21 de novembro de 2024 Doar
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Evangelizar não é gritar o nome de Jesus de uma varanda, mas sair às ruas, diz papa Francisco

Imagem de arquivo do papa Francisco durante Audiência Geral. | Vatican Media.

Na Audiência Geral de hoje (29), o papa Francisco falou da importância de evangelizar "habitando a cultura do próprio tempo " e disse que "não basta reafirmar convicções religiosas adquiridas que, embora verdadeiras, se tornam abstratas com o passar do tempo".

Por causa do frio em Roma, a Audiência Geral de hoje aconteceu na Sala Paulo VI do Vaticano.

Francisco chegou a este encontro semanal com os peregrinos em Roma caminhando e apoiado na sua bengala. Por causa de uma infecção nos pulmões que o impede de respirar bem, o papa não leu a catequese que foi lida por monsenhor Filippo Ciampanelli, membro da Secretaria de Estado da Santa Sé.

Ao apresentar monsenhor Ciampanelli depois de dar a bênção aos fiéis presentes e com a respiração visivelmente agitada, o papa disse que ainda não está bem da gripe e que sua voz o impede de ler o texto.

No final da tarde de ontem (28), o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni, informou que a viagem do papa Francisco a Dubai foi cancelada por recomendação médica.

Evangelização orientada para a atualidade

Continuando com o ciclo de catequese sobre evangelização e zelo apostólico, o papa Francisco falou que a evangelização é “para hoje” e deve ser orientada para os tempos atuais em que vivemos.

Ele disse que, hoje, “com as guerras, as mudanças climáticas, a injustiça planetária e as migrações, as crises da família e da esperança, não faltam motivos de preocupação”.

Francisco lamentou que “esta cultura do progresso técnico-individual leva à afirmação de uma liberdade que não quer dar limites a si própria e é indiferente aos que ficam para trás”.

“E assim entrega as grandes aspirações humanas à lógica muitas vezes voraz da economia, com uma visão da vida que descarta os que não produzem e se esforça por olhar para além do imanente”.

Segundo o papa, “nos encontramos na primeira civilização da história que procura organizar globalmente uma sociedade humana sem a presença de Deus, concentrando-se nas grandes cidades que permanecem horizontais, mesmo com arranha-céus vertiginosos”.

Francisco comparou o momento histórico que vivemos com a passagem que conta a história da Torre de Babel e disse que aqueles homens, como muitos hoje, queriam colocar-se “no lugar de Deus”.

Ele disse que isso são “ambições perigosas, alienantes, destrutivas, e o Senhor, confundindo estas expetativas, protege a humanidade, impedindo uma catástrofe anunciada”.

Para Francisco, esta passagem é “realmente atual”, pois também hoje “a coesão, em vez da fraternidade e da paz, assenta muitas vezes na ambição, no nacionalismo, na homologação e nas estruturas técnico-econômicas que inculcam a persuasão de que Deus é insignificante e inútil".

Francisco disse que isso não acontece “porque se procura mais conhecimento, mas sobretudo porque se quer mais poder”. Esta é, segundo o papa, “uma tentação que permeia os grandes desafios da cultura atual”.

Por isso, disse que “Jesus só se pode anunciar habitando a cultura do próprio tempo”.

Convicções religiosas que se tornam abstratas com o passar do tempo”

“Não é necessário contrastar o hoje com visões alternativas do passado. Também não basta reafirmar convicções religiosas adquiridas que, embora verdadeiras, se tornam abstratas com o passar do tempo. Uma verdade não se torna mais credível porque se eleva a voz ao dizê-la, mas porque é testemunhada com a vida”, disse.

Para o papa, “o zelo apostólico nunca é a mera repetição de um estilo adquirido, mas o testemunho de que o Evangelho está vivo para nós hoje”.

“Conscientes disto – continuou - olhemos, pois, para a nossa época e para a nossa cultura como dom. São nossas, e evangelizá-las não significa julgá-las de longe, nem sequer estar na varanda a gritar o nome de Jesus, mas sair para as ruas, ir aos lugares onde as pessoas vivem, frequentar os espaços onde as pessoas sofrem, trabalham, estudam e refletem, habitar as encruzilhadas onde os seres humanos partilham o que faz sentido para a sua vida”.

Segundo Francisco, “as nossas próprias formulações de fé são o resultado de um diálogo e de um encontro entre culturas, comunidades e instâncias diferentes. Não devemos ter medo do diálogo”.

O papa disse que “é necessário estar nas encruzilhadas do hoje” e que “abandoná-las empobreceria o Evangelho e reduziria a Igreja a uma seita”.

“Frequentá-las, pelo contrário, ajuda-nos, a nós cristãos, a compreender de forma renovada as razões da nossa esperança, a extrair e a partilhar do tesouro da fé ‘coisas novas e coisas velhas’ (Mt 13, 52). Em suma, mais do que querer converter o mundo de hoje, é preciso converter a pastoral para que ela encarne melhor o Evangelho no hoje”.

Nesta linha, convidou-nos a “fazer nosso o desejo de Jesus: ajudar os companheiros de viagem a não perder o desejo de Deus, a abrir-lhe o coração e a encontrar o Único que, hoje e sempre, dá a paz e a alegria ao homem”.

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“Que a trégua em Gaza continue”

No final da catequese, Francisco falou da “grave situação em Israel e na Palestina” e reiterou o seu apelo à paz.

Ele pediu “que a trégua em Gaza continue, que todos os reféns sejam libertados e que o acesso à ajuda seja permitido”.

O papa disse que conversou com as pessoas que estão na paróquia de lá e “falta água, falta pão. As pessoas sofrem... As pessoas simples, as pessoas do povo sofrem, não sofrem aqueles que fazem a guerra. Peçamos a paz”.

Ele também pediu para não esquecer o “querido povo ucraniano que tanto sofre”. “A guerra”, continuou ele, “é sempre uma derrota, todos perdem. Todos, não. Há um grupo que ganha muito: os fabricantes de armas. Esses ganham bem, com a morte dos outros”, concluiu.

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