20 de dezembro de 2024 Doar
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Comunidade das Beatitudes cria comissão para estudar casos de abusos passados

A Comunidade das Beatitudes, fundada em 1973. | Comunidade das Beatitudes

No domingo (5) terminou a Assembleia Geral de 2023 da Comunidade das Beatitudes. No final da reunião, os delegados decidiram que é necessário aprofundar os “efeitos dos abusos e excessos” cometidos por figuras relevantes da comunidade, incluindo o seu fundador, Ephraim Croissant.

A Assembleia Geral de 2023 aconteceu em Nouan-le-Fuzelier, França, reunindo 71 delegados de todo o mundo. O evento se centrou na necessidade de reler a história da comunidade.

A comunidade disse que será criada uma comissão multidisciplinar independente “para lançar luzes e sombras sobre a história da comunidade”.

A organização disse que se coloca à disposição do senhor Tangi Cavalin, encarregado pelos bispos franceses de investigar os abusos e excessos cometidos pelo fundador da comunidade, Ephraim Croissant, e outros membros.

Segundo os estatutos da comunidade, o novo governo deveria ser eleito durante a Assembleia Geral de 2023, mas o recém-nomeado arcebispo de Toulouse, dom Guy de Kerimel, responsável pastoral da organização, decidiu adiar a eleição até 2024 “para conhecer melhor a comunidade antes de apresentar a sua proposta”.

Abusos na Comunidade das Beatitudes

A instituição tem sido alvo de muitas críticas e denúncias ao longo da última década, depois de ter admitido em 2011 – “profundamente envergonhada” – que Ephraim Croissant tinha cometido “crimes contra a moral da Igreja”, que envolveram várias irmãs que viviam na comunidade.

No comunicado publicado na época, a comunidade dizia que “o seu prestígio de fundador carismático, unido à sedução das suas palavras, conduziu a maior parte de suas vítimas a deixar que abusasse delas”.

Croissant, ordenado diácono permanente em 1978, reconheceu que aproveitou a sua posição de poder e prestígio espiritual para “cometer graves ofensas ao seu estado de vida” (adultério) com as irmãs da comunidade.

Houve até relatos de casos que o envolviam com menores de idade.

Em 2008, foi expulso da comunidade. Ele também foi expulso do estado clerical e obrigado a viver uma vida de silêncio e penitência.

Dois outros casos de grande exposição midiática vieram à tona quase ao mesmo tempo que o caso de Croissant: o de Philippe Madre, cunhado de Croissant e diácono permanente; e o de Pierre-Etienne Albert, responsável pela música na comunidade.

Philippe Madre sucedeu a Croissant na liderança da comunidade em 1996, mas foi considerado culpado de abuso contra menores numa decisão de primeira instância da justiça eclesiástica em Toulouse, França, em 2010 e foi expulso da comunidade. Nem Madre nem Croissant enfrentaram julgamentos civis pelos crimes que cometeram, uma vez que no momento da sua divulgação já tinham prescrito segundo a lei francesa.

O caso de Pierre-Etienne Albert é o único que teve consequências jurídicas. O ex-responsável de música foi acusado de pedofilia em 2003 e em 2008 admitiu o crime. Ele foi condenado a cinco anos de prisão em 2011 por agredir sexualmente 38 crianças.

Ele também é acusado de abusar sexualmente de mais de 50 crianças, com idades entre 5 e 14 anos, entre 1985 e 2000.

Em janeiro deste ano, uma reportagem do jornal francês La Croix noticiou outros supostos abusos cometidos por membros da Comunidade das Beatitudes. A organização respondeu com um comunicado manifestando solidariedade e proximidade para com as vítimas e dizendo que estão “trabalhando com determinação para esclarecer as questões levantadas o mais rápido possível”.

O que é a Comunidade das Beatitudes?

A Comunidade das Beatitudes foi fundada em 1973 por Croissant e sua esposa Jo junto com outro casal, na esteira do Concílio Vaticano II e do Movimento de Renovação Carismática.

Em 2007, a Santa Sé interveio na organização devido a denúncias sobre problemas na sua governança interna e, em 2010, foi nomeado um comissário pontifício para supervisionar uma reforma dos seus estatutos.

Em 2020, foi instituída como “família eclesial de vida consagrada” de direito diocesano, pela então Congregação – hoje Dicastério – para os Institutos de Vida Consagrada e Sociedades de Vida Apostólica da Santa Sé.

Em 2019, a comunidade contava com 760 membros em 27 países dos cinco continentes, e contava com mais de 300 membros leigos, 271 irmãs e 177 irmãos, 97 dos quais são padres.

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