas de involução eclesial ou de noite escura, que durou até a renúncia de Bento XVI”

Irmã María Luisa Berzosa González, uma freira espanhola que vive na Argentina, não só esteve no Sínodo da Amazônia em 2019, mas também no Sínodo da Juventude em 2018.

Em junho de 2019 disse numa entrevista: “Tenho pensado que o celibato, uma condição muito valiosa para o sacerdote e para a Igreja, não pode ser imposto e não deve ser condicionado ao sacerdócio. Acho que deveria ser opcional, como já foi em outros tempos”.

O Cânon 277 do Código de Direito Canônico, que rege a Igreja universal de rito latino, estabelece: “Os clérigos têm obrigação de guardar continência perfeita e perpétua pelo Reino dos céus, e portanto estão obrigados ao celibato, que é um dom peculiar de Deus, graças ao qual os ministros sagrados com o coração indiviso mais facilmente podem aderir a Cristo e mais livremente conseguir dedicar-se ao serviço de Deus e dos homens”.

Na mesma entrevista ao Religión Confidencial, a freira disse que não gostaria de ser ordenada sacerdote, embora tenha comentado que ficou “muito triste” quando acabou no Vaticano a comissão que estuda o diaconato feminino. “Gostaria de pensar que este é um assunto que ainda pode ser debatido”, acrescentou.

A freira colombiana Gloria Franco Echeverri foi presidente da Confederação Latino-Americana de Religiosos (CLAR) em 2019.

“Na dinâmica sinodal da Igreja, a Vida Consagrada feminina tem aspirações louváveis, que não nascem de uma ambição de poder ou de um sentimento de inferioridade, nem de uma busca egoísta de reconhecimento, mas surgem do desejo de viver em fidelidade ao plano de Deus, que olha para seu povo e lhes dá a dignidade de irmãos e irmãs. A aspiração é a participação e a corresponsabilidade nos discernimentos e na tomada de decisões. Que se abram verdadeiros canais para acolher a contribuição feminina”, disse em entrevista à ADN Celam em março deste ano.

O documento final do Sínodo da Amazônia teve aprovação majoritária nos três temas mais polêmicos: a proposta de ordenação de homens casados ​​recebeu 128 votos a favor e 41 contra; a possibilidade de ordenação de diaconisas teve 137 votos a favor e 30 contra; enquanto a criação de um “rito amazônico” teve 140 votos a favor e 29 contra.

Os demais participantes do Sínodo da Amazônia que estarão no Sínodo sobre a Sinodalidade são:

Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado da Santa Sé.

Cardeal Michael Czerny, S.J., prefeito do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral.

Cardeal João Braz De Aviz, prefeito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Cardeal Kevin Joseph Farrell, prefeito do Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida.

Cardeal Kurt Koch, prefeito do Dicastério para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

Cardeal Christoph Schönborn, O.P., arcebispo de Viena, presidente da Conferência Episcopal (Áustria).

Cardeal Óscar Andrés Rodríguez Maradiaga, SDB, arcebispo emérito de Tegucigalpa (Honduras).

 

Cardeal Seán Patrick O'Malley, O.F.M. Cap., arcebispo de Boston (EUA).

Cardeal Fridolin Ambongo Besungu, arcebispo de Kinshasa (República Democrática do Congo).

Cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos.

Dom Salvatore Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização - Seção para os Assuntos Fundamentais da Evangelização no Mundo.

Dom Marco Mellino, secretário do Conselho dos Cardeais.

Dom Paul Richard Gallagher, secretário da Seção para as Relações com os Estados e as Organizações Internacionais (Vaticano).

Dom Héctor Miguel Cabrejos Vidarte, arcebispo de Trujillo (Peru).

Dom José Luis Azuaje Ayala, arcebispo de Maracaibo (Venezuela).

Dom Óscar Vicente Ojea, bispo de San Isidro e presidente da Conferência Episcopal Argentina.

Padre Giacomo Costa, S.J. (Itália), eecretário especial.

Padre Carlos Maria Galli (Argentina).

Padre Ambrósio Ivan Samus.

Padre Justo Ariel Beramendi Orellana.

Padre Giuseppe Bonfrate (Itália).

Irmã Daniela Adriana Cannavina, C.M.R. (Colômbia).

Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação.

Alfonso Salvatore Cauteruccio.

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