22 de novembro de 2024 Doar
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“Um sínodo não tem autoridade doutrinária”, “o perigo é que ela seja dada”, diz cardeal signatário das dubia

Cardeal Juan Sandoval Íñiguez. | InterMirifica.net

O cardeal Juan Sandoval Íñiguez, arcebispo emérito de Guadalajara, México, e um dos cinco signatários das recentes dubia (dúvidas, em latim) enviadas ao papa Francisco sobre temas de doutrina e disciplina na Igreja Católica, disse que “um sínodo não tem autoridade doutrinária (...) e o perigo é que ela seja dada”.

Em uma entrevista telefônica à ACI Prensa, agência em espanhol do grupo ACI, na sexta-feira (6), o cardeal de 90 anos disse que “a autoridade doutrinária reside no papa ou no episcopado mundial junto ao papa. Um sínodo tem apenas poderes pastorais, deve zelar pela melhor aplicação do Evangelho aos fiéis na pastoral. Não tem autoridade doutrinária”.

As dubia no Sínodo da Sinodalidade

O arcebispo mexicano assinou as dubia juntamente com os cardeais Robert Sarah, prefeito emérito da então Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos; Joseph Zen Ze-kiun, bispo emérito de Hong Kong; Raymond Leo Burke, prefeito emérito da Assinatura Apostólica, a Suprema Corte da Igreja; e Walter Brandmüller, presidente emérito do Pontifício Comitê para as Ciências Históricas.

As dubia abordam preocupações sobre a reinterpretação da revelação divina, sobre as bênçãos às uniões homossexuais e sobre a sinodalidade ser uma “dimensão constitutiva da Igreja”.

Os cardeais também consultam o papa Francisco sobre a possibilidade de ordenação sacerdotal para mulheres e sobre se o arrependimento poderia não ser necessário para receber a absolvição sacramental na confissão.

As perguntas foram enviadas originalmente ao papa Francisco em 10 de julho e respondidas apenas um dia depois, em 11 de julho. Não satisfeitos com as respostas do papa, que, segundo os cardeais signatários, “não resolveram as dúvidas que tínhamos levantado, mas, quando muito, aprofundaram-nas”, os cardeais reformularam as suas perguntas e enviaram-nas novamente no dia 23 de agosto.

Estas últimas não foram respondidas. Assim, os cinco cardeais decidiram tornar públicas as perguntas no dia 2 de outubro, dois dias antes do início do Sínodo da Sinodalidade.

Por que o cardeal Sandoval assinou as dubia?

O cardeal Sandoval disse à ACI Prensa que as motivações e preocupações que o levaram a assinar as dubia provinham de “algumas expressões imprecisas que podem prestar-se a interpretações errôneas das questões que ali discutimos”.

O cardeal disse que no início da nova fase do sínodo, na qual participam “muitas pessoas daquelas linhas”, queriam “colaborar na preservação da verdade” e que aqueles que foram ao “sínodo com boa vontade tenham uma orientação simples"

Para o cardeal mexicano, as respostas do papa às dubia foram “um pouco evasivas, um pouco vagas”, por isso “foram reformuladas de uma forma mais clara, mais contundente, para que ele pudesse responder sim ou não, e ele não respondeu”. “Então concordamos em publicá-las.”

Insistiu que se dirigiam primeiro “ao papa, de uma forma muito privada” e “concordamos em publicá-las para ajudar a orientar um pouco as pessoas de boa vontade no sínodo. Esse foi o motivo”.

No mesmo dia em que os cardeais divulgaram o seu novo questionário, a Santa Sé publicou a resposta que o papa Francisco lhes enviou em 11 de julho.

A crítica do cardeal Fernández

O cardeal Víctor Manuel Fernández, que assumiu o cargo de prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé em 11 de setembro e foi criado cardeal pelo papa 19 dias depois, criticou os signatários das dubia.

Em declarações ao jornal espanhol ABC no dia 2 de outubro, o cardeal Fernández disse: “O papa já lhes respondeu e agora publicam novas perguntas, como se o papa fosse seu escravo para cumprir tarefas”.

Para o cardeal Sandoval, estas declarações são “uma defesa um pouco ingênua e exagerada”, porque todos os “cardeais são colaboradores do papa, conselheiros do papa”.

Ele disse que pediram os esclarecimentos “pelo bem da verdade e pelo bem da Igreja”, “sem negar que ele é o papa, que tem autoridade na Igreja”.

“Não é que ele seja nosso escravo, de jeito nenhum. Um diálogo com ele é um diálogo sobre verdades importantes da fé e da moral da Igreja”, disse.

O arcebispo emérito de Guadalajara disse que, desde a sua escrita até à sua divulgação pública, os cinco cardeais, “por unanimidade, quiseram avançar com esta questão das dubia”.

Discussões na Igreja Católica “sempre existiram”

Dada a preocupação dos católicos com os debates doutrinários na Igreja, o cardeal Sandoval lembrou que estas discussões existiram “sempre e continuarão até o fim do mundo”.

Para o cardeal, é importante que todo católico “adira com simplicidade à verdade do Evangelho, ao que está escrito nas Sagradas Escrituras e ao que a Igreja sempre ensinou, para não se confundir”.

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“Não somos máquinas chapadas (ndr: feitas) da mesma forma. Somos pessoas de fé, que nos referimos à Revelação, que é um grande mistério, nunca completamente compreensível, abrangente, entendível. Mas há linhas que são sempre muito claras, foram muito claras na fé e na Tradição da Igreja. É a isso que nos referimos”, disse.

A preocupação dos cardeais: um possível desvio doutrinário no sínodo

O cardeal Sandoval disse à ACI Prensa que “a preocupação é que o sínodo se desvie um pouco doutrinariamente. E seria algo muito, muito triste, que ficaria escrito nos anais da Igreja”.

"Não seria a primeira vez. Houve reuniões, sínodos, concílios que estavam meio errados. Houve ao longo da história da Igreja. Estamos no caminho da fé, não da visão, e da inteligência, a nossa compreensão do mistério, é limitada como a nossa cabeça, as nossas capacidades”.

No entanto, disse que “há sempre coisas na fé que devem ser aceitas como Cristo as disse, sem procurar acomodações”, porque “quando se procuram acomodações para as modas, os tempos modernos e os gostos das pessoas, a verdade começa a ser falsificada”.

Diante dos questionamentos sobre o estilo pessoal do cardeal – que costuma receber mais atenção da mídia do que a essência de sua mensagem – o arcebispo emérito de Guadalajara disse que tenta “fazer o que pode para manter a ortodoxia, a fidelidade à fé que transmitimos. Eu faço o que é possível, o que está ao meu alcance e o que devo fazer”.

“E nós, os cardeais das dubia, pensamos: temos a obrigação como cardeais, colaboradores do papa, conselheiros do papa, de aconselhar neste caso”, concluiu.

Quem é o cardeal Juan Sandoval Íñiguez?

Nascido em 28 de março de 1933 na cidade de Yahualica, no estado mexicano de Jalisco, o cardeal de 90 anos foi ordenado padre em 28 de outubro de 1957, incardinado na arquidiocese de Guadalajara. É doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.

O papa João Paulo II o nomeou bispo coadjutor de Ciudad Juárez em 1988. Eleassumiu a diocese em 1992.

Em 1994, o próprio são João Paulo II o nomeou arcebispo de Guadalajara, como sucessor do cardeal Juan Jesús Posadas Ocampo, assassinado em 1993.

Ocupou este cargo durante 17 anos, até que Bento XVI aceitou a sua renúncia por limite de idade em 7 de dezembro de 2011, aos 78 anos. Agora, o cardeal Sandoval vive em Guadalajara.

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