18 de dezembro de 2024 Doar
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Sínodo da Sinodalidade: Questões homossexuais e diaconato feminino são discutidos na terceira semana

O porta-voz do Sínodo da Sinodalidade, Paolo Ruffini, fala à mídia durante uma coletiva de imprensa quarta (18) no Vaticano. | Daniel Ibañez/CNA

Nesta semana que passou, a assembleia do Sínodo da Sinodalidade se aprofundou em dois temas cruciais: o acompanhamento de indivíduos homossexuais e o tema de um diaconato feminino. Além disso, a assembleia discutiu a estrutura da Igreja, tudo com o objetivo de moldar um futuro mais sinodal para a Igreja.

O processo foi impulsionado pelo que o sínodo chama de “escuta ativa e fala com o coração”, que, segundo alguns participantes, tende a ser impulsionado pelas emoções. Isso também levanta uma questão fundamental: alguma vez surgirá algo verdadeiramente definido do processo?

Vários eventos notáveis ​​também aconteceram: o papa Francisco se reuniu com membros do New Ways Ministry , um grupo ministerial LGBT com sede nos EUA que foi anteriormente denunciado tanto pela conferência dos bispos dos EUA como pelo escritório de doutrina da Santa Sé; três teólogos fizeram uma conferência destinada a mostrar apoio para a jornada sinodal; e um serviço especial de oração pelos migrantes presidido pelo papa Francisco foi celebrado na praça de São Pedro.

Questões LGBT

A questão do debate sobre a inclusão homossexual foi minimizada pelo porta-voz da Santa Sé, Paolo Ruffini, que afirmou que “a bênção das uniões homossexuais não é o tema do sínodo”.

No entanto, na terça-feira (17), a irmã Jeannine Gramick, co-fundadora do New Ways Ministry, uma organização LGBT+ que foi anteriormente denunciada tanto pela conferência dos bispos dos EUA como pela Congregação para a Doutrina da Fé por causar confusão sobre a moralidade sexual entre os fiéis católicos, se reuniu com o papa Francisco, juntamente com outros três membros da equipe do New Ways.

A reunião foi divulgada por Vatican Media e foi considerada um endosso à abordagem do New Ways Ministry pelo papa Francisco. Isso aconteceu apesar de uma polêmica em torno do site do sínodo, que foi forçado a remover um vídeo do New Ways Ministry que convidava pessoas LGBT a participarem da assembleia.

Ordenação de mulheres e outros tópicos importantes

Para além das questões homossexuais, o sínodo também se envolveu em discussões relacionadas com o diaconato feminino e até contemplou a possibilidade de as mulheres fazerem homilias, o que já acontece em situações como na Suíça de língua alemã, onde o padre é tratado quase como um mero oficial de consagração. O tema do “sacerdócio feminino” foi até abordado, levantando questões fundamentais sobre o papel das mulheres na Igreja, apesar das garantias dos organizadores do sínodo de que mudanças na doutrina não estavam na agenda. Uma intervenção durante uma sessão matinal foi alegadamente significativa nesta discussão. Ao responder aos apelos para a ordenação de mulheres não apenas ao diaconato, mas em alguns casos também ao sacerdócio, uma participante leiga argumentou que o foco na ordenação de mulheres é uma distração daquilo que as mulheres na Igreja precisam e é uma tentativa de clericalizar os leigos. A intervenção recebeu fortes aplausos.

A semana também viu deliberações sobre o papel das paróquias, padres e bispos. Ruffini enfatizou que o sínodo não é apenas uma “mesa redonda ou um talk show”, mas uma “conversa do Espírito”. No entanto, resta saber quais serão os frutos destes diálogos do Espírito, cuja metodologia é explicada detalhadamente no processo sinodal, mas cujos resultados práticos ainda não foram compreendidos.

Debates teológicos

Fala-se muito sobre evitar a agenda da mídia para o sínodo, e esta é uma preocupação legítima. Mas existe uma agenda teológica no sínodo? O tema é muito debatido, uma vez que as intervenções são tão proscritas que impedem o verdadeiro debate e discussão teológica.

Fora do sínodo, em 14 de outubro, três teólogos convocaram uma conferência intitulada: “Igreja e sínodo são sinônimos: estilos e formas de uma Igreja sinodal”. Entre os oradores do encontro estava o arcebispo Roberto Repole, que recentemente confiou a gestão das paróquias a leigos na sua diocese natal, Turim.

O arcebispo Repole argumentou que o concílio Vaticano II não abraçou totalmente as realidades das igrejas locais. Ele defendeu a sinodalidade para infundir o evangelho na cultura em que as igrejas locais operam, enfatizando a cultura democrática das igrejas locais.

Para o monsenhor Giacomo Canobbio, professor emérito da Faculdade Teológica do Sul e colega apresentador, o sínodo é “uma concretização de uma ideia de Igreja que vem de longe” e “uma resposta aos sinais dos tempos”. Ainda assim, é, acima de tudo, disse ele, um antídoto ao clericalismo, tema que o relator geral do sínodo, cardeal Jean-Claude Hollerich, também destacou durante a discussão do módulo B3.

Finalmente, Simona Segoloni Ruta, professora do Pontifício Instituto Teológico João Paulo II, opinou que “é impossível falar de bispos sem falar do povo de Deus”. Portanto, argumentou ela, o sínodo é necessário porque “não seria possível reunir apenas os bispos se a Igreja quiser se sentir unida”.

No próprio sínodo, os trabalhos começaram na quarta-feira (18) no módulo B3 do Instrumentum Laboris, o documento de trabalho do sínodo, com foco na “questão da autoridade, seu significado e o estilo de seu exercício dentro de uma Igreja sinodal”. Em um discurso à assembleia sinodal na congregação geral, o padre e teólogo italiano Dario Vitali se concentrou na autoridade e nas mudanças concretas na Igreja institucional. O teólogo propôs a necessidade de “reimaginar a Igreja em chave sinodal, para que toda a Igreja e tudo na Igreja – vida, processos, instituições – sejam reinterpretados em termos de sinodalidade”.

Estas discussões introduzem um espectro de perspectivas, mas nem todos os participantes partilham estas opiniões. Circularam rumores de ausências planejadas para evitar debates controversos ou para expressar oposição a certas posições, desafiando a visão do sínodo como uma reunião harmoniosa.

O novo calendário

Os organizadores do sínodo introduziram um calendário totalmente novo para os trabalhos. Mais notavelmente, o projeto do relatório resumido, descrito por Ruffini como "curto e transitório", será agora apresentado aos delegados como um documento unificado, em vez de ser dividido em duas partes. Este ajuste se destina a permitir uma consideração mais substancial do “roteiro” para a próxima fase do processo sinodal que conduz à sessão de conclusão a ser realizada em outubro de 2024.

Além disso, uma carta ao povo de Deus será publicada no final desta sessão sinodal, marcando uma mudança em relação à prática anterior de divulgá-la apenas no final de todo o processo sinodal.

Como resultado, o sínodo fará uma pausa nas suas atividades na tarde da próxima segunda-feira (23) e durante toda a terça-feira (24) para deliberações sobre a carta da assembleia ao povo de Deus, discutida primeiro em círculos menores e depois entre a congregação geral mais ampla.

Surgem questões sobre a metodologia do sínodo

Este novo calendário demonstra a adaptabilidade e a capacidade de resposta dos padres sinodais e que a sinodalidade como método também envolve uma escuta constante. Mas também levanta preocupações sobre se a assembleia sinodal poderá se transformar em um debate contínuo onde nada pode ser considerado definitivo na prática e tudo permanece em discussão.

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Muitos participantes expressaram dúvidas sobre o método, ainda que de forma anônima, devido ao receio de quebrar o pedido de confidencialidade.

Essas dúvidas giram em torno da prática de atribuir novas mesas e subtópicos aos participantes no início de cada novo módulo, bem como do fato de que nesta nova abordagem todos discutem temas específicos em suas mesas, mas seria de esperar que poucos tivessem uma visão global do sínodo.

Acrescente-se que a curta duração de cada interação – limitada a quatro minutos – torna difícil articular pensamentos complexos e, portanto, favorece os apelos emocionais. Pelo menos uma intervenção na congregação geral suscitou suspeitas e há uma preocupação entre os participantes de que os fatos estejam sendo manipulados para efeitos emocionais.

Alguns padres sinodais também reclamaram que a abordagem parece muito “centrada no Ocidente”, pelo menos em questões relacionadas com a sexualidade e o gênero. No entanto, resta saber se o texto sumário irá realmente abranger todas as perspectivas desde que o texto final seja votado, potencialmente deixando de fora nuances importantes e pontos de vista divergentes.

Com isto vem uma inevitável democratização do processo. E junto com a democratização vem a subjetivação, um subproduto do processo de escuta que prioriza a emoção em detrimento da razão. Cada tema deverá constar do texto final, o que significa que não haverá conclusões formais, nem pontos de vista mais verdadeiros que outros.

O método, até agora, parece manter os participantes do sínodo em relativa harmonia. O arcebispo de Rabat, Marrocos, cardeal Cristóbal López Romero, destacou que nas discussões há “divergências, mas nunca confrontos”. No entanto, o arcebispo de Riga, Letônia, dom Zbigņev Stankevičs, foi um dos poucos a se manifestar publicamente. Na coletiva de imprensa diária, ele defendeu o cuidado pastoral da Igreja aos homossexuais, mas traçou uma linha clara ao dizer que as uniões homossexuais não poderiam ser abençoadas porque são pecaminosas.

Por fim, o arcebispo de Vilnius, Lituânia, presidente dos bispos europeus, dom Gintaras Grušas, usou uma homilia durante uma das missas para os participantes, para alertar contra o fato da sinodalidade se tornar um fim em si mesma e enfatizar o papel da sinodalidade no serviço à missão de evangelização da Igreja.

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