Nov 14, 2023 / 11:34 am
O arcebispo de Denver, EUA, dom Samuel Aquila, disse que a aceitação cultural e a legalização das drogas, como a maconha, tenham sido “devastadoras” para a sociedade.
Em uma carta pastoral publicada em inglês e espanhol no dia 10 de novembro no site da arquidiocese, dom Áquila diz que os últimos estudos sobre o tema “deixam claro que a aceitação cultural e a legalização das drogas têm sido devastadoras para a nossa sociedade”. “Embora o uso de drogas possa oferecer alívio temporário e evasão, certamente não é uma solução para os nossos problemas, e os custos superam em muito os benefícios”, diz o arcebispo.
Na carta, dom Áquila enfatiza que, seja qual for a maneira como se analise a questão, "chegaremos à conclusão de que a decisão de permitir, aceitar e abraçar o uso de drogas provou ser prejudicial de inúmeras maneiras. Isso é comprovado pelo declínio das cidades que legalizaram e promoveram o uso de drogas e pelo número de mortes por overdose de drogas a cada ano”.
A maconha medicinal é lícita?
Sobre esse tema, o arcebispo de Denver diz que "na medida em que a maconha medicinal é realmente eficaz, ela deve ser tratada como qualquer outro medicamento. Isso significa, antes de tudo, que deve haver limites para a quantidade consumida diariamente".
"Até mesmo analgésicos leves, como o paracetamol, limitam o número de comprimidos a serem tomados em vinte e quatro horas. Igualmente, qualquer médico que recomende maconha medicinal deve estabelecer um limite de dosagem diária. A auto dosagem abre a porta para o abuso e o vício".
"A maconha medicinal deve ser consumida como medicamento; não deve ser fumada ou transformada em comestíveis”, escreve o arcebispo. “O consumo de maconha medicinal para fins recreativos comuns distorce a compreensão da droga como medicamento (bem como a dosagem)".
"Em terceiro lugar, é preciso examinar a própria intenção. Seria moralmente ilícito usar a maconha medicinal como uma máscara para uso recreativo. Também não deve ser usada como uma fuga de quaisquer questões existenciais", acrescenta. "Como qualquer outro medicamento, a maconha medicinal deve ser usada com a intenção de tentar restaurar a saúde do organismo".
Quanto ao consumo esporádico ou pouco frequente de maconha, Áquila diz que “não há prazer, alegria ou conexão experimentada durante uma estimulação causada por drogas que também não possa ser experimentada sem drogas”.
"Se só experimentamos esses bens em raras ocasiões quando estamos sóbrios, é melhor recorrermos a Jesus para curar o que quer que os esteja impedindo em nossas vidas. Jesus nos promete vida abundante e quer desesperadamente que a experimentemos! Que nunca nos contentemos com menos”.
Criados para o amor
Na introdução, o arcebispo diz que o Estado do Colorado, onde fica Denver, foi o primeiro Estados dos EUA a legalizar a venda e o uso da maconha, 2014.
Dom Áquila narra então o encontro com um indigente na Espanha, que lhe mostrou as feridas nos braços provocadas pelo consumo de drogas, algo que “partiu o seu coração” e alertou que “o vício, a doença mental e a falta de abrigo são comummente vividos juntos”.
Na primeira parte do texto intitulada “Como julgamos as drogas?”, Áquila diz: “Somos pessoas criadas para a comunhão amorosa, agora podemos julgar que as drogas são apenas um bem aparente. São ruins para nós, pois prejudicam nossa capacidade de conhecer e de amar”.
As drogas em princípio
Na segunda parte, “As drogas em princípio”, Áquila recorda o que diz o Catecismo da Igreja Católica no número 2.291: “O uso de drogas causa gravíssimos danos à saúde e à vida humana. A não ser por prescrições estritamente terapêuticas, o seu uso é uma falta grave”, o que se confirma na vida dos 18,4 milhões de americanos viciados em drogas.
“Os defensores das drogas fazem uma distinção entre drogas ‘pesadas’ e ‘leves’, alegando que as últimas são aceitáveis porque os riscos de danos corporais são mínimos. Em primeiro lugar, esta categorização é subjetiva, pois a nível farmacológico não existe”, continua.
“A verdade é que mesmo as drogas ‘leves’ atacam a pessoa humana, afetando-a negativamente a nível físico, intelectual, psicológico, social e moral. Por exemplo, a maconha causa déficits no funcionamento executivo do cérebro ao inibir temporariamente a coordenação, a concentração e a memória de trabalho”.
A droga, adverte ele, “diminui a capacidade do homem de tomar decisões livres porque impede o intelecto e embota o julgamento, ao mesmo tempo que enfraquece a vontade e mina a energia moral”.
Dom Áquila diz também que, sendo o ser humano chamado à grandeza, o uso de drogas é “especialmente impróprio para os cristãos, que são chamados a refletir Cristo diante do mundo. Devemos viver de forma diferente porque Jesus nos mudou!”
As drogas na prática
Na terceira parte, o arcebispo de Denver recorda que “o uso de drogas é muito mais provável quando a pessoa vive sem propósito e não acredita que a vida tenha sentido”.
As situações individuais, acrescenta, “são agravadas numa sociedade que também carece de valores fundamentais. A falta de sentido da vida parece validada em qualquer cultura em que a violência, a injustiça, a opressão e a corrupção sejam comuns.
"As drogas são uma resposta perigosa à falta de propósito e de amor, pois proporcionam gratificação instantânea sem abordar os problemas subjacentes. Elas criam um tipo de intoxicação emocional que, por um breve período, faz a vida parecer mais agradável, mas é uma mera simulação de prazer sem base no mundo real. Quando os efeitos passam, as realidades que levaram os usuários às drogas permanecem inalteradas", diz ele.
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Depois de dizer que os usuários de maconha também veem uma perda de “até oito pontos de QI” e que em 2019 os suicídios relacionados a esse uso chegaram a 236 no estado do Colorado, o arcebispo de Denver disse que “um estudo acompanhado pelo Hospital Universitário do Colorado UCHealth descobriu que as visitas às urgências relacionadas à maconha triplicaram após o início das vendas de maconha recreativa em janeiro de 2014”.
Dom Áquila responde então a um dos argumentos típicos de quem defende a legalização da maconha: que isso prejudica o mercado ilegal de drogas.
“Embora isto pareça intuitivamente correto, na prática não funciona assim. Tanto o Colorado quanto a Califórnia experimentaram um crescimento massivo no mercado clandestino de maconha desde a legalização.”
Áquila denuncia também a crise provocada pelo “fentanil, que é de 50 a 100 vezes mais potente que a morfina” e que é, segundo Anne Milgram, administradora da DEA, “a ameaça de drogas mais mortal que a nossa nação já enfrentou”.
O arcebispo de Denver relata que “os números respaldam uma afirmação ousada: os opioides sintéticos, mas principalmente o fentanil, foram a principal causa do aumento de seis vezes nas overdoses fatais de 2015 a 2020”.
A resposta cristã
Nesta parte, dom Áquila diz que “a coisa mais importante que podemos fazer como cristãos em resposta à cultura das drogas é proclamar o Evangelho”.
Ele também diz que “a educação sobre o impacto do abuso e da dependência de substâncias é essencial nestes tempos e há recursos abundantes disponíveis”.
A quinta parte é composta por uma série de perguntas e respostas frequentes, que dizem, por exemplo, que a Igreja Católica nada tem contra o prazer, mas especifica que este não pode tornar-se um fim em si mesmo.
“O prazer é bom, mas desde que ordenado entre outros bens. Podemos apreciar o prazer corporal experimentado ao beber álcool, por exemplo. Mas se esta se tornar a principal razão para beber, em vez de um efeito colateral agradável, a bebida pode rapidamente tornar-se um vício, pois o prazer se torna mais importante do que a temperança”.
Na conclusão, dom Áquila eleva a sua oração por aqueles que usam drogas para fugir da realidade e pede a “nosso Senhor Jesus Cristo que tenha misericórdia deles, que afaste os seus corações daquilo que está abaixo deles, para aquilo que só Ele pode oferecer: o amor verdadeiro, alegria, paz e felicidade.”
A carta intitulada “Para que tenham vida” é composta por uma introdução, cinco partes e uma conclusão; e pode ser baixada como folheto em formato PDF neste link.
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