Dec 19, 2023 / 15:49 pm
Um cardeal americano avançou muito em sua vocação ao servir o venerável Fulton J. Sheen no altar. Para outro bispo, ajoelhar-se diante do túmulo de São Pedro foi um momento decisivo. E um arcebispo afirma que a “beleza e majestade” da liturgia da Igreja Católica o ajudaram na sua trajetória espiritual.
Em novembro passado, na assembleia geral dos bispos dos EUA em Baltimore, três bispos americanos contaram as suas histórias vocacionais à CNA, agência em inglês da EWTN News, agência em inglês da EWTN, grupo a quepertence ACI Digital. Cada um deles disse sim a Deus e nunca olhou para trás.
Dom Salvatore Cordileone
O arcebispo de San Francisco, dom Salvatore Cordileone, de 67 anos, disse à CNA: “Sempre soube que queria fazer algo valioso com a minha vida, algo para melhorar o mundo, algo aventureiro e não-convencional”.
O pai de dom Cordileone, Leon, um veterano da marinha, era pescador em San Diego, e o futuro arcebispo passava muito tempo no barco do pai.
Ele contou que havia muitos ex-membros da marinha trabalhando lá e isso fez ele pensar em entrar para o serviço militar: “talvez eu sirva o meu país”, pensou.
Mas houve uma mudança no final do ensino médio e durante o primeiro ano de faculdade, na Universidade Estadual de San Diego, quando ele “se tornou mais sério espiritualmente”.
“Sempre levei minha fé a sério. Eu sempre a pratiquei. Nunca deixei de ir à igreja. Mesmo quando adolescente, eu ia sozinho. Mas depois comecei a ficar mais sério espiritualmente, pensando nas grandes perguntas da vida: 'Qual é o valor de tudo? O que Deus quer que eu faça?’”, contou.
Havia um jovem sacerdote na sua paróquia que Cordileone considerava a sua “inspiração”, acrescentando que “a sua pregação realmente se conectava bem com as coisas com as quais ele estava lidando, tentando refletir” sobre a sua vida.
“Então finalmente encontrei coragem para falar com ele sobre isso”, disse.
O padre enviou Cordileone para um retiro de discernimento num seminário local. “Isso não saía da minha cabeça, então eu sabia que precisava entrar no seminário, pelo menos tentar”, disse ele.
Dom Cordileone disse que não estava convencido da sua vocação quando entrou no seminário, acrescentando: “demorou alguns anos”. “E não fiquei em paz até aceitar isso”, acrescentando que isso trouxe a ele “uma sensação de liberdade”.
Esse sentimento de liberdade foi uma confirmação para dom Cordileone de que Deus o chamava para ser sacerdote.
Ele também lembrou que quando era criança e jovem, a eucaristia e a missa foram “fundamentais” para ele. “Quando criança, acabei percebendo que era diferente porque gostava de me vestir bem e ir à igreja”.
O arcebispo disse que foi a “beleza e a majestade” da liturgia da Igreja e a frequência do sacramento da reconciliação que lhe foi incutida desde muito jovem o que o ajudou no seu caminho espiritual.
Dom Cordileone foi ordenado sacerdote em 9 de julho de 1982. Foi ordenado bispo auxiliar de San Diego em 21 de agosto de 2002, nomeado bispo de Oakland em 2009 e nomeado arcebispo de San Francisco três anos depois.
Cardeal Sean O'Malley
Para o arcebispo de Boston, cardeal Sean O'Malley, a sua vocação ao sacerdócio surgiu de duas bênçãos: a sua “família cheia de fé” e uma paróquia de “sacerdotes maravilhosos”.
O cardeal O'Malley, de 79 anos, contou que ele, seus pais e seus irmãos estavam profundamente envolvidos na vida da paróquia de São João Evangelista, em Lakewood, Ohio, e que ele se tornou coroinha aos seis anos.
“Cresci com a missa antiga em que os padres não podiam celebrar sem coroinhas e, como morávamos a apenas duas portas da igreja, o pároco recrutou-nos. Então fui servir com meu irmão mais velho, e ele me ensinou aquelas orações em latim quando eu tinha seis anos”.
O cardeal O'Malley descreveu a vida paroquial como “vibrante”, acrescentando que “a eucaristia era o centro dela”.
Quando era criança, o tio do cardeal era padre e o batizou. Isso, juntamente com os “padres maravilhosos da paróquia, que estavam muito próximos das famílias e das crianças”, causou uma grande impressão no futuro cardeal.
Um desses clérigos que desempenhou um papel em fomentar a vocação do jovem O'Malley foi o venerável Fulton J. Sheen, que costumava visitar a paróquia durante uma semana todos os anos por causa de sua “amizade muito próxima” com o pároco.
O cardeal O'Malley contou que durante as visitas do arcebispo Sheen à igreja, ele pregava um sermão todos os dias. Na época, a pratica era pregar na missa só aos domingos.
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“Ficava impressionado como ele conseguia pregar de uma forma que se conectava com todos. Quero dizer, éramos crianças, mas ficávamos ali sentados e provavelmente não entendíamos metade do que ele dizia, mas ele tinha uma energia e uma eletricidade. Ele se conectava com você. Era realmente surpreendente”, disse ele.
O cardeal O'Malley também contou que se sentia “muito impressionado” ao ver o arcebispo Sheen rezar uma Hora Santa diante do Santíssimo Sacramento na sacristia antes da missa. Ele até se lembra do padre lhe dizendo: “O bispo está fazendo a sua Hora Santa; não o incomode".
“Em seus escritos aos sacerdotes e seminaristas ele sempre enfatizava a importância disso em sua espiritualidade. E a Hora Santa sempre foi muito importante para mim também, como o momento diante do Santíssimo Sacramento para observar e rezar”, acrescentou.
O cardeal O'Malley, frade capuchinho, contou que um dia seu irmão mais velho ia fazer um retiro num mosteiro capuchinho e ele o acompanhou com seu pai. O futuro cardeal conheceu um frade alemão idoso que trabalhava num jardim e conversou muito com ele antes de voltar para casa.
“Quando íamos para casa, meu pai disse: 'Aquele velho frade é o homem mais feliz do mundo'”.
A princípio, o cardeal O'Malley pensou: “Ele não tinha uma esposa bonita, não tinha um bom carro, não tinha roupas bonitas. Que trabalho tão chato, cavar aquele jardim”. “Mas instintivamente, eu sabia que o que meu pai disse era verdade, e ele irradiava paz, felicidade e bondade, e eu disse: 'Eu gostaria de ser feliz assim.' E isso me fez começar a pensar que existe outro caminho para a felicidade”.
Depois de fazer o ensino médio numa escola dirigida pelos capuchinhos na Pensilvânia, o cardeal O'Malley entrou para o Seminário St. Fidelis na mesma cidade. Ele foi ordenado sacerdote capuchinho em 1970, ordenado bispo em 1984, nomeado arcebispo de Boston em 2003 e criado cardeal em 2006.
“Sou sacerdote há 53 anos. Nem sempre foi fácil, nem sempre foi divertido, mas tem sido maravilhoso e eu faria isso de novo num piscar de olhos”, disse ele.
Dom Earl Fernandes
O bispo de Columbus, Ohio, dom Earl Fernandes, de 51 anos, é bispo há mais de um ano, padre há mais de 20, e disse que “não se arrepende”.
Criado numa família católica fiel em Toledo, Ohio, algo “despertou” em dom Fernandes enquanto estudava na Europa, durante a faculdade, participando na missa diária, disse ele à CNA.
Dom Fernandes já havia manifestado interesse pelo sacerdócio no ensino médio, solicitando que materiais vocacionais fossem enviados para sua casa durante uma aula em sua escola secundária católica. Na oitava série, ele e seus colegas tiveram que prever o que cada um deles seria daqui a 50 anos, e “os meus previram que eu seria o primeiro papa americano”.
Enquanto estudava no estrangeiro durante o Natal de 1992, dom Fernandes visitou Roma e o seu coração começou a “bater forte” quando viu os cemitérios de antigos papas.
“E então cheguei ao túmulo de são Pedro e me ajoelhei. Eu soube naquele momento para o que Deus estava me chamando e, ainda assim, tive medo”, disse ele.
Apesar de sua experiência, ele voltou para casa, inscreveu-se e foi aceito na Faculdade de Medicina da Universidade de Cincinnati. Sua mãe sempre o incentivou a se dedicar à área da Medicina, assim como seu pai. Três de seus quatro irmãos são agora médicos.
“Minha mãe também nos dizia, vamos rezar para que você seja um bom menino, um menino alto e médico, assim como meu pai. Mas percebi que, no final, você pode fugir de Deus, mas ele vai lhe perseguir”, disse.
Dom Fernandes continuou participando da missa diária e um dia foi a uma igreja onde havia dois padres italianos idosos, um com 85 anos e outro com 75 anos. Dom Fernandes percebeu que estes padres eram “fiéis e felizes”. “E pensei: ‘Eu poderia ser tão velho, ser padre e ser feliz’”.
Finalmente decidiu deixar a faculdade de medicina para discernir o sacerdócio em Roma. Depois de um ano de discernimento, entrou para o seminário de Cincinnati.
Dom Fernandes foi ordenado sacerdote da arquidiocese de Cincinnati em 18 de maio de 2002 e recebeu a ordenação episcopal em 31 de maio de 2022.
Ao recordar a sua trajetória vocacional, Fernandes disse: “Deus estava claramente me chamando para ser sacerdote. Todos os sinais estavam lá."
Dom Fernandes mencionou que se sente constantemente feliz e sorri frequentemente.
“Bem, essa é a alegria de ser padre; a alegria de me saber amado por Deus e que Ele está presente e próximo. “Isso realmente me traz muita alegria e não posso deixar de compartilhar essa alegria com as pessoas ao meu redor”, concluiu.
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