12 de dezembro de 2024 Doar
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Milhares de cristãos armênios deixam Nagorno-Karabakh por causa da ofensiva do Azerbaijão

Menina dorme em rua na cidade de Stepanakert em 25 de setembro de 2023. Refugiados étnicos armênios começaram a deixar Nagorno-Karabakh no domingo (24) após o Azerbaijão lançar ofensiva para tomar o controle do território. | HASMIK KHACHATRYAN/AFP via Getty Images

O governo da Armênia disse ontem (25) que milhares de cristãos fugiram de suas casas na região de Nagorno-Karabakh no último fim de semana e que mais refugiados são esperados.

Siobhan Nash-Marshall, advogada de direitos humanos baseada nos EUA que falou com testemunhas na região, disse à CNA, agência em inglês do grupo ACI, que “o êxodo em massa começou”.

Armênia e Azerbaijão, ex-repúblicas da União Soviética reivindicam o encrave de população armênia cristã em território do Azerbaijão. Apoiado pela Turquia, o Azerbaijão, de maioria muçulmana, consolidou seu domínio militar sobre a região na segunda guerra de Nagorno-Karabakh, que terminou em novembro de 2020.

Até a semana passada, os armênios da região reivindicavam soberania do que chamavam de república de Artsakh.

Em 19 de setembro, o Azerbaijão lançou uma ofensiva militar curta, mas intensa que matou mais de 200 armênios de encrave e deixou sem lar 10 mil civis, segundo os armênios de Nagorno-Karabakh.

Em 20 de Setembro a autoproclamada república de Artsakh rendeu-se e extinguiu suas forças armadas e seu governo.

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, disse que os armênios de Nagorno-Karabakh seriam integrados ao país e que os representantes do enclave foram “convidados a dialogar”.

Nash-Marshall fundou a Christians In Need Foundation (CINF, na sigla em inglês) em 2011 para ajudar cristãos armênios da região, e em 2020 ela iniciou uma escola para crianças e adultos em Nagorno-Karabakh.

Agora, Nash-Marshall recebeu a notícia da sua escola em Nagorno-Karabakh de que “tudo acabou” e que “pessoas de todas as regiões, de todas as aldeias, estão sem abrigo, comida e água”.

Segundo Nash-Marshall, centenas de armênios do encrave dormem nas ruas e não conseguem sequer beber água porque afirmam que esta foi “envenenada pelos azerbaijanos”.

Nash-Marshall foi informada de que há filas de “2 mil pessoas em frente à única padaria” perto de sua escola e que “todos estão com fome, assustados e sem esperança”.

Segundo com o governo da Armênia, 6,65 mil “pessoas deslocadas à força” entraram na Armênia vindas de Nagorno-Karabakh desde a semana passada.

Segundo a rede de notícias em árabe Al Jazeera, o primeiro-ministro armênio, Nikol Pashinyan, disse no domingo (24) esperar que a maioria dos 120 mil armênios étnicos de Nagorno-Karabakh fujam da região pelo “perigo de limpeza étnica”.

Começa o êxodo em massa

Eric Hacopian, defensor dos direitos humanos que esteve em Nagorno-Karabakh, disse à CNA que os armênios na região enfrentam condições “horrendas” em que têm “pouca comida” e “nenhum medicamento ou segurança”.

Hacopian chamou as ações do Azerbaijão em Nagorno-Karabakh de “genocídio” e disse que até amanhã espera que o número de refugiados aumente para 15 mil a 20 mil.

Ele acredita que de “95% a 99%” da população armênia na região fugirá devido ao “risco de ser assassinada e torturada”.

Fotos publicadas nas redes sociais mostraram as rodovias que saem da maior cidade da região, Stepanakert, repletas de enormes filas de carros cheios de refugiados.

Muitos dos armênios em Nagorno-Karabakh chamam a região de lar há séculos. Agora, tudo isso parece estar mudando rapidamente.

“Os armênios não podem sobreviver sob o domínio turco ou azeri”, disse ontem (26) Nash-Marshall à CNA, acrescentando que o governo azeri “prospera com a armenofobia”.

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Ela disse que o sentimento antiarmênio profundamente enraizado na cultura azeri é demonstrado pelas execuções militares de prisioneiros de guerra armênios em 2022, bem como pelos memoriais recentemente erguidos na capital azeri, Baku, que retratam “figuras grosseiramente exageradas de soldados armênios moribundos em tamanho real e prisioneiros acorrentados.”

“Qualquer pessoa que conheça a história do genocídio armênio irá reconhecer o padrão das ações do Azerbaijão em relação aos armênios orientais e aos Artsakhtsi”, disse Nash-Marshall.

Segundo Gegham Stepanyan, defensor dos direitos humanos de Artsakh, “milhares” de armênios étnicos deslocados “estão agora à espera de serem evacuados para a Arménia”.

“Muitos deles simplesmente não têm onde ficar, então têm que esperar pela sua vez nas ruas”, disse Stepanyan.

Armênia em perigo

Alguns especialistas acreditam que a própria Armênia corre o risco de ser invadida.

Tanto o presidente do Azerbaijão, Aliyev, como o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, propuseram a construção de uma autoestrada no extremo sul da província armênia de Syunik, que faz fronteira com o Azerbaijão tanto a leste como a oeste.

A estrada ligaria a parte principal do Azerbaijão ao seu enclave ocidental, conhecido como Nakhchivan, bem como à Turquia.

Se for construída, os especialistas temem que o Azerbaijão possa em breve tomar o controle de toda Syunik.

“Sejamos realistas”, disse Nash-Marshall. “O Azerbaijão já conquistou uma parte da região… Eles também estão a disparar contra aldeias fronteiriças e já o fazem há um ano. Qual é, então, a ameaça para a Armênia? Invasão."

Aliyev e Erdogan encontraram-se ontem (25) em Nakhchivan, aumentando ainda mais os receios de que a dupla possa esteja considerando uma aquisição de Syunik.

Em conferência de imprensa ontem (25), Aliyev lamentou que “a ligação terrestre entre a parte principal do Azerbaijão e Nakhchivan” tenha sido “cortada” quando as autoridades soviéticas designaram Syunik para a Arménia em vez do Azerbaijão, segundo uma reportagem da Reuters.

Hacopian também disse acreditar que é “bastante provável” que uma invasão da Armênia crie uma rodovia no que atualmente é o sul da Armênia.

Resposta dos EUA

Samantha Power, administradora-chefe da Agência dos EUA para o Desenvolvimento Internacional (USAID, na sigla em inglês), e a secretária de Estado adjunta, Yuri Kim, desembarcaram ontem (25) na Armênia.

“Estou aqui para reiterar o forte apoio e parceria dos EUA com a Armênia e para falar diretamente com as pessoas afetadas pela crise humanitária em Nagorno-Karabakh”, disse ontem (25) Power em publicação na rede social X.

Muitos ainda sentem que os EUA não estão fazendo o suficiente para resolver a situação que se desenrola em Nagorno-Karabakh.

Chris Smith, deputado republicano de Nova Jersey, apresentou um projeto de lei em 22 de setembro exigindo que o departamento de Estado dos EUA tome ações concretas para garantir os direitos humanos dos cristãos armênios em Nagorno-Karabakh.

Sob o nome de “Lei de Prevenção de Limpeza Étnica e Atrocidades em Nagorno-Karabakh de 2023”, o projeto é co-patrocinado por Brad Sherman, deputado democrata da Califórnia, e por French Hill, deputado republicano do Arkansas.

Se aprovado, o projeto de lei exigiria que o governo dos EUA tomasse várias ações em apoio aos armênios afetados, incluindo o fim da ajuda militar ao Azerbaijão e o estabelecimento de financiamento militar para a Armênia, autorizando assistência humanitária aos armênios em Nagorno-Karabakh e enviando diplomatas para a região para monitorizar a situação e denunciar imediatamente quaisquer novas violações dos direitos humanos.

“O povo de Nagorno-Karabakh está em grave perigo. Tragicamente, eles foram forçados a desarmar e entregar a sua independência a um ditador implacável, cujo governo cometeu repetidamente abusos horríveis contra eles ao longo de muitos anos, expressou a sua vontade de limpá-los etnicamente e até iniciou um genocídio pela fome com o bloqueio do Corredor Lachin”, , disse ontem (25) Smith em um comunicado à imprensa.

Smith prosseguiu dizendo que “devemos trabalhar com eles para garantir que a transição não seja marcada por contínuas atrocidades humanas”.

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