21 de dezembro de 2024 Doar
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Missionário no Brasil, irmão de santa Gianna Beretta Molla torna-se venerável

Frei Alberto Beretta | Arquivo pessoal - Eunice Viana

O irmão de santa Gianna Beretta Molla, frei Alberto Beretta, médico, padre e capuchinho, missionário no Brasil, foi declarado venerável ontem (14) pela Santa Sé. O milagre que levou à beatificação de sua irmã aconteceu no Hospital São Francisco de Assis, construído pelo venerável em Grajaú (MA).

“Ele era uma pessoa solidária, caridosa, humana. A santidade dele fazia com que as pessoas se encantassem e o considerassem, como nós ainda consideramos, o nosso santo grajauense”, disse à ACI Digital a dona de casa Eunice Viana, 74 anos, que conheceu frei Alberto Beretta. Ela contou que foi “uma das primeiras que fez a cirurgia de apendicite no Hospital São Francisco e frei Alberto mandou chamar um médico para fazer a cirurgia, que foi muito bem feita”.

O futuro frade nasceu em 28 de agosto de 1916, em Milão, Itália, e foi batizado com o nome de Enrico. A família Beretta deu várias vocações à Igreja: seus irmãos Monsenhor Giuseppe, madre Virginia, irmã canossiana na Índia, e santa Gianna. Pediatra, Gianna foi diagnosticada com um tumor no útero em sua quarta gravidez. Os médicos sugeriram que fizesse um aborto para salvar sua vida, mas ela decidiu seguir com a gestação. Morreu em 28 de abril de 1962, uma semana depois de ter dado à luz seu quarto filho. Foi canonizada em 16 de maio de 2004 pelo papa João Paulo II, que a tornou padroeira da defesa da vida.

Enrico formou-se em medicina em 1942. Por causa da Segunda Guerra Mundial, teve que deixar o noviciado dos capuchinos. Segundo biografia publicada pelo site dos capuchinhos, “caindo o regime, fugiu para a Suíça, onde trabalhava em um hospital e frequentava o curso de teologia”. Ao fim da guerra, voltou para Milão, fez cursos de especialização em medicina e estudou teologia no Convento dos Frades Capuchinhos. “Tinha urgência nos estudos médicos, pois sabia que no Brasil deveria estar preparado para tudo”.

“No final da guerra foi para San Giovanni Rotondo onde, depois de ter servido na missa junto a são Pio de Pietrelcina, teve sua vocação missionária confirmada por ele. Assim, em 1945, foi acolhido como oblato pelos Capuchinhos em Milão. Em fevereiro de 1948 assumiu o hábito capuchinho e em 13 de março do mesmo ano foi ordenado sacerdote pelo Arcebispo de Milão, beato Alfredo Ildefonso Schuster”, diz a biografia do venerável divulgada pelo Dicastério da Causa dos Santos, da Santa Sé.

O vice-postulador da causa de beatificação de frei Alberto, frei Joacy Fernandes, contou à ACI Digital que, “desde muito jovem, Enrico (nome de batismo de frei Alberto) teve contato com os capuchinhos e seus pais eram assíduos frequentadores da igreja dos capuchinhos em Milão”. Mas, ele foi ordenado “sacerdote do clero secular”. Chegou ao Brasil em 1949 e passou a fazer parte da prelazia de Grajaú, atual diocese de Grajaú.

Mas, contou frei Joacy, “acalentou o desejo de se tornar frade e em agosto de 1960, Enrico vestiu o hábito capuchinho em Guaramiranga, no Ceará, e ali fez seu ano de noviciado, emitindo os votos temporários no dia 16 de agosto de 1961. Dali em diante passou a ser chamado de frei Alberto Beretta. Seus votos perpétuos foram em 16 de agosto de1964”.

Em Grajaú, logo depois que chegou, frei Alberto abriu um ambulatório nas dependências do convento capuchinho. “Naquela época, médico era artigo de luxo, que só os mais ricos conseguiam indo à capital”, recordou frei Joacy.

Mas, Beretta sonhava em construir um hospital na cidade. Com ajuda vinda da Itália, em 1950 começou a construção do Hospital São Francisco de Assis, que ficou pronto em 1957. Tudo foi feito “com muita dificuldade, porque naquela época, Grajaú não tinha estrada, o rio ainda era navegável e tinha avião”, contou Eunice Viana.

No hospital, frei Alberto atendia a população de Grajaú e também de cidades vizinhas. “Compadecia-se dos mais necessitados, dos doentes, acolhia todos. Não tinha hora, nem momento, nem lugar, nem sol, nem chuva que o impedissem de atender um paciente”, disse Eunice Viana.

Para frei Joacy, “a vida profissional de frei Alberto foi por ele assumida como uma ‘missão’, segundo a palavra de Jesus: ‘Estive doente e cuidastes de mim’”. “Todos o conheciam e identificavam como um homem de Deus. Muitas vezes mais agia a fé na santidade do sacerdote do que sua perícia científica”, disse.

Frei Alberto “se identificou profundamente com o povo e fazia parte essencial da vida do lugar. Estava presente no coração das pessoas”, disse o vice-postulador.

Eunice Vianna destacou que frei Alberto também tinha “a missão pelo interior de celebrações, de catequizar o povo” e “se dedicou aos índios, ao pessoal do interior”.

“Pelas doenças do corpo chegava à alma de seus pacientes”, disse frei Joacy. Frei Alberto celebrava missa todos os dias na capela do hospital e, aos domingos, “ia para o interior e de lá não voltava sem ter celebrado a terceira Missa dominical em várias comunidades ou povoados, bem como nas aldeias dos índios onde era recebido com muito afeto”.

Assim, dedicava o domingo para distribuir “ao povo de Deus, pobre e humilde, a medicina do Espírito: a Palavra de Deus, os Santos Sacramentos, a Santa Eucaristia. Após sua jornada apostólica encontravam-no à noite à luz da lamparina, no coro da catedral para completar sua oração e seu diálogo com o Senhor”.

Frei Joacy contou que frei Alberto mantinha uma relação próxima com sua irmã Gianna, a quem “constantemente escrevia cartas”. Também formada em medicina, ela pretendia ser missionária no Brasil para ajudar seu irmão e já tinha até estudado português. Mas, “por causa da saúde frágil, teve que renunciar a esse projeto”. Casou-se em 1955 e morreu em 1962. No ano de 1994, frei Alberto participou da beatificação de sua irmã.

O milagre reconhecido pela Santa Sé para a beatificação de Gianna aconteceu no Hospital São Francisco de Assis, em Grajaú, fundado por Alberto Beretta. O caso aconteceu em 1977, quando Lúcia Silva Cirilo deu à luz um bebê morto. Por causa de uma fístula reto-vaginal, precisava de uma cirurgia, que só era possível em um hospital da capital São luís (MA). Uma enfermeira, a irmã capuchinha Bernardina de Manaus, pediu a intercessão da irmã de frei Alberto, Gianna Beretta Molla. Lúcia ficou curada e não precisou passar pela cirurgia. O milagre da canonização de santa Gianna também aconteceu no Brasil, em 2000, em Franca (SP).

Depois de 33 anos de missão no Brasil, frei Alberto sofreu um derrame em 1981, que o deixou mudo e sem movimentos. Por isso, teve que voltar para a Itália, onde ficou sob cuidados dos médicos e dos irmãos capuchinhos por 20 anos. Morreu em 10 de agosto de 2001, em Bérgamo. Em 2008 foi aberto o processo de beatificação junto ao Dicastério das Causas dos Santos.

Para Eunice Viana, frei Alberto “foi uma pessoa fantástica, admirável, uma pessoa por quem temos plena admiração, amizade e devoção”.

Ela contou que todos os dias reza pela beatificação de frei Alberto Beretta e nos dias 10 de cada mês costuma “mandar celebrar uma missa por ele”. “Mas, não tenho mandado celebrar no dia 10 e fiquei com aquilo na cabeça. Pensei: ‘vou mandar celebrar no dia 13 na comunidade de santa Luzia, na festa de santa Luzia’. E ontem, a notícia maravilhosa, eu fiquei encantada com a notícia”, disse.

Eunice contou que a declaração de frei Alberto como venerável “é uma realização e motivo de plena alegria” para Grajaú. No município, lembrou frei Joacy, foi erguido “um monumento em sua homenagem na praça principal da cidade, que agora leva o seu nome”. Além disso, odos os anos, em 10 de agosto acontece uma grande festa em Grajaú em memória de frei Alberto Beretta, com missa e testemunhos.

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