5 de dezembro de 2024 Doar
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Fiéis do Marajó dizem só aderir a novo bispo se bispo emérito não for obrigado a se mudar

Manifestação de fiéis contra saída de dom Azcona do Marajó | Reprodução - Instagram Instituto Dom Azcona

Fiéis da prelazia de Marajó (PA) disseram em carta aberta que “a posse do novo bispo”, dom José Ionilton, “com participação e adesão popular pode estar seriamente comprometida”. Segundo eles, “a revogação da proibição da permanência” do bispo emérito dom José Azcona “em solo marajoara é condição sine qua non para que” o “povo marajoara e todos que o respeitam” possam “superar esse trauma inicial e proporcionar ao novo bispo um sentimento de acolhimento e adesão coletiva”.

Em comunicado divulgado no sábado (9), assinado pelo administrador, o padre Kazimierz Antoni Skorki, a prelazia do Marajó informou que o núncio apostólico no Brasil, dom Giambattista Diquattro, ligou para dom Azcona informando que ele não poderia mais morar no território da prelazia, sem dizer quais seriam os motivos para essa decisão.

Segundo o jornal O Liberal, do Pará, dom Azcona deve deixar Marajó até janeiro, quando toma posse o novo bispo, dom José Ionilton Lisboa, nomeado pelo papa Francisco em 3 de novembro.

Desde o anúncio feito pela prelazia, fiéis fizeram diversas manifestações nas redes sociais e em diferentes locais da prelazia pedindo a permanência do bispo emérito.

Centenas de marajoaras assinaram uma “Carta de repúdio à saída do bispo emérito da prelazia do Marajó, dom José Luís Azcona Hermoso”. A carta é destinada “aos presbíteros da Prelazia do Marajó”. É datada de 10 de dezembro e foi divulgada ontem (13) pela imprensa local.

Os signatários dizem que, “enquanto Igreja no Marajó”, foram “surpreendidos pela avassaladora notícia” de que dom Azcona “estaria sendo intimado a se afastar de nossa terra, de nossa gente, de nossas lutas por salvação e por melhores condições de vida”. Ressaltam que está “sendo atribuído” ao bispo emérito “a inexplicável e absurda condição de ser penalizado, sem julgamento ou análise prévia a uma condição de ostracismo”.

“Estão deliberando, através de uma desrespeitosa ligação telefônica, sobre a vida de dom Azcona a proibição de não permanecer na terra que abraçou e que, como poucos, tanto ama”.

Os fiéis questionam “que grade delito teria cometido dom Azcona, para ser punido desta forma tão radical e cruel”.

“Pelo batismo o homem é incorporado na Igreja de Cristo e nela constituído pessoa, com os deveres e direitos que, atendendo à sua condição, são próprios dos cristãos, na medida em que estes permanecem na comunhão eclesiástica a não ser que obste uma sanção legitimamente infligida (Cân. 96). Sendo então dom Azcona, batizado e em permanente comunhão eclesiástica, não somente pela condição de bispo, mas substancialmente por sua história de vida e testemunho de fé, pessoa de deveres e direitos, que direito está sendo concedido a ele?”, perguntam.

Os fiéis destacam que, “para a validade de um ato, requer-se que nele se verifiquem os elementos que essencialmente o constituem, e ainda as solenidades e requisitos exigidos pelo direito para a validade do ato (Cân. 124 - § 1)”. “Não somos testemunhas da aplicação desses direitos e sim testemunhas de uma condenação obscura, injusta e sem precedentes”, dizem.

Os fiéis citam ainda um áudio para os leigos atribuído a dom José Ionilton, divulgado por meios de comunicação locais e, segundo eles, “publicado hoje [10 de dezembro] nas celebrações em todo o Marajó”.

No áudio, o bispo nomeado do Marajó “disse: ‘Achava que não seria conveniente uma mudança agora, especialmente nesse momento em que se aproxima a data que eu iniciava o meu serviço aí na prelazia... e também não era adequado fazer isso agora...’”.

“Nós, o povo marajoara, queremos dizer e afirmar que este assunto nunca entre em questão e ponto final”, dizem os signatários da carta.

Eles se manifestaram “absolutamente contrários a esta sumária decisão de proibição da permanência de dom Azcona em solo marajoara”, por entender “ser este ato injusto, contrário ao testemunho da fé cristã, ao catecismo da Igreja e um contra testemunho de amor ao próximo”.

Os fiéis também citam que dom José Azcona teria sido proibido pelo arcebispo de Belém (PA), dom Alberto Taveira, de celebrar missas na capital paraense.

“Lembramos com saudades as cerimônias celebradas na basílica de Nossa Senhora de Nazaré e testemunhamos a condição deste templo, completamente lotado para ouvir a pregação de nosso bispo. De forma incompreensível, também esse direito lhe é negado através de uma determinação do senhor arcebispo da capital paraense que em um ato de contra testemunho, falta de exercício da humanidade, da fraternidade, da compreensão e do diálogo, o proíbe de presidir a celebração de missas em Belém, desconsiderando integralmente o que foi notabilizado no Concílio Vaticano II, quando afirma que Cristo tornou os bispos sucessores dos apóstolos, participantes da sua própria consagração e missão. E que estes possuem a missão de transmitir legitimamente o múnus do seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos. Que pecado abominável cometeu dom José para sofrer tão absurda punição?”, disseram.

Respondendo se era verdade a proibição de dom Azcona celebrar missas em Belém, desde quando e por quais motivos, a assessoria de imprensa disse que “a arquidiocese de Belém não vai falar sobre o assunto, já que se trata de outra prelazia”.

Dom José Luís Azcona nasceu em Pamplona, Espanha, em 28 de março de 1940. É religioso da Ordem dos Agostinianos Recoletos. Chegou ao Brasil em 1985. Foi bispo da prelazia do Marajó de 1987 a 2016. Mesmo após sua renúncia, continua vivendo na ilha do Estado do Pará.

Em 2009, denunciou casos de pedofilia e exploração sexual de crianças e adolescentes no Marajó por políticos e empresários locais. A denúncia deu origem à CPI da Pedofilia na Assembleia Legislativa do Pará e no Congresso Nacional.

Em 2019, no contexto do Sínodo da Amazônia, foi uma das vozes conservadoras a se manifestar. O bispo emérito não participou do sínodo no Vaticano, mas publicou diversos artigos com críticas ao Instrumentum Laboris, ao sínodo e ao documento final.  Também alertou para o escândalo e a idolatria causados pelo uso de imagens de Pachamama em eventos no Sínodo da Amazônia. Uma das críticas foi feita em 27 de outubro de 2019, durante missa na basílica de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém.

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