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O “método” de escuta do Sínodo da Sinodalidade vem dos jesuítas

Delegados do Sínodo da Sinodalidade se reúnem em mesas redondas de discussão em 21 de outubro de 2023. | Vatican Media

Os delegados do Sínodo da Sinodalidade em Roma este mês estão participando de algo chamado “conversação no Espírito”, um método de discernimento comunitário baseado na oração e na escuta.

“A escuta sinodal tem em vista o discernimento... Escutamo-nos uns aos outros, a nossa tradição de fé e os sinais dos tempos, de modo a discernir o que Deus está a dizer a todos nós”, diz um manual oficial para a primeira fase diocesana do processo sinodal de anos, que começou em 2021 e terminará em outubro de 2024.

O Instrumentum Laboris, ou documento de trabalho, para a primeira sessão da assembleia realizada este mês diz: “Na sua realidade concreta, o diálogo no Espírito pode ser descrito como uma oração partilhada em vista do discernimento comunitário, para o qual os participantes se preparam por meio de reflexão e meditação pessoal”.

O que é escuta sinodal? De onde veio? É um método eficaz de discernimento?

O padre Anthony Lusvardi, jesuíta e professor de teologia sacramental na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, disse à CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence ACI Digital, que o discernimento comunitário foi desenvolvido pela primeira vez há várias décadas pelos jesuítas no Canadá, razão pela qual ele o chama de “modelo canadense”.

Ele esclareceu que embora tenha sido iniciado por pessoas formadas na espiritualidade inaciana, não remonta a santo Inácio de Loyola, o fundador da ordem jesuíta que desenvolveu o discernimento dos espíritos.

Lusvardi que disse estar familiarizado com o método de discernimento comunitário desde que entrou no noviciado da Companhia de Jesus. Para ele, é um método “útil em algumas situações, nem tanto em outras”.

Discernimento comunitário

A ideia do discernimento comunitário, disse Lusvardi, é que “em vez de apenas iniciar a discussão de um assunto, como pode acontecer em qualquer reunião de negócios, os participantes reservem um tempo para orar individualmente em silêncio. Depois voltarão a ficar juntos e cada um partilhará o fruto da sua oração, enquanto todos os outros ouvirão sem interrupção”.

“Depois de todos terem tido a oportunidade de falar, pode haver uma segunda rodada de partilha, onde as pessoas descrevem as suas próprias reações ao que os outros partilharam”, disse. “Esta não é uma discussão de questões – portanto não é um momento para expor divergências – mas uma partilha dos próprios movimentos interiores. A ênfase está na compreensão mútua antes de buscar uma ‘solução’ para os problemas.”

A escuta durante o Sínodo da Sinodalidade nos pequenos grupos de discussão, ou “circoli minores”, envolve três rodadas.

Segundo o padre Ivan Montelongo, da diocese de El Paso, Texas, e delegado da assembleia sinodal de 4 a 29 de outubro, “todos podem participar [com este método]. Há um facilitador que garante que todos compartilhem e que ninguém fique para trás.”

Na primeira rodada, cada pessoa fala sobre a sua “própria experiência, a sua própria perspectiva”, disse à CNA. Na segunda rodada, os membros sinodais falam novamente com base no que ressoou com eles a partir do que outros disseram na primeira vez. E durante a terceira rodada, o grupo explora “convergências, divergências, questões a serem exploradas, talvez ações a serem tomadas”.

Este processo envolve também momentos de silêncio para oração pessoal e reflexão sobre o que foi ouvido.

Vantagens de ouvir

“Uma das características distintivas do método [de discernimento comunitário] é a ênfase que coloca na escuta”, disse Lusvardi.

Como todos têm a oportunidade de falar e de serem ouvidos – algo que pode ser incomum num mundo muito barulhento – o efeito pode “quase ser terapêutico”, disse o padre.

“Como as pessoas estão compartilhando o fruto de suas orações, a conversa geralmente é mais paciente, aberta e respeitosa”, acrescentou. “Você conhece as outras pessoas e suas vidas de fé de uma forma mais profunda do que na maioria das reuniões. A ênfase está na compreensão antes da avaliação”.

Ele disse que o método pode ser muito útil para estabelecer um bom tom entre os participantes de uma reunião. E num ambiente paroquial ou diocesano, dedicar tempo à oração sobre um assunto antes de partilhar os frutos dessa oração – “antes de mergulhar nos detalhes mais concretos” – também pode ser útil, disse.

Limites do método

O jesuíta disse que também vê algumas desvantagens no método. Embora seja ótimo para ajudar as pessoas a se entenderem melhor, “não é adequado para um raciocínio teológico ou prático cuidadoso ou complexo”.

“Fazer isso exige um pensamento crítico, que pondere os prós e os contras do que as pessoas dizem. Também requer um grau de objetividade que este método não é adequado para fornecer”, disse. “A sã teologia precisa sempre fazer a pergunta: 'Isso pode parecer bom, mas é verdade?'”.

O método de discernimento comunitário enfatiza a compreensão mútua, por isso pode ser mais difícil colocar a questão sobre se o que alguém diz é verdade, argumentou Lusvardi.

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“Às vezes as pessoas têm ideias prejudiciais; embora possa ser útil ouvi-los, em algum momento é irresponsável e pouco caridoso não corrigir o dano. Descobri que o processo nem sempre é adequado para isso na prática”.

E o método não pode substituir a evidência empírica, a revelação ou o ensinamento da Igreja, acrescentou, lembrando que santo Inácio foi “muito claro que nem todas as coisas são objeto adequado de discernimento”.

“Se algo é pecado, você não discerne se deve fazê-lo ou não”, disse Lusvardi. “Se você assumiu um compromisso, você não discerne se deve ser fiel a ele ou não. Você só discerne entre coisas que são boas”.

“Se tudo o que lhe ocorre em oração contradiz o que foi revelado por Jesus Cristo, então não é obra do Espírito Santo”, disse.

O jesuíta disse que santo Inácio também sabia que o espírito maligno pode se disfarçar de anjo de luz e que as regras do santo para o discernimento dos espíritos “destinam-se a ajudar-nos a evitar sermos enganados”.

Ele advertiu que “porque o método produz uma experiência positiva de partilha de fé, às vezes pode levar a tomadas de decisão ingênuas. Só porque algo nos ocorre em oração não significa que seja a vontade de Deus. Precisa ser testado pela verdade objetiva e pelo raciocínio, e às vezes precisamos ser autocríticos”.

O sacerdote também disse que santo Inácio “não previu o discernimento comunitário como uma característica do governo da ordem jesuíta, que é estruturada hierarquicamente”.

“Portanto, este método pode ser usado como uma forma de ajudar um superior a compreender os homens que ele lidera e a trazer à tona alguns dos sentimentos e preocupações que cercam as questões em discussão, mas ainda é o superior quem toma a decisão”, disse o sacerdote.

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