5 de dezembro de 2024 Doar
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O Sínodo não é um “plano de reforma” nem uma batalha ideológica, diz o papa Francisco

Missa de abertura do Sínodo. | Vatican Media.

“Não estamos aqui para realizar uma reunião parlamentar nem um plano de reformas. O Sínodo, amados irmãos e irmãs, não é um parlamento. O protagonista é o Espírito Santo”, disse o papa Francisco na homilia da missa de abertura do Sínodo da Sinodalidade. 

Na manhã de hoje (4), na Praça de São Pedro, ainda coberta de flores e plantas da vigília ecumênica de oração que aconteceu no sábado (30), o papa Francisco se reuniu com os novos cardeais criados no recente consistório para celebrar a missa de início do Sínodo da Sinodalidade.

O Sínodo da Sinodalidade foi convocado em outubro de 2021 sob o lema “Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão”. 365 pessoas estão convocadas para a sessão que acontecerá neste mês de outubro em Roma, entre bispos, religiosos, sacerdotes, diáconos e leigos. Pela primeira vez, os não-bispos – incluindo 54 mulheres – terão o direito de voto.

Depois da chegada dos cardeais, religiosos e muitos leigos de diversas nacionalidades, o papa iniciou a celebração pedindo a intercessão de são Francisco de Assis, cuja festa hoje se celebra.

Dado o início iminente do Sínodo da Sinodalidade, o papa advertiu que não deveria haver espaço para “estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas”.

“Não estamos aqui para parlamentar, mas para caminhar juntos com o olhar de Jesus, que bendiz o Pai e acolhe a quantos estão cansados e oprimidos”, disse.

Refletindo sobre as leituras, Francisco disse que “Jesus não se deixa tomar pela tristeza”, mas antes “consegue vislumbrar o bem escondido que cresce, a semente da Palavra acolhida pelos simples”.

Partindo do “olhar de Jesus” mostrado no Evangelho, o papa Francisco diz que é “um olhar bendizente e acolhedor”.

“Não nos ajuda um olhar imanente, feito de estratégias humanas, cálculos políticos ou batalhas ideológicas: ver se o Sínodo vai permitir isto ou aquilo, abrir esta porta ou aquela… isso não adianta”, disse o papa.

O Senhor “convida-nos também a nós a sermos uma Igreja que, de ânimo feliz, contempla a ação de Deus e discerne o presente; uma Igreja que, no meio das ondas por vezes agitadas do nosso tempo, não desanima, não procura escapatórias ideológicas, não se barrica atrás de convicções adquiridas, não cede a soluções cômodas, nem deixa que seja o mundo a ditar a sua agenda”, disse o papa.

Francisco reiterou que a Igreja não deve enfrentar “os desafios e problemas de hoje com um espírito divisor e conflituoso”, mas, pelo contrário, deve voltar “os olhos para Deus, que é comunhão, e, maravilhado e humilde, O bendiz e adora, reconhecendo-O como seu único Senhor”.

“Somos d’Ele e – nunca o esqueçamos – existimos apenas para O levar ao mundo”, recordou o papa.

“Isto nos basta! Ele nos basta. Não queremos glórias terrenas, não queremos parecer bem aos olhos do mundo, mas fazer-lhe chegar a consolação do Evangelho, para testemunhar melhor, e a todos, o amor infinito de Deus", acrescentou.

Segundo o papa, a principal tarefa do Sínodo é “centrar de novo o nosso olhar em Deus, para sermos uma Igreja que olha, com misericórdia, a humanidade”.

“Uma Igreja unida e fraterna”, continuou, “ou pelo menos procura ser unida e fraterna –, que escuta e dialoga; uma Igreja que abençoa e encoraja, que ajuda quem busca o Senhor, que excita benevolamente os indiferentes, que abre caminhos para iniciar as pessoas na beleza da fé. Uma Igreja que tem Deus no centro e, consequentemente, não se divide internamente e nunca é dura externamente. É assim que Jesus quer a Igreja, assim quer Ele a sua Esposa”.

Para o papa, “aqueles que se consideram sábios não conseguem reconhecer a obra de Deus”. Ele disse que “Jesus exulta de alegria no Pai porque Se revela aos pequeninos, aos simples, aos pobres em espírito”.

Segundo o papa, este olhar de Jesus “convida-nos também a nós a sermos uma Igreja hospitaleira, não com as portas fechadas. Num tempo complexo como o nosso, surgem novos desafios culturais e pastorais que exigem uma atitude interior cordial e gentil para os podermos encarar sem medo”.

“No diálogo sinodal, durante esta estupenda ‘marcha no Espírito Santo’ que realizamos juntos como Povo de Deus, oxalá possamos crescer na unidade e na amizade com o Senhor, para ver com o seu olhar os desafios de hoje”, disse.

Francisco esclareceu que a Igreja não deve ser “rígida – uma alfândega –, que se arma contra o mundo e olha para trás”, nem “uma Igreja tépida, que se rende às modas do mundo”, nem uma “Igreja cansada, fechada em si mesma”.

Francisco recordou que são Francisco de Assis, cujo dia é celebrado hoje, “num tempo de grandes lutas e divisões entre o poder temporal e o religioso, entre a Igreja institucional e as correntes heréticas, entre cristãos e outros crentes, não criticou nem atacou ninguém, mas limitou-se a pegar nas armas do Evangelho, isto é, a humildade e a unidade, a oração e a caridade" e exortou todos a imitarem o seu exemplo.

“E se o povo santo de Deus com os seus pastores, de todas as partes do mundo, nutre anseios, esperanças e até qualquer receio sobre o Sínodo que iniciámos, recordemos mais uma vez de que não se trata duma reunião política, mas duma convocação no Espírito; não se trata dum parlamento polarizado, mas dum lugar de graça e comunhão”, disse.

Francisco disse que “o Espírito Santo rompe as nossas expetativas para criar algo de novo que supera as nossas previsões e as nossas negatividades”.

“Talvez possa dizer que os momentos mais frutuosos no Sínodo são os momentos de oração, e também o ambiente de oração, graças ao qual age em nós o Senhor. Abramo-nos a Ele e invoquemo-Lo: Ele é o protagonista, o Espírito Santo. Deixemos que seja Ele o protagonista do Sínodo! E com Ele caminhemos, com confiança e alegria”, concluiu.

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