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Papa Francisco teria cortado salário e moradia do cardeal Burke, diz AP

Cardeal Raymond Burke no estúdio da EWTN em Roma durante a canonização do papa são João Paulo II e do papa são João XXIII em 27 de abril de 2014. | Steven Driscoll/CNA

O papa Francisco tirou os privilégios salariais e de moradia no Vaticano do prefeito emérito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, cardeal Raymond Burke, um de seus principais críticos nos EUA, segundo a agência de notícias americana Associated Press (AP).

A Associated Press, que diz se basear em duas fontes anônimas bem informadas sobre as medidas, o papa discutiu as ações planejadas contra o cardeal americano numa reunião de chefes de gabinete da Santa Sé, em 20 de novembro.

O papa teria dito que Burke era uma fonte de “desunião” na Igreja e que estava usando os privilégios concedidos aos cardeais reformados contra a Igreja.

O blog de notícias católico italiano La Nuova Bussola Quotidiana relatou ontem (27) antes de todos as ações contra Burke.

“O cardeal Burke é meu inimigo, por isso tiro-lhe o apartamento e o salário”, teria dito o papa na reunião de 20 de novembro, segundo uma fonte não revelada do blog na Santa Sé.

A CNA, agência em inglês do grupo EWTN, ao qual pertence ACI Digital, não conseguiu entrar em contato imediatamente com Burke para confirmar as medidas contra ele. O escritório de comunicações da Santa Sé não respondeu ao pedido de comentários da EWTN até o momento da publicação.

A Associated Press informou que o porta-voz da Santa Sé, Matteo Bruni, disse que perguntas deveriam ser feitas a Burke. “Não tenho nada específico a dizer sobre isso”, disse Bruni aos repórteres.

Burke foi ordenado sacerdote pelo papa são Paulo VI em Roma em 1975 e foi bispo de La Crosse, Wisconsin, de 1995 a 2004 e arcebispo de St. Louis, Missouri, de 2004 a 2008. Especialista em direito canônico, Burke foi indicado em 2008 prefeito do Supremo Tribunal da Assinatura Apostólica, a mais alta instância judicial da Igreja, pelo papa Bento XVI. Dois anos depois, Bento XVI o elevou a cardeal.

O papa Francisco destituiu-o do cargo de prefeito em 2014 e o nomeou cardeal patrono da Soberana Ordem Militar de Malta, uma função basicamente cerimonial. Ele manteve o título até este ano, mas foi impedido de participar de atividades da ordem em 2016. Em junho, o papa Francisco indicou o reitor emérito da Pontifícia Universidade Gregoriana, o cardeal Gianfranco Ghirlanda, jesuíta, como substituto oficial de Burke. No momento do anúncio, Burke estava a apenas alguns dias da idade habitual de aposentadoria dos bispos, de 75 anos.

Burke se destacou como crítico de algumas iniciativas do Papa Francisco.

Ele foi um dos cinco cardeais que enviaram as dubia ao papa Francisco pedindo esclarecimentos sobre a posição da Igreja quanto à evolução da doutrina, a bênção de uniões homossexuais, a autoridade do Sínodo da Sinodalidade, a ordenação de mulheres e a absolvição sacramental.

O documento foi tornado público na véspera da abertura do Sínodo da Sinodalidade no Vaticano e discutido numa entrevista coletiva em 2 de outubro, da qual Burke participou e expressou as suas preocupações sobre o sínodo.

“Infelizmente, é muito claro que a invocação do Espírito Santo por alguns tem como propósito o avanço de uma agenda que é mais política e humana do que eclesial e divina”, disse Burke.

Burke não seria o primeiro ex-membro da cúria a ser convidado este ano a deixar sua moradia no Vaticano.

O papa Francisco ordenou ao arcebispo de Urbisaglia, Georg Gänswein, que deixasse o Vaticano e retornasse à Alemanha. Gänswein, secretário de longa data do papa Bento XVI, serviu como prefeito da Casa Pontifícia de Bento XVI e de seu sucessor, o papa Francisco, até fevereiro de 2020.

Segundo reportagem da mídia alemã, o papa Francisco, ao comentar sobre a decisão, “referiu-se ao costume de que os ex-secretários particulares dos papas falecidos não permanecessem em Roma”.

Assim como Burke, Gänswein, 66 anos, está sem funções na Igreja.

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