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O que a Igreja Católica já disse sobre bênçãos a uniões do mesmo sexo

Cerimônia de bênção na Igreja Católica de Santo Agostinho em Würzburg, Alemanha, para uniões, inclusive homossexuais, em 10 de maio de 2021. | Gehrig/CNA Deutsch.

Comentários do papa Francisco divulgados pela Santa Sé na semana passada sobre a possibilidade de abençoar uniões entre pessoas do mesmo sexo geraram debate entre os líderes da Igreja.

Em resposta a uma dubia, ou pedido formal de esclarecimento, enviada por cinco cardeais sobre a posição da Igreja sobre a bênção das uniões homossexuais, entre outros tópicos, o papa disse que “não devemos perder a caridade pastoral” e que “a prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não transmitam um conceito errôneo de matrimônio”.

O papa rejeitou o conceito de matrimônio homossexual e disse que as dioceses e outras estruturas da Igreja não deveriam estabelecer “procedimentos ou ritos” oficiais para tais bênçãos, mas manteve aberta a possibilidade de algum tipo de bênção sujeita à prudência pastoral de um padre.

A seguir, um cronograma de como essa controvérsia se desenrolou:

Dezembro de 2019: Começa o caminho sinodal alemão

Os bispos alemães iniciaram uma reunião, chamada “caminho sinodal alemão”, destinada a abordar uma série de questões controversas, incluindo a possibilidade de abençoar uniões do mesmo sexo.

Março de 2021: Santa Sé rejeita formalmente a bênção de uniões homossexuais

Em 15 de março de 2021, a Congregação para a Doutrina da Fé rejeitou a noção de que a Igreja poderia abençoar as uniões homossexuais. O cardeal Luis Ladaria Ferrer, então prefeito do dicastério para a Doutrina da Fé, emitiu a declaração em resposta a uma pergunta formal sobre o assunto.

À pergunta “A Igreja tem o poder de dar a bênção às uniões de pessoas do mesmo sexo?”, o dicastério respondeu “negativo”. A nota explicativa anexa incluiu a frase: “O papa Francisco, em audiência concedida ao abaixo-assinado secretário desta congregação, foi informado e deu o seu parecer favorável à publicação do acima mencionado Responsum ad dubium, com a nota explicativa anexa”.

Maio de 2021: Padres alemães abençoam uniões homossexuais

No dia 10 de maio, padres de toda a Alemanha desafiaram a rejeição da Santa Sé de abençoar as uniões homossexuais. Em protesto contra a posição da Santa Sé, os padres fizeram “serviços de bênção para amantes”, abertos a casais homossexuais e heterossexuais. Estas “bênçãos” aconteceram em cerca de 80 cidades, mas não está claro quantos casais homossexuais participaram.

Julho de 2022: Santa Sé critica caminho sinodal alemão

A Santa Sé emitiu uma advertência aos bispos alemães em 21 de julho, afirmando que o caminho sinodal alemão ameaça a unidade da Igreja. O aviso surgiu em um momento em que os bispos estavam considerando uma série de temas controversos, que incluíam a chamada bênção das uniões homossexuais.

“Não seria permitido introduzir novas estruturas ou doutrinas oficiais nas dioceses antes de um acordo ter sido alcançado a nível da Igreja universal, o que constituiria uma violação da comunhão eclesial e uma ameaça à unidade da Igreja”, disse a Santa Sé.

Setembro de 2022: Bispos belgas apoiam formalmente bênçãos

No dia 20 de setembro, os bispos de Flandres, região da Bélgica de língua flamenga, publicaram uma liturgia para a celebração dos homossexuais que estão em um relacionamento.

A liturgia inclui orações, leitura das Escrituras e partes em que o casal pode “expressar diante de Deus como estão comprometidos um com o outro”.

Os bispos também anunciaram que cada diocese vai nomear uma pessoa “para dar atenção explícita à situação das pessoas homossexuais, dos seus pais e famílias na condução da política”. Acrescentaram que o papa Francisco expressou a necessidade deste tipo de acompanhamento na sua exortação apostólica de 2016 sobre a pastoral das famílias, Amoris Laetitia (A Alegria do Amor).

Novembro de 2022: Santa Sé insta bispos alemães a interromper o caminho sinodal

A Santa Sé solicitou que os bispos alemães interrompessem temporariamente o caminho sinodal alemão, o que os bispos acabaram por se recusar a fazer.

Março de 2023: caminho sinodal alemão apoia bênçãos homossexuais

O caminho sinodal alemão aprovou um documento que permite a bênção das uniões homossexuais, intitulado “Cerimônias de bênção para casais que se amam”. A votação foi aprovada por esmagadora maioria, com apenas nove dos 58 bispos se opondo ao documento. Outros 11 se abstiveram de votar. Se os outros 11 tivessem votado contra a proposta, esta não teria conseguido alcançar a necessária maioria de dois terços.

Julho de 2023: Novo chefe de doutrina da Santa Sé sugere possíveis bênçãos

Em 1º de julho, o papa Francisco nomeou o arcebispo argentino (agora cardeal) Víctor Manuel Fernández para chefiar o dicastério para a Doutrina da Fé. Na primeira semana em seu novo cargo, o arcebispo sugeriu que algum tipo de bênção às uniões homossexuais poderia ser considerado.

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Quando questionado se concorda com a rejeição da Santa Sé à “bênção” das uniões homossexuais em 2021, Fernández respondeu: “Agora, se uma bênção for dada de tal forma que não cause essa confusão, terá que ser analisada e confirmada”.

“Como se vê, chega um ponto em que deixamos uma discussão propriamente teológica e passamos para uma questão que é bastante prudencial ou disciplinar”, acrescentou.

10 de julho de 2023: Cinco cardeais submetem dubia ao papa Francisco

Cinco cardeais submeteram um conjunto formal de perguntas, ou dubia, ao papa Francisco para expressar as suas preocupações e procurar esclarecimentos sobre pontos de doutrina e disciplina antes da abertura do Sínodo da Sinodalidade no Vaticano, na no dia 4 de outubro.

Uma das questões diz respeito às bênçãos para pessoas do mesmo sexo. Os cardeais – o alemão Walter Brandmüller, o americano Raymond Burke, o de Hong Kong Zen Ze-Kiun, o mexicano Juan Sandoval Íñiguez e o guineense Robert Sarah – se referiram ao ensinamento da Igreja baseado na revelação divina e nas Escrituras de que “Deus criou o homem em à sua imagem, homem e mulher, ele os criou e os abençoou, para que fecundassem” (Gn 1,27-28), e o ensinamento de são Paulo de que negar a diferença sexual é a consequência da negação do Criador (Rm 1,24-32). Eles perguntaram ao papa se a Igreja pode se desviar de tal ensinamento e aceitar “como um ‘bem possível’ situações objetivamente pecaminosas, como as uniões entre pessoas do mesmo sexo, sem trair a doutrina revelada”.

11 de julho de 2023: papa Francisco responde às dubia

O papa Francisco respondeu às perguntas dos cardeais um dia após o envio das dubia. Quanto às bênçãos para pessoas do mesmo sexo, ele escreveu que a Igreja “evita qualquer rito ou sacramental que possa contradizer” a sua convicção no matrimônio como “uma união exclusiva, estável e indissolúvel entre um homem e uma mulher, naturalmente aberta a gerar filhos”.

No entanto, continuou o papa, “em nosso relacionamento com as pessoas, não devemos perder a caridade pastoral”, explicando que “a prudência pastoral deve discernir adequadamente se existem formas de bênção, solicitadas por uma ou mais pessoas, que não transmitam um conceito errôneo de matrimônio”. Citando a sua exortação apostólica Amoris Laetitia de 2016 , o papa acrescentou que tais bênçãos “não precisam necessariamente se tornar uma norma”.

21 de agosto de 2023: Os cardeais submetem uma dubia revisada

Os mesmos cardeais enviaram uma dubia revisada ao papa Francisco, desta vez solicitando respostas “sim” e “não” às suas perguntas. Posteriormente, disseram que deram este passo porque as respostas do papa “respostas não resolveram as dúvidas que tínhamos levantado, mas, quando muito, aprofundaram-nas”.

2 de outubro de 2023: As dubia e a resposta do papa Francisco são tornadas públicas

Os cardeais divulgaram as suas dubia aos meios de comunicação , juntamente com uma declaração aos fiéis, mas não partilharam publicamente a resposta que receberam do papa Francisco. Logo depois, a Santa Sé divulgou o texto completo das respostas do papa.

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